quarta-feira, setembro 26, 2007

Cliques de paixão

Seis meses de conversas. MSN. SKYPE. ORKUT. Suas vidas virtuais estavam entrelaçadas. Ela já tinha se mostrado em inúmeras fotografias. Ele ainda era um mistério. Mas não importava, porque o amor é cego. Ela o achava inteligente, honrado, corajoso e bom de cama. Não há como se saber isso de alguém sem ir às vias de fato, mas ela sabia. Percebia no tom de falar e no breve suspiro de hesitação que ele usava antes de se despedir.

Em tempos de internet, seis meses é uma eternidade. Pessoas se apaixonam e desapaixonam em algumas horas. Seis meses era uma vida inteira. Tinha chegado a hora de se encontrarem. Ela cheia de sonhos. Ele cheio de planos. Encontraram-se em um café no shopping. Ele maravilhado. Ela surpresa. Ela não o tinha idealizado daquele jeito. Parecia muito mais velho do que a idade que dizia ter. Era também muito mais baixo.

O encontro era para uma torta, um café e um bom papo. Mas ela custou a se sentir a vontade. Definitivamente não era o que ela esperava. Enquanto comia, lembrava de ter respondido a ele no auge da paixão virtual: claro que se rolar química entre nós eu vou com você para um lugar mais reservado.

Terminaram a torta e ele levantando-se a chamou para ir com ele. Sem jeito para dizer não, lembrando das inúmeras vezes que anunciou aos quatro cantos que a aparência não importava, ela foi. Então aconteceu. Sexo por sexo, a paixão que achou sentir tinha acabado repentinamente. Mas o sexo foi muito bom. Ela sentiu um prazer extasiante. Não estava, afinal, completamente errada sobre ele.

Chegou em casa e teve a impressão que todos sabiam que ela transou no primeiro encontro real. Ninguém levaria em conta os seis meses de romance virtual, tinha certeza disso. Foi para o seu quarto com um sorriso imperceptível no rosto. Não atendeu no dia seguinte o telefonema do seu, agora, amante real. Nem no dia seguinte e seguinte e seguinte. Continuava a mesma, apenas mais safada e menos hipócrita: não fingia mais acreditar que o amor era cego.

domingo, setembro 23, 2007

talking 'bout...

Minha geração envelheceu rápido.

Os cabelos brancos não combinam com a lisura das faces

pisou fundo

E se divertiu rápido demais

Minha geração envelheceu rápido

Estudamos na pressa

E comemos na pressa

E descemos os degraus de dois em dois

Emendamos um destino no outro

Os grãos de areia correndo

Feito potros

Nunca me ocorreu que não teríamos mais

O que fazer depois.

Minha geração envelheceu rápido

Nos atiramos das bordas do fim das coisas - Uns completos insanos.

Um novo fim é um novo começo

-dizíamos-

precisamos ter valor

precisamos seguir em frente

somos um bando de velhos valentes

com apenas vinte anos.

sexta-feira, setembro 14, 2007

Baianada dos endereços.

Salvador tem uma peculiaridade no nome das ruas (sobretudo das avenidas). Tentando explicar de uma forma básica: às vezes o que parecem ser várias ruas tem um só nome, portanto formalmente é uma rua só. Por outro lado, determinadas ruas são claramente uma coisa só, mas mudam de nome no meio, sendo, portanto, formalmente, mais de uma rua.

Por exemplo: se você sobe a ladeira para a Federação, logo depois do acarajé da Dinha, você estará entrando na Avenida Cardeal da Silva. Não mais que de repente, você já estará, sem entrar em nenhuma curva, balão, retorno ou conexão, na Caetano Moura, que por sua vez é seqüência diretíssima da Ladeira do Campo Santo. Ainda tem a Padre Feijó ligada à ladeira quase que diretamente, se bem que um balãozinho meio enviezado, que na verdade é conexão com a rua da reitoria, pode até dar a desculpa (esfarrapadíssima) para a mudança de nome, neste caso. Ou seja: quatro ruas (formalmente estabelecidas, com placas, logradouro cadastrado nos Correios e CEP) que, na verdade, são uma coisa só. E isso acontece em vários lugares – não vale a pena ficar citando todos, mas a Garibalde vira ACM e depois Tancredo Neves – só para dar outro exemplo.

Na outra ponta da moeda, estão as avenidas que parecem ser várias coisas diferentes, e nunca mudam de nome. Bom exemplo é a avenida sete, que começa lá no Pelourinho, passa pela Piedade, Campo Grande, Vitória, e quando você está descendo a ladeira da Barra – conhecida como “Ladeira da Barra” – formalmente você está na Avenida Sete, ainda. Tem também a Avenida Paulo VI, que começa pertinho da Orla da Pituba, sobe uns bons dois quilômetros como avenida de calibre, depois faz uma conexão com várias coisas – sendo que uma delas é uma ruazinha perpendicular a esta avenida original, que não é outra coisa senão: Paulo VI. E essa ruazinha se embrenha pelo Caminho das Árvores adentro, fazendo diversas curvas e conexões, sendo que no finalzinho se alarga de novo e vai parar na região do Iguatemi, ainda sendo Paulo VI.

Se a idéia de dar nomes às ruas é facilitar a localização, esse tipo de idiossincrasia não ajuda nem um pouco. Não sei se ocorre em outros lugares, mas se não ocorrer, é até algo que posso aceitar se chamarem de "Baianada"... :)

[]´s

(Escrevi qualquer coisa sobre o senado no Baiano. Não coloquei aqui para não repetir o assunto.)

quarta-feira, setembro 12, 2007

Senado Brasileiro

Nojo
Asco
ojeriza
Repugnância
Repulsa
Náuseas
Enjôo
Mágoa
Pesar
Dor
Aversão
Ódio
Antipatia
Desprezo
Rancor
Enfado
Engodo
Negaça
Embuste
Logro
Engano
Desilusão
Tapeação
Maldade
Sacanagem
Cilada
Armadilha
Emboscada
Tocaia
Arapuca
Ardilosidade

Agora escolha o adjetivo e brade aos quatro cantos sua indignação. Se bem que hoje tem jogo do Brasil, quem vai se preocupar com Renan ou com a corja de velhacos sacripantas, vis pusilânimes abjetos, que se utilizam do covarde manto do mistério para manter a mixórdia como ela deve ser?

Meu silêncio jamais será a melhor resposta. Nenhum silêncio num momento como este é bom, mas nosso povo só tem pulmões para berrar mais um gol da seleção. Enquanto ficamos nós, minoria revoltada, imaginando novos adjetivos para desqualificar aquilo que por si só não tem qualquer qualidade.

Pois bem, sinto mais uma vez vergonha e revolta. Vergonha de ser brasileiro. Vergonha por saber que a capital do Brasil é distante demais do protesto, do povo. Revolta por saber que nada posso contra o sistema, contra a velada ditadura que insiste em extirpar por meio da democracia nosso direito de viver num país honesto, decente, digno e decoroso.

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