segunda-feira, setembro 12, 2005

Moça Caipira

O texto é da minha querida lea. Gosto da forma como ela diz as coisas... e acho que no final das contas é o mesmo o cheiro de mato que ambos sentimos...

As pessoas que me conhecem há muito tempo, sabem que sou uma pessoa rural. Gosto da roça. Gosto dos meus irmãos que caminham com os pés no chão, literalmente. Que usam roupas rotas durante a semana, enquanto as domingueiras estão curtindo na alfazema, pegando aquele cheirinho de roupa limpa, própria para “ver” Deus.


Gosto deste povo de fé. Seu Zé Augusto, compadre da minha tia, denominava as chuvas pelos nomes dos santos do mês que elas chegavam. Quantas vezes em minha vida eu já ouvi: “já vai chegar a ‘trivoada’ de São José” E os reisados? As leituras do Santo Ofício. A chegada da Semana Santa era um evento. Nestas festas os vizinhos compartilhavam as comidas. Era a parte de um porco para um, pedaços fartos dos mais variados tipos de bolo para outro. Digamos que um socialismo inconsciente.

Gosto das mãos calejadas desde a mais tenra idade, que de tenra não teve nada. A maciez que conheceram foi da farinha molhada no café. Alimento de todas as manhãs que lhes dá sustância para agüentar até a chegada do meio-dia, quando o sol a pino determina: é hora de parar um pouco para comer, para descansar e logo dar continuidade ao serviço. Até o anoitecer.

Gosto de ouvir a zoada da roça. É um barulho específico do silêncio. É algo inexplicável. Mas garanto: dá para ouvir. Chega a ser uma canção de ninar. O piado dos pintinhos é algo fantástico. Quem se acostuma até consegue identificar quando eles estão desgarrados da família. É um pio desesperado. O chiado de panela de pressão acompanhado pelo crepitar da lenha queimando. Quando chove é a glória! Os pingos grossos caindo no telhado sem laje. É bonito contemplar o cair da chuva em uma roça. Sinal que ali vem fartura. É uma felicidade geral. Mas lá as trovoadas são mais fortes, são mais vivas.

E o cheiro do cafezal florido? Do curral? Do café fresquinho? (não tem coisa mais gostosa que café de roça acompanho de castanhas de caju assadas) E a cozinha de lenha? O cheiro do feijão cozido, temperado com ervas cultivadas no próprio quintal ?

Sinto tanta falta deste universo... Das vivencias da infância. São as lembranças que às vezes me fazem sorrir. Ficar relembrando o que já foi e que não tem chances de voltar. Isto é parte de mim. Pedaço apartado de mim.

“os óio se enche d’água, que até as vista se atrapaia, ai, ai ” (na voz de Pena Branca e Xavantinho)

Lélia Sampaio é Radialista - Profa. de Língua Portuguesa e Espanhola (UEFS) - Editora de Pautas de Reportagens (TV SUBAÉ/Feira de Santana/BA), e é alguém que sei que me ama e que um dia ainda vai conseguir me ver sorrir de forma verdadeira.

3 comentários:

Diógenes Pacheco disse...

Ê vida gostosa. Dá vontade, viu?
Quase tão grande que, se não fosse a força da inércia, talvez fosse até capaz de me tirar dessa nóia de cidade grande.
Ê, mundão...

[]´s

Vinicius disse...

Bem que eu queria ser filho de interior. Viver essa vida de verdade, sociedade e felicidade.

Eu só conheço o concreto, o asfalto.

Marina disse...

Legal!
Por esse ângulo eu esqueço dos mosquitos que costumam perturbar durante a noite... :P
:**