domingo, abril 30, 2006

Enchendo lingüiça

Cada dia tenho menos idéias para registrar para vocês aqui do "Digitais". Enquanto ouço um pouco de Black Sabbath, sigo pensando em novas idéias ou mesmo falar um pouco de mais do mesmo. Só que não há idéias e já não encontro mais como falar do mesmo.

Então penso em qualquer coisa que possa se transformar num texto. Na verdade mais fria tudo pode se tornar um texto, desde que o autor tenha criatividade e saiba unir as palavras da maneira correta. Porque, na verdade, qualquer texto é um conjunto de palavras dispostas de tal maneira que aquele que lê se identifica, seja por sentimento ou por qualquer outra coisa.

Dia desses, inclusive, eu li uma matéria onde diziam ter descoberto a região do cérebro que lê. Sozinha esta informação não quer dizer muita coisa. Mas o interessante foi que conseguiram associar leitura com sentimento. De acordo com a tal matéria, quando lemos ativamos em nosso cérebro uma área responsável por traduzir sentimentos, por isso a maioria das pessoas se identifica mais com textos sentimentais. Até porque, qualquer texto desperta sempre algum sentimento, mesmo que seja raiva ou frustração.

Mas falando em música, acabou de terminar a música do Ozzy e agora ouço Flip Phillips tocando Goodbye numa gravação de 1952 (obrigado Camilinha). Nada como um bom jazz para trazer um pouco de inspiração. Pena que meu quarto não tenha ar-condicionado e o jazz seja obrigado a tocar no calor do quarto e calor não rima com inspiração. Não para mim. Logo sigo pensando em mais algum tema, qualquer coisa que eu nunca tenha falado sobre.

Acabei de pensar nas chuvas desses dias de outono. A noite passada choveu como eu nunca tinha visto, ou lembrado. Mas a música mudou e agora é a Billie quem comanda o som com My man. Um trocadilho infame é dizer que nada melhor que ouvir a Billie numa véspera de feriado...

Sigo então com um pouco de boa música, algum calor (apesar das chuvas) e a minha total encheção de lingüiça, já que depois desse tempo todo não saiu uma linha dos meus dedos.

quinta-feira, abril 27, 2006

O MULTIMILIONÁRIO.

O MULTIMILIONÁRIO, em segredo, tomou um viagra. Cinco horas depois, estava na banheira com a LOIRA, a MORENA e a RUIVA, exaustas. Pensaram que, enfim, tinham "derrubado o touro". A MORENA comenta:
- Hoje você estava...
Começa a se instaurar o clima de pós - sexo entre elas. A LOIRA puxa um cigarro de piteira. A RUIVA joga o corpo para trás, encostando - se na armação da banheira, numa posição sensual. O MULTIMILIONÁRIO fica novamente à postos. A LOIRA dirige - se à RUIVA:
- A culpa é sua! Fazendo pose!
RUIVA:
- A MORENA é que atiçou ele, com o comentário.
Porém, antes que a MORENA fale, o MULTIMILIONÁRIO intervém:
- Meninas, não é hora de apurar responsabilidades... é hora de resolver o problema.
A MORENA dá um risinho sacana. A LOIRA apaga o cigarro desleixadamente. A RUIVA fica de canto, olhando, respirando...

16/05/2003 - Encontrei por acaso, enquanto procurava outra coisa, essa do MULTIMILIONÁRIO. Resolvi deixar aqui o registo.

Então Voe!

- Então voe! Gritou o homem de barba cinza, incrédulo com a audácia do menino.

Marcos era um rapaz teimoso. Sabia que podia voar e não era um velho de barba cinza que o faria desistir. Dentro dessa convicção; pulou do teto de sua casa. De início, teve a súbita sensação de vôo, mas derrepente uma força estranha puxou-lhe para baixo com tamanha intensidade que se sentiu sugado para o chão. Acabou numa fratura no braço esquerdo, uma perna quebrada e muita dor de cabeça.

- Tá vendo rapaz teimoso! Disse o homem de barba cinza com aquele ar de superioridade dos adultos frustrados - Tá pensando que é o que? Gente não voa moleque.

