domingo, janeiro 22, 2006

Forrest Gump

Lá onde eu trabalho, eu tenho um apelido, dentre tantos que eu já ganhei: Forrest Gomes. Claro que não é preciso explicar sua origem: eu sou um contador de Histórias. E histórias com H maiúsculo, porque tudo o que eu conto é verdade. São coisas que aconteceram comigo de verdade, por mais esdrúxulo e impossível que seja.

Contar histórias não é relatar um acontecimento: é reviver quantas vezes forem contadas, as histórias, cada momento outra vez. E sem poesia, sem lirismo e elementos lúdicos, uma história é apenas um relato jornalístico de qualquer acontecimento. E aí a história não tem graça e ninguém quer ouvir você.

Lá onde eu trabalho, ninguém acredita muito nas minhas histórias. Léo já ouviu dezenas delas, nas manhãs em que dividíamos o carro, quando trabalhávamos vizinhos um do outro. Ele pelo menos acreditava.

Certa feita, eu estava tomando uma cerveja com dois amigos num posto de gasolina, quando eu ouço ao longe um sotaque hispânico. E eu, com a minha mania de falar espanhol, fui logo puxar assunto com a garota que estava por lá. Por acaso, dona de uma casa de putaria em Sevilla. Ela estava com outros dois amigos e terminamos a madrugada num hotel vagabundo, os seis, bebendo e fazendo filho. Um de cada vez, tentou fazer um filho nela. E no final de tudo isso, eu ainda dei uns murros num dos caras, que resolveu virar namorado da dama e criou problema com todo mundo.

Numa história dessas, logo de cara, ninguém acredita. Contada por mim, cheio de elementos teatrais, muito menos. Porque eu falo pela boca, pelos olhos, cotovelos e mãos. Meu corpo fala, contando comigo as minhas histórias.

No dia do meu aniversário ano passado, eu estava indo para um cliente com um colega de trabalho, quando um louco cortou nosso carro. E ele tentou fazer de novo, barrado pela astúcia do meu colega, bom motorista. Revoltado, o tal louco resolveu tirar satisfações logo comigo e eu parti logo para um vá tomar no c* e um seu viad** filho da pu**. Quando eu menos espero, ele cola o carro dele ao lado do nosso e aponta um revolver.

Eu, munido de uma coragem idiota, mandei ele atirar e xinguei ainda mais, o valentão armado. Dei um tapa forte no capô do carro dele e coloquei a mão para trás, para puxar minha identidade (que por acaso é federal). Não sei por que, talvez ele tenha achado que eu estava armado ou era autoridade (ele não viu a identidade), e freou ficando atrás do nosso carro. Imediatamente eu peguei o celular, liguei para a polícia, dei a placa, modelo e localização do carro dele que, ao perceber, deu meia-volta e desapareceu.

E nessa história, só acreditaram porque eu tinha testemunha.

Eu sei que fui burro, porque brigar no trânsito nos dias de hoje, é querer morrer. Desafiar uma arma é ainda algo mais idiota, mas eu ainda estou aprendendo a me controlar. No final das contas eu não sei o que aconteceu, mas tenho a placa, modelo e cor do carro. Só falta a localização.

Eu estava em Fortaleza a trabalho. Resolvemos ir ao Beach Park. Estávamos em 5 e o brinquedo só permitia de 3 em 3. Ou seja, eu sobraria, porque eu não tinha outras duas pessoas para irem comigo.

Não sei de onde, aparecem duas garotas lindas e me perguntaram qualquer coisa que eu não lembro. Mas lembro que eu falei que só podia ir de 3 em 3 e elas quase desistiram de ir, quando eu disse que não tinha com quem ir e fomos juntos.

Conversa vai, conversa vem, descubro que ela estava hospedada no mesmo hotel que eu, em férias com a irmã. Por aqui eu já posso terminar a história e deixar que vocês concluam. Até porque não é todo dia que uma coincidência desse tamanho acontece.

E eu não sei por que fui escolhido pelo destino para viver histórias estapafúrdias. Porque se eu fosse um relator normal de histórias, seguramente acreditariam nelas. Mas eu tenho que contar como se estivesse numa peça de teatro. Aí já viu...

Indo para Fortaleza eu vejo logo na primeira fila o cantor Fagner. Entrei numa boa e tomei meu lugar. Não sei porque cargas d’água eu resolvi cantar comigo mesmo uma música dele. Escolhi a música “borbulhas de amor”, baixei a cabeça e comecei a cantar baixinho essa música que eu tanto gosto. Mas porque eu sou diferente, resolvi fazer uma imitação dele, fechando os olhos e mexendo a cabeça, fazendo a careta que ele costuma fazer enquanto canta.

Não sei porque resolvi olhar para o lado e vi alguém de calças pretas em pé, ao meu lado. Olho para cima e quem eu vejo, me olhando com um sorriso sacana no rosto?

Se eu ficasse quieto, provavelmente não passaria pelo constrangimento. Mas aí também não seria eu...

E nessa história, mais uma vez, só acreditaram porque eu tinha testemunha.

E assim eu sigo contando as minhas histórias, por onde quer que eu vá.

4 comentários:

Leonardo Caldas disse...

sabe porque que é tão fácil acreditar nas coisas que você fala, velho amigo?
é que nós somos, cada qual a seu jeito, tão teatral um quanto o outro!
você não acha mesmo que eu esqueço de você, todo gestos e cinzas de cigarro, contando histórias e cantarolando renato russo, não?
e, putz... com o tanto de coisa que vive me acontecendo, é a coisa mais fácil do mundo crer que aconteça com mais gente!
rapaz... essa da gringuinha já é antológica! até hoje rio sozinho a cada vez que lembro disso!!
e as 7 portas nunca mais serão as mesmas!! ;))

Marina disse...

Essa do Fagner foi ótema! :P

mg6es disse...

Grande Vini, hilário teu texto, e quantas histórias. Espero um dia tomarmos umas entre historias e risadas. Agora, será que Léo acreditava? rsrsrsrs

"fazer menino", foi ótimo!

[]´s

Diógenes Pacheco disse...

"E eu não sei por que fui escolhido pelo destino para viver histórias estapafúrdias."
Tá reclamando, é? Algumas dessas, envolvendo mulheres, não me aborreceria que eu estivesse no seu lugar... :)

[]´s