quarta-feira, novembro 23, 2005

Teatro dos vampiros


Sou uma espécie de telespectador forçado. Não, não odeio a televisão em si. Fato é que, por via das circunstâncias, atualmente divido o quarto com minha mãe, e, estando lá, impera a Globo em tempo integral para o seu bel prazer. Ela merece. Tudo bem que há os programas tragáveis, como o Fantástico, Altas Horas, os telejornais (apesar da parcialidade velada), e as novelas, que me fazem rir. Já fiz a experiência de desligar a minha tv, e consegui. Foi assim que descobri que um bom livro, uma boa conversa, ou um pequeno rádio me bastam, com notícias, e, claro, músicas.

Da Globo em si tenho certa reserva, mais por conta da sua sede de disseminação que por outros vícios. Lembrar que o maior coronel da Bahia, ACM, detém seu poderio sob sua chancela me enoja. Saber que esse poderio teve berço no regime militar e se consolidou com sua gestão como ministro das comunicações de Sarney. E mais: saber que sua afiliada na Bahia serve de base para o curral do dito politiqueiro, me enoja muito mais.

Aqui, debaixo do meu nariz tenho a Gazeta de Alagoas, afiliada pertencente ao não menos famigerado, Collor de Mello. A origem deste poderio, diga-se, vem de bem antes, quando Roberto Marinho ainda engatinhava nesse pântano. Assis Chateaubriand que o diga. Verdade é que o senhor Arnon de Mello, pai do dito, também foi político, medíocre mas foi, visto que seu ato mais vultoso foi o assassinato de um outro senador dentro do plenário, em Brasília, na frente da família do mesmo. José Kayrala, senador pelo Acre, fazia seu discurso de despedida. Arnon, entrou no plenário armado para atirar num seu desafeto, o senador Silvestre Péricles de Góes Monteiro, errou o tiro e matou Kayrala. Hoje a Gazeta faz as manobras políticas locais para agradar seu comandante. E pertence ao grupo um jornal habituado a atropelar a língua pátria.

E assim, entre um intervalo e outro, foi que me deparei na segunda-feira passada com uma reportagem digna de aplausos, porém, muito menos pelo veículo, já que fazia seu papel “social”. Trata-se de uma iniciativa do Comando Militar do Nordeste, sediado em Recife, com o intuito de levar às populações carentes, um pouco de cidadania palpável. Junto com alunos da UFPE, os militares realizam exames médicos de toda sorte, fornecem remédios, documentos, perfuram poços artesianos, e, fazem até casamentos. A própria Globo faz isso com o Sesi, mas, o interessante foi ver o Exército fazendo isso, o que, num país de paz (e de fome) como o nosso, é muito mais proveitoso que gastar milhões em operações fictícias. Conheço bem a estrutura física do CMNE, posto que prestei serviço militar obrigatório num quartel que fica na mesma área do mesmo. E pude ver algumas vezes, nos quintais extensos e sombrios, alguns “alojamentos” que serviram de “apoio” ao DOPS em Pernambuco, num tempo em que o Exército matava, ou batia nos filhos deste solo. Hoje ele assopra. Já não era sem tempo.

Ps: A única cidade escolhida pelo projeto em AL, Senador Teotônio Vilela, tem um IDH vergonhoso, porém, ostenta o nome de um ícone da democracia, e que deixou um filho homônimo, e também senador, mas, que talvez não tenha tempo para se envergonhar disso.


Um comentário:

Anônimo disse...

Desta vez não dá pra não me manifestar meu caro Múcio, mas vamos por partes:

PARTE I : Sobre a função da televisão tens muita razão em criticar a maioria ds programações existentes, mas lembre caro amigo que são mil'hões de pessoas que "exigem" esse tipo de programação, já que um canal de veiculação é uma empresa e como tal precisa de rendimentos portanto precisa de público! Mesmo quem faz um trabalho alternativo (como eu)tem que rebolar para conseguir se manter de pé.Em relação às notícias, nós somos reféns de um sistema de poder, extremamente perigoso para os que se atrevem a desafia-lo de frente. Jornalismo hoje, é uma profissão de risco! Existem vários debates para se melhorar o conteúdo das emissoras, mas é uma luta ingloria.
já que a mídia é uma maravilhosa fábrica de opiniões e as grandes organizações estão em mãos de políticos e coronéis mostra a dificil situação.

Ihhh...o tempo voou,e eu ainda tinha muitass coisas pra dizer rsrs

Beijos meu Múcio

MARILEY