Marcos teve vontade de gritar e mostrar que quase conseguiu. No entanto, vendo que o homem de barba cinza afinal tinha razão decidiu sabiamente se calar ir ao hospital para curar aquele braço enfermo e da perna que estava incomodando bastante.

Voltando do hospital, Marcos decidiu estudar os motivos pelos quais o vôo não fora bem sucedido. Subiu até o telhado, estudou minuciosamente as telhas, sentiu o vento no rosto, conferiu altura do local, verificou seu cadernozinho que tinha todas as instruções prévias de vôo copiadas de um desenho animado e tentou imaginar o que lhe fizera cair de modo tão brusco e tão forte no chão. A solução não tardou a vir.


- Sim! O vento! Não havia vento o suficiente naquele momento!

Um sorriso de esperança brotou-lhe como nunca naquele rosto de apenas dez anos de idade. Decidiu chamar, com o braço enfaixado, o velho de barba cinza. Agora ele finalmente provaria que voar era algo simples e bastava querer, imaginar e se jogar do telhado de casa para conseguir e que as pessoas eram umas bobas em acreditar naquele troço de gravidade, imaginação é tudo. Falou-lhe que havia descoberto o motivo pelo qual ele não houvera voado e que agora ele iria voar de verdade e todos iriam ver! O Velho, incrédulo, deu risada da cara do menino e topou presenciar a segunda tentativa.

O menino então subiu para o telhado. Sentiu o vento com força batendo no seu rosto e teve a certeza que era mais do que o suficiente para garantir o bom vôo. Tomando cuidado com o braço e puxando um pouco a perna, estudou o céu e viu que as condições eram as melhores possíveis.

Imaginou o oceano visto de cima e os olhares incrédulos das pessoas. Viu-se apertando a mão do Cristo Redentor, dando um olá à Estátua da Liberdade, contornando o mundo todo por cima. Sem falar que poderia também visitar a sua avó que morava numa cidadezinha distante e comer mais um pouco daquela comida que só as avós têm o poder de fazer. Foi tudo tão real que a covardia, já escassa, abandonou o menino, afinal a covardia é a virtude dos que não sonham e dos que não imaginam. Subiu então ao ponto mais alto do teto de sua casa.

A covardia e a razão ainda não houvera abandonado o senhor das barbas cinzas e lhe fizeram gritar:

- Menino louco! Não pule daí, Está muito alto!

Mas era tarde. Marcos já havia pulado. E no momento em que o Velho gritava, ele estava sentindo toda a plenitude do vento batendo em seu rosto. Não acreditava, estava mesmo voado! Via as pessoas lá de cima, sentia uma paz irracional a invadir todo o seu ser. O que lhe motivou a dar piruetas pelo ar e a brincar enquanto volitava. Marcos estava experimentando, e tinha a plena noção disso, a felicidade completa e inatingível.

Pensou em fazer tudo aquilo que havia imaginado, mas algo lhe chamou a atenção. Começaria pela Estátua da Liberdade, passaria pela casa da sua avó para comer um daqueles bolos de chocolate. Porém, antes de ir, notou algo interessante. O senhor de barba cinza estava no chão chorando incessantemente. Ao se aproximar viu o motivo das lagrimas. Era o ele, com a cabeça toda ensangüentada, sem vida, com os olhos ainda abertos, estirado no chão com os braços abertos, como se abraçasse o chão. Não acreditava naquilo! Não podia ser eu, pensava o menino. Ora ele estava ali, logo ali em cima voando e vendo tudo aquilo.

Esse, definitivamente, não sou eu, pensou o menino. Nem o azul dos olhos esse corpo estirado no chão tinha. Tendo a certeza de que aquilo que estava deitado no chão não era a sua essência, partiu em vôo maluco pelo mundo.

quarta-feira, abril 26, 2006

Noventa e um parece ontem...


