quarta-feira, abril 12, 2006

Minha nação colorida


Vem de África esse som que ecoa pelas esquinas, que faz da cidade um só ser. Vem de longe esse canto, esse lamento de um lar distante, da parte perdida, da terra-mãe que ficou para trás. Um movimento multicolor que invade as ruas, tal qual um oceano de gente e vozes, e reverbera pelos olhos que, num misto de encanto e êxtase, assistem à tal manifestação da beleza viva, desse palpável sentimento que salta do abstrato para o real num passe de mágica. Um serpentear de corpos que segue evoluindo naturalmente, num frenesi movido pela alegria e força de um povo bravio, um povo que nunca fugiu à luta.

Vem no baque solto, a confusão alegórica que banha o asfalto quente, o suor que escorre no rosto alegre de lanceiros, reis e rainhas, negros e livres, e ao alcance das mãos. Vem do Maracatu toda a poesia e fascinação, que enchem o espaço com sua mistura de ritmos espetaculares. Chocalhos que soltam seus gritos desconcertantes; frenéticos tambores que viram malabares manipulados por ágeis pares de mãos. Gonguês e ganzás que mais parecem murmurar segredos, se harmonizam com os versos rimados das marchas; com os sambas que cantam cores e dores; cantam Mateus, cantam Catirina; reverenciando seus deuses e santos, num misticismo eloqüente.

Vem nas ruas o Elefante, o Leão-Coroado, o Estrela brilhante; vem o próprio Recife desfilando para si, numa inerência escancarada. Vem a alegria em forma viva, em cores, em sons. Vem a vida passando na janela, a vida saindo pelos poros, a vida escorrendo na testa. Vem o Maracatu das ruas com seu baque livre, encantador, seu baque solto. O Maracatu Rural, o da terra batida, do chão dos engenhos de cana, da alma negra do homem, em seu colorido atraente, sua alegria nata. É Pernambuco pulsando no peito. É a cultura correndo nas veias.

Um comentário:

Luana disse...

Um espetáculo ma-ra-vi-lho-sa-men-te narrado... Pelo melhor!!

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