quarta-feira, julho 20, 2005

Amigos distantes, inimigos ocasionais.

Pô, meu velho! Põe um rock aí!

Rock? Tipo o que?

“Ah, Red Hot ou Foo Fighters, tem?”

“Deixa eu ver... Humm... É esse?...”

“Aê, doido! Massa esse som...”

“Adeus, Vanessa da Mata...”, resmunguei.

“Falasse o que?”

“Não, nada...”


E lá se foi minha nova paixão musical, Vanessa da Mata, dar lugar ao rock do Red Hot. Este é Marcus Vinícius, meu sobrinho. Tem apenas 9 anos que mais parecem 20. Um velho. Típico pré-adolescente urbano. Mora em Recife, num apartamento ladeado por asfaltos e violências mil. Filho único cercado de adultos. Esse ano passou a ir sozinho à escola, sabe o roteiro de quase todos os ônibus, e já boicotou um deles por não ter gostado do perfume de um cidadão que sentou ao seu lado: “Aquele ônibus eu não pego nem se vier vazio, meu velho!”. É uma figuraça. Passa as férias sempre aqui. Casa grande, vasto quintal, árvores a subir, pedais a girar, uma festa. Faz algum tempo que cismou em não cortar o cabelo, e atualmente ostenta uma vasta cabeleira cacheada e loira, para a inveja do tio que sempre tem mais cabelos nas fotos antigas. O cara nasceu com essa difícil missão de ser loiro, bonito, alto e de olhos verdes, que chato! Já passou de 1 metro e meio faz tempo. Hoje lhe habita as idéias o velho dilema infantil, o de ser cineasta ou astrônomo. Vive a trocar cartas e bilhetes amigáveis com Lucas, seu amigo distante: “escolha bem os seus amigos”, “obedeça aos seus pais”, sempre nessa linha de bons conselhos. Por sua vez, o daqui responde com desenhos de super-heróis e monstros imaginários, posto que ainda não domina por completo o dom da escrita, e tem uma certa vergonha de se expor.

Este é Lucas, sete anos. Nasceu aqui, ou praticamente. Sei que o conheço desde o segundo, terceiro dia, assim que voltou da maternidade. Lembro-me daquele ar bobo de pai e mãe, o ar de promessa que todo bebê tem, e desperta. Criou-se aqui, literalmente. Sua mãe trabalha conosco desde menina, devia ter 16, 17, quando começou. Namorou. Casou. Pariu. Só ele. E naturalmente participou do crescimento das meninas da casa, sem falar da mais nova, que viu nascer. Sempre fiel. Hoje elas têm 18 e 20 anos. Ele segue por aqui, correndo pela casa, pelo vasto quintal com seu porte mirrado e magricela. Falante e gesticulador. Uma figura engraçada. Gosto de conversar com ele, isso quando está sério, afim de papo sério. Já travamos altas conversas sobre formigas, árvores e morte. Foi ele mesmo quem me disse outro dia que cachorro tem alma, e que quem morre vai pro céu, e que o céu tem muitas árvores. Também é dado a usar expressões e palavras bem interessantes, como por exemplo, o verbo “deslembrar”, o que explicou, não necessariamente com essas palavras, como sendo o ato de esquecer alguma coisa. E lá fui eu consultar o Houaiss: “verbo pouco usado, transitivo direto e pronominal”. Viva e aprenda. Traz as pontas dos dedos marcadas por ferroadas de formigas; propositalmente põe o dedo a tapa. Não teme inseto algum, ou não temia, até o dia em que surgiu no quintal um “ser” que o desbancou. Deu escândalo. Gritos pavorosos que bem podiam anunciar um leão: era um zig-zag!

E de seis em seis meses dá-se o encontro. O que tem sete parece ter menos, e o que tem nove parece ter mais. Um magrinho e serelepe; outro alto com pinta de gordinho, valendo ressaltar que já faz dieta e se preocupa com a barriga. Olham-se, cumprimentam-se, trocam as primeiras impressões, mostram-se novidades mútuas, e nota-se no menor certa idolatria silenciosa. Na manhã seguinte bicicleta e futebol, desenho na tv e correria. No outro dia, ânimos exaltados. Bicicleta, briga, bola, xingamentos, distância. Um provoca, outro revida. Encanto quebrado, um com saudades de Geraldito, seu hamster; outro do sossego de ser só naquele mundinho particular. Assim passam as férias, num típico caso de amor e ódio inocente que servirá de combustível para conversas futuras, quando ambos já tiverem os primeiros fios de barba, ali, naquela estação em que o trem da vida pára no afã das fugazes revisões, quando o passado vira graça. E eu, vou querer mesmo é estar presente, já que fui juiz de várias pendengas infantis. Presenciar entre sorrisos as reminiscências da vida de dois amigos que viveram como cão e gato na infância, e foram saudosos na distância, e naturalmente ranhetas na presença. Amigos distantes, inimigos ocasionais.

10 comentários:

Diógenes Pacheco disse...

Ê fase gostosa! :)
Bate mesmo uma saudade, quando me dou conta de que já vejo os primos pequenos e o sobrinho dessa perspectiva...

[]´s

Marina disse...

Ziiig Zaaag...... Sai! Sai!
Ziiig Zaaag...... Sai! Sai!
Tirem esse inseto do meu cabelo!
Affe! Pera... Deixa eu me recompor...
...
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Aê, doido, achei da hora seu texto, tá ligado?!
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Muuuu! (agora sou eu)
Lindo lindo lindo seu texto!
Caiu bem pro dia de hoje que dizem que é dia do Amigo! (Ah, bom dia do amigo pra todos!) :P
Amei! E minha mais nova paixão musical é a Vanessa também.. Acho que por influência sua! rsrs..
Enfim... Te adoro, amigo! ;)

Ah, e depois de ontem, posso até dizer que somos assim também: Amigos distantes (infelizmente) mas inimigos ocasionais (de vez em quando né! rsrsrs)
...
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Beijos, meu velho! :P

Leonardo Caldas disse...

taí... eu tô me descobrindo fã das coisas que você escreve... assim, devagarinho (mas provavelmente um processo sem volta), como toda relação fã-ídolo que se preza tem de ser :))

Anônimo disse...

Como é gostoso sentir você em cada linha...SALVE as quartas-feira!!

Anônimo disse...

ssssssssssss

Anônimo disse...

Oi,pessoal eu sou Marcus, eu e meu colega nos divertimos muito com essa cronica. Queriamos que voces escrevessem mais para todos nós nos divertirmos mais ainda. Abraços.

Anônimo disse...

Parabéns Múcio. Sem palavras para explicar o quão foi emocionante ter lido este texto nesta tarde.

Classificação: 5 estrelas

Anônimo disse...

Sempre me vem um suspiro ao final dos seus textos...
Tem uma galera montando o fã-clube... tô lá, viu?!

Ah! Eu adoraria tê-lo ao meu lado no ônibus... já imaginou uma guerra de desodorantes?!

Beijo grande!

Anônimo disse...

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