É, amigo... de frente para a minha janela agora, vejo um derramar de outono fugaz para dentro do quarto, culpa da timidez desse sol que maio nos dá, assim, quando a tarde vai pelo meio. Justo agora, me veio à mente, uma breve reminiscência com você por dentro. É que a vida, desse lado de quem vê, com tantos ais e quês, passa num caminhar incansável, e por capricho, faz com que nos esqueçamos de detalhes valiosos, mas que não se perdem por sempre, posto que gavetas se abrem aleatórias, e de relance, trazem de volta coisas, pessoas, e momentos. Num silêncio que fez aqui, há pouco, a que guarda você em mim abriu-se, e como num espaço sem gravidade, fez flutuar lágrimas e sorrisos, os que um dia dividimos à mesa.

Da choupana onde vivo hoje, aquela que desenhava entre conhaques e poemas de Maiakovski, e da qual você ria a zombar de meus sonhos; daqui, amigo, vejo no breve lago sereno, no espelho que ele forma; flashs de um passado onde você cabia, e era. Vejo o alvoroçar de idéias que saíam de nossas cabeças jovens. As mulheres que tínhamos na facilidade que o pensar permitia. A volta ao mundo que nunca demos, e todos os erros que nossas costas carregaram com alegria. É, amigo... noventa e um parece ontem...

Faz maio esta tarde, mas um maio saudoso. O céu que faz neste fim de tarde é triste, até digo, triste. É que sendo hoje seu aniversário, e noventa e um indo tão longe, caiu em desuso a alegria. Esta virou obsoleta peça de museu. Da raiva já uso mais, porém, sem saber a quem senti-la. E a solidão, esta, aqui dá em qualquer pé. Você bem merece minha raiva, mas, sequer sei como tramitam por aí esses processos. Melhor não. No que acredito é muito pouco, até nem sei se o que penso, escrevo, você pode saber. Que seja, um deus tem de haver, para essa bagunça toda consertar, um dia, não é?

Aqui onde vivo tudo é simples, e belo, não menos. O dia é longo, e cheio de gratas surpresas. Por agora, bem do lado, um rouxinol vadio ensaia acordes em sua maestria nata, cena digna de um haicai quebrado. Acolá, uma lavadeira tardia volta do riacho onde deixou os ecos de seu canto. Quando as cortinas se fecham, e logo abrem para o show do palio de sempre, e as primeiras meninas que brilham vêm me açoitar, cumpro o ritual mesmo, o do chá quente que abranda a brisa glacial que invade as frestas. E a vida de amanhã repete hoje, ao menos na aparência, posto que creio em Heráclito. Maio que vem tirarei a mesma fotografia, eis que, incansável, todo ele acontece. Queria eu essa bravura dos meses, que se repetem sem cansar.

Da mesma forma que você estaria, nós, aqui estamos, nem bons, nem maus. Alimentamos a de sempre pequeneza de quem acredita ser apenas isso, e aqui. E você bem que poderia nos sacar as vendas, e assim nos tornar maiores, já que mortais, mostrou que somos. Também não somos mais tão inocentes, e o tempo que passou nos imprimiu à testa uma ousadia risível. Laurinha casou. Serjão largou a batina. André virou monge. Lucinha faz programas. E Teco, lembra? É... ele não era gay, e agora é pai e tudo. Os dias seguem assim, menores que sua falta. Eu, sozinho, carrego minhas vidas já um pouco curvado, e brigo com os meus pés quando insistem em se arrastar. Aquela barba, a que rapazote se contava os fios, de branca já passou. Os cabelos já iniciaram a fuga imposta pelo tempo, ou, pela genética. E os filhos que não tive cantam nesses galhos que margeiam meu telhado. Fiquei de choro fácil, e medo de escuro. Mas também me rouba um riso, qualquer folha que ao cair, faça um balé outonal. Divido um chalé com meus livros, meus discos, uma solidão benfazeja, e umas alegrias furtivas. Do que sempre quis tenho quase, do que me falta nem sinto, e, assim me faço feliz.

Dizer sobre o bem que lhe quero, tem o valor mesmo de chuva na água. E da vontade de um dia revê-lo, esta, fica na casa do que a minha crença permite. Vou ficar aqui, nesse dia de maio cuja tarde me foi triste, e a noite já desponta, trazendo em si uma chuva leve, coisas de maio por essas bandas. E aqui ficando, vou usar do ar que me resta, para em todo dia, como este, em que a saudade me aperta, e a lembrança me abate, trazer ao papel o meu sentir, no afã de que esteja errado, pois, no que acredito é muito pouco, até nem sei se o que penso, escrevo, você pode saber.

terça-feira, abril 25, 2006

...

Tem um rato aqui... roendo minha coragem e assustando as palavras tímidas... mas eu volto! Talvez traga um pedaço de queijo coalho.

...

domingo, abril 23, 2006

Sobre as coisas que eu não sei

Eu, não, tenho, nada, para, falar, estou, em, trânsito, entre, qualquer, lugar, e, lugar, nenhum. Quem, sabe, semana, que, vem, tenho, algo, para, dizer. Mais, uma, vez, peço, desde, já, minhas, mais, sinceras, desculpas.

sábado, abril 22, 2006

Tudo é tão bom?

Estou em clima de Micareta, sem gostar de Micareta. Estou em clima de Micareta, sendo que o clima da Micareta é chuva pura . Estou em clima de quem pede fim de Micareta. E a única coisa que presta é ouvir Café Com Pão (Vixe Mainha) e ver o sorriso largo de Jau Pery. Nem ver Bell Marques fazendo um showzinho particular pra a gente (máximo de 10 pessoas no im-praticável da Tv Subaé) é melhor que a voz dos ex-Olodum cantando uma música que não diz nada com nada, mas que é uma delícia. E eu só imagino o dia que esta festa feia, suja e molhada vai terminar. Há alguns anos um amigo veio passar a Micareta aqui em Feira e fez um comentário bastante pertinente: "Lélia, o mundo acabou ontem, e isso aqui é o resto". É impressionante como as coisas se repetem sempre, e algumas vezes bem pior. É o caso!
Bem, deixa eu parar de reclamar e voltar para as minhas pautas. Seria muito melhor se eu escrevesse sobre Telê Santana, não é? Este sim merece registro. Mas é que eu tou tão assombrada que a única coisa que eu me permito pensar é em Café com Pão, dos males o menor.

quinta-feira, abril 20, 2006

Não vale a pena. (A porra!)

Estávamos no Armazém di Baggio, tomando umas cervejas de filosofia social. Eram cervejas de artes marciais, num primeiro momento, mas uma coisa puxa a outra, que puxa a outra, e é um trem inteiro.
Ao lado, aquela figura tarimbada (e carimbadíssima) achou por bem intervir, expondo sua opinião fundamentada com o máximo empirismo possível. Dois tiros de empirismo. Se bem que talvez não fosse o máximo, por ser calibre vinte e dois: "se fosse de trinta e oito, eu não tinha sobrevivido. Foram mais de sessenta dias no hospital."
Um comentário despretensioso de Leila, sobre defesa pessoal, puxou a discussão sobre artes marciais, gêneros diante de situações violentas, experiências vividas de brigas, assaltos. Passamos pela visão de mundo de que quem assalta e está errado, mas o mundo agiu errado com essa pessoa e o que ela faz? Não, não justifica. Compreende.
Uma vez me furtaram na praia, enquanto eu ia no mar com minha namorada (à época) e nossa amiga ficou cuidando da pochete (motociclista tem que sobrepujar a estética pela praticidade). Carteira, chaves de casa e da moto, celular, óculos escuros, tudo lá. Eu e um bêbado que tomava uma à mesa ao lado fomos atrás do cara – ele o tinha visto -, achamos e demos um tranco. Depois de o meliante ter caído e tentado fugir, o bêbado se enraivou. Esse cara apanhou tanto que não sei se hoje é vivo. Não bati, foi ele. Fiquei sem jeito de intervir em favor do ladrão. E não tenho um pingo de remorso. Paradoxo, para quem compreende, como citei há pouco, o porquê.
Leila conta que nos festejos do Bonfim, uma vez, negão de dois metros tentou beijá-la à força, como tanto fazem os playboyzinhos no carnaval. Recurso feminino legítimo, ela cravou todas as unhas grandes nas costas do homem, puxou com força, e tirou sangue. Se aproveitou do seu metro e cincoenta e três para fugir serelepe pela multidão. "Se ele me pegasse, com um murro me matava."
Matava mesmo. Mas não daria o murro. Ou pelo menos quero crer que. E esse foi ponto de discordância. Se eu vejo um homem brigando com uma mulher, desvio até o olhar - desde que estejam na esfera verbal. Um homem batendo em uma mulher eu não aceito. Já houve até uma situação próxima, na entrada da casa de um primo, ali mesmo na Pituba. O cara estava segurando-a, e eu cheguei perto. Sem intervir, mas marcando presença. Acabou que ele não fez mais que isso, e ficou tudo bem.
O bêbado, que se fez dispor de nossa atenção por um bom tempo, contou-nos que, coincidentemente, numa festa do Bonfim aplicou um cachação num desses covardes, que estava agredindo uma mulher. Que saiu correndo e fê-lo pensar que havia fugido, mas voltou com a Winchester 22.

- Se pega um pouco mais para a esquerda tinha perfurado o pulmão e me matava. E aí? Como é que ficavam meu filho e minha filha? Tenho certeza que estão juntos hoje aí! Tem muita mulher que gosta disso!
- Mesmo assim...
- Depois aparecia no A Tarde, e você morria de herói. Te servia de que? E as pessoas que iam sentir falta de você?

Eu não queria gastar o tempo nisso. Não concordar não implica em não compreender o fato de alguém que passou pelo que ele passou achar assim.
Há tempos não via Vágner, bom amigo, e pretendia aproveitar melhor a conversa. Disfarçamos, os três, e educadamente fechamos o grupo.
Da história, o que se percebe, é que ele não tinha certeza nenhuma que eles estavam juntos. Era uma afirmação amadurecida do fruto do rancor. Como trezentas hipóteses que eu poderia formular, desta mulher ter tomado o tiro ao invés dele, de ela sim ter morrido, dos filhos dela...
A verdade, nesse caso, nos é inatingível.
Existe toda uma ética desviada, na minha opinião, que talvez brote da covardia ou talvez do individualismo em excesso. Talvez um pouco dos dois. Não se envolva. É melhor deixar para lá. Ande de janelas fechadas. Não faça tudo o que poderia, não viva tudo o que poderia, não seja tudo o que poderia, em nome da segurança, que esse mundo está assim assim.
Não é ser herói. É princípio. E me recuso a pautar minha vida na possibilidade de cada filho da puta estar armado.
Concordo, sim, que os princípios do nosso contrato social efetivo causem tantas distorções, e compreendo a visão de que por essa ótica possamos justificar certa condescendência. Mas tem coisas que não se justificam em nada. Não engulo.
Filosofia por filosofia, tem aquele tio brabo de Feira, com uma visão de vida menos culta e delicada, e sempre tá tudo certo: "Eu tô aqui prá comer cu e dar porrada!".
[]´s

quarta-feira, abril 19, 2006

Sobre foices e martelos

Com o fim da União Soviética, o ideal socialista foi morar no campo das ilusões, caiu no ostracismo. A Rússia atual é um grande elefante branco, um país capenga que tenta se reerguer. A poderosa China se rendeu ao capitalismo, senão por inteiro, mas acabou inventando uma espécie de “socialismo capitalista”, e do vermelho restou apenas um mero romantismo, pra não falar da parte crua. Houve um tempo em que a revolução era o ideal de uma geração, uma espécie de utopia possível, algo palpável. O grande ícone desse tempo, Ernesto Guevara de la Serna, virou mito, e hoje estampa bandeiras, camisetas; povoa o imaginário da nossa linda juventude. Acredito que Guevara seja o único argentino capaz de anular a eterna rivalidade com os brasileiros, por uns instantes. Apesar dos pesares intrínsecos na cartilha que seguia, o guerrilheiro morreu acreditando piamente no socialismo como cura de todas as chagas da sociedade. Porém, a “Cuba Libre” tornou-se uma utopia, e ironicamente a liberdade hoje mora em Miami. Fidel eternizou-se e segue sua saga à mão-de-ferro, sem fugir uma linha da cartilha de Stalin e companhia. O povo pobre, oprimido por uma ditadura que tem a pena capital como cartão de visitas em pleno século XXI, vive num país sucateado, onde a felicidade vem à noite, nos sonhos de quem consegue dormir...

Do lado de cá, cada vez mais forte e não menos radical, temos o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra). Movimento de esquerda que também acredita no socialismo como cura das chagas, mas nem tanto. As chagas existem, são evidentes, mas a cura não pode sair à força. Invasões de propriedades, bloqueio de estradas, cobrança de pedágio, saques a caminhões, destruição de produtos de pesquisas, são apenas aperitivos da cartilha particular do movimento, que a igreja católica insiste em apadrinhar. São milhares de trabalhadores rurais, em sua maioria, analfabetos que sequer ouviram falar de Stalin, nem Guevara, e não passam de inocentes úteis manobrados por anarquistas aspirantes ao poder. Não se pode ignorar a legitimidade de um movimento organizado, contando que este tenha propósitos e respeite a liberdade de quem não participa dele e tem seus compromissos a cumprir. Com propósitos explicitamente políticos, o MST teria mais empatia transformando-se num partido, e concorrendo às eleições legitimamente.

Um movimento onde seu líder incita à violência seus comandados, principalmente num ambiente como é o meio rural no Brasil, onde os ruralistas já se armaram e estão prontos para a guerra, não pode exigir respeito. Na outra ponta da corda, o governo de esquerda se surpreende com a reação de seus “companheiros”, pois era de se esperar uma relação pacífica a caminho de uma reforma agrária abrangente e satisfatória, e o que se vê é uma verdadeira anarquia urbana. O que antes se chamava de êxodo rural transformou-se num verdadeiro caos social, e a luta pelo lugar no campo não se refere ao retorno do homem que de lá saiu, e sim a um verdadeiro êxodo urbano, onde cidadãos que se julgam espertos, saem de suas casas para tentar um pedacinho de terra sob a sombra da bandeira vermelha.

O que se espera agora, o mais rápido possível, é uma ação efetiva do governo na direção da tão sonhada reforma agrária que não passou de retórica em sucessivos governos. É necessário consenso e equilíbrio dos dois lados, trabalhadores e fazendeiros, cada um fazendo sua parte para que todos voltem ao convívio pacífico, caso contrário, veremos em breve o confronto das foices rurais com os martelos urbanos.

segunda-feira, abril 17, 2006

INRI

Como é comum no período de festas da semana santa, em todo canal de tv - que não seja evangélico, obviamente... afinal, nos dias atribulados em que vivemos, "Donas Marias" em condições de se submeter a rituais de exorcismo é o que não faltam - há um filme sobre a paixão do cristo. Assisti a um bastante interessante, que contava por meio de flashs algumas passagens de sua vida, culminando evidentemente, com a crucificação e as supostas ressureição e subida ao céu.

A figura do cristo me fascina desde muito novo. Família de fortes bases cristãs como é a minha, lembro com saudades de meus pais me ensinando rudimentos da religião, bem como do rosto complacente e um tanto tristonho do jovem cristo barbudo das folhinhas que traziam estampadas os nomes das padarias onde comprávamos (aliás, quem morou no interior bem sabe como que eram aqueles enormes calendários que tinham um papelzinho com uma passagem bíblica para cada dia do ano, que deveria ser arrancado todo dia - e que eu obviamente vivia esquecendo de arrancar - e que traziam invariavelmente as representações mais clássicas do cristo ou de maria, com aquele coração sangrando). Em Cachoeira, morávamos praticamente ao lado da igreja... cidadezinha de interior... a igreja-mor, mais imponente, a praça da matriz e as ruas mais importantes ali à volta. Meus pais iam à missa e me levavam, e lembro com que deslumbre eu ficava admirando a beleza das pinturas e esculturas (que só um pouco mais tarde o discernimento de adolescente curioso conseguiria enquadrar neste ou naquele movimento artístico-cultural), e até das sensações olfativas, daqueles incensos que os coroinhas balançavam pra lá e pra cá lembro agora, enquanto escrevo.

Já em Salvador, veio o "colégio grande". Meus pais, como bons católicos, me matricularam num tradicional colégio cristão. E lá ia eu - sementes da dúvida sobre as coisas do mundo e da fé já plantadas na cabeça e no coração - para a preparação daquela que seria a minha primeira grande aliança com a igreja: a eucaristia. As aulas de catecismo, preparando-nos para o evento que viria em breve, eram sempre aos sábados. Mas, bem... esperar de pré-adolescentes em sua fase mais irrequieta uma atitude de contrição contemplativa diante de uma professora de religião toda manhã de sábado já seria exigir um pouco demais de nossos pequenos corpos pecadores... Daí que dessa fase, eu devo admitir com certa vergonha que lembro bem mais e melhor das figurinhas que colecionávamos, e das partidas de pingue-pongue e xadrez que disputávamos (época boa essa, das acirradas disputas de xadrez no pátio do colégio!) que das aulas que as boas e dedicadas professoras de religião do Salesiano nos davam. Ainda assim, aos trancos e barrancos, passaram-se os meses, e no final do ano foi um compenetrado guri vestido de branco que entrou com um enorme crucifixo de madeira (ainda o tenho!) na igreja do colégio segurando um daqueles livrinhos de canto, para deleite do monte de fotógrafos contratados pelos orgulhosos pais e padrinhos pra ocasião.

Mas já naquela época eu sabia duma coisa. Era o primeiro e último contato que eu teria com a igreja cristã. Pelo menos, envolvendo crença e fé. Novo demais ainda pra entender o que eu queria... mas já dava pra perceber o que eu não queria... e a vida passando... o mundo aumentando e ficando mais complexo e difícil... e regras que, segundo toda a formação filosófica de meu início de vida, deveriam funcionar com a força de leis imutáveis e sem espaço para a menor dúvida, e no entanto vinham caindo uma após a outra. Só que, dúvidas de ordem filosófico-religiosas à parte, sobraram muitas coisas de minha infância cristã... a saudade do cheiro delicioso de peixe e azeite que vinham da cozinha, onde tentávamos - eu e os outros tantos primos - entrar de qualquer jeito pra beliscar uma ou outra lasquinha de qualquer coisa comestível... ficou também o enorme respeito pela figura do cristo; este indivíduo admirável, cuja personalidade transcende (des)crenças, valores morais, ou o que quer que seja... alguém com quem definitivamente eu gostaria de passar uma tarde conversando... entendendo... expondo o tanto de dúvidas que me afligem (e provavelmente à maioria de nós, homo superiores não tão superiores assim, afinal). Até porquê, convenhamos que independente de outra coisa qualquer, um sujeito que tem a rara habilidade de transformar água em vinho não pode ser uma companhia que se jogue fora!

sábado, abril 15, 2006

Imagem e semelhança

Deus é mesmo um cara fantástico. Ele nos deu Jesus para ensinar uma lição aparentemente simples, mas muito difícil. Jesus nos ensina diariamente a morrer e reviver. Explico-me. Quem conhece minimamente a história de Jesus sabe que Ele nasceu com destino certo, hora, dia, local e forma de morte determinados para salvar a humanidade de todos os seus pecados, os já existentes e os vindouros. Ele sabia que seria perseguido, julgado, torturado, crucificado e morto para, enfim, cumprir sua missão aqui na terra. E que, três dias depois do processo de perseguição e morte, ele ressuscitaria e teria vida eterna.

Na minha reles interpretação de cristã esta morte vai muito além da salvação pura e simples, porque, em primeiro lugar, eu não acho que a humanidade esteja ‘salva’, muito pelo contrário! E depois, quem sou eu para ficar pregando (literalmente) sobre as simbologias do Cristianismo?

Bem, eu vejo a morte e ressurreição de Jesus como um exemplo pra o nosso cotidiano. Levante a mão quem consegue atravessar os dias sem morrer e reviver. A gente não precisa morrer de fato e de direito pra se sentir como um cadáver. A nossa própria vida nos coloca em situação em que era melhor estar como morto, mas a mesma vida nos faz renascer. E a gente vai se repetindo, a gente vai se refazendo, a gente vai criando fôlego novo.

Na minha reles interpretação de cristã, Jesus Cristo quis nos ensinar justamente isso. Que momentos difíceis virão, a gente pode até duvidar do amor de Deus, a gente vai passar por momentos difíceis (perseguições e coisas parecidas), a gente vai sentir uma dor de morte, a gente vai ficar como morto, mas vem a ressurreição, e a gente volta à vida, se recupera. E nem precisa morrer. A imagem de Jesus crucificado é a representação de que dias melhores sempre virão. Já que é assim: Boa Páscoa para você. Uma Páscoa cotidiana. Deus não é mesmo um cara fantástico?

quarta-feira, abril 12, 2006

Minha nação colorida


Vem de África esse som que ecoa pelas esquinas, que faz da cidade um só ser. Vem de longe esse canto, esse lamento de um lar distante, da parte perdida, da terra-mãe que ficou para trás. Um movimento multicolor que invade as ruas, tal qual um oceano de gente e vozes, e reverbera pelos olhos que, num misto de encanto e êxtase, assistem à tal manifestação da beleza viva, desse palpável sentimento que salta do abstrato para o real num passe de mágica. Um serpentear de corpos que segue evoluindo naturalmente, num frenesi movido pela alegria e força de um povo bravio, um povo que nunca fugiu à luta.

Vem no baque solto, a confusão alegórica que banha o asfalto quente, o suor que escorre no rosto alegre de lanceiros, reis e rainhas, negros e livres, e ao alcance das mãos. Vem do Maracatu toda a poesia e fascinação, que enchem o espaço com sua mistura de ritmos espetaculares. Chocalhos que soltam seus gritos desconcertantes; frenéticos tambores que viram malabares manipulados por ágeis pares de mãos. Gonguês e ganzás que mais parecem murmurar segredos, se harmonizam com os versos rimados das marchas; com os sambas que cantam cores e dores; cantam Mateus, cantam Catirina; reverenciando seus deuses e santos, num misticismo eloqüente.

Vem nas ruas o Elefante, o Leão-Coroado, o Estrela brilhante; vem o próprio Recife desfilando para si, numa inerência escancarada. Vem a alegria em forma viva, em cores, em sons. Vem a vida passando na janela, a vida saindo pelos poros, a vida escorrendo na testa. Vem o Maracatu das ruas com seu baque livre, encantador, seu baque solto. O Maracatu Rural, o da terra batida, do chão dos engenhos de cana, da alma negra do homem, em seu colorido atraente, sua alegria nata. É Pernambuco pulsando no peito. É a cultura correndo nas veias.

terça-feira, abril 11, 2006

dia sem tema


Acordei com cara de sábado. Mas isso foi ontem. E o tempo tomou conta de mim. Tinha sol, lembro. Quente e rosa, porque hoje (ontem) acordei feliz e essa foi a cor que teve o dia. Poderia ser verde, com cara e cheiro de mato, de erva, da tranqüilidade das cidreiras borbulhantes na xícara da noite (anteontem). Bem lá, onde chorei uma dor sem sentido, com alguns motivos que inventei pra acompanhar meu coração descompassado.

E me virei, leve. E estava em paz. Sem calor. Ou dor. E ela estava. Ele já tinha ido trabalhar. - Engraçado como acordei Feliz! – Eu pedi à Deus! – Eu também! Rimos. Eu agradeci em silêncio. Mas acredito que as mães tenham mais sorte!

O “sábado” daquele dia me pediu argumentos. Inquieta, lavei roupas. Várias. De Vários. Coloridas. As minhas, pretas na maioria. Alguns falavam em algum lugar: preto é ausência de cor, outros que é a união de todas elas. Fico com o meu preto colorido e desrespeito o contexto.

O sabão pintava as fantasias. Nem tão sujas, carregavam lembranças de alguns dias. E noites. E sorrisos. E cheiros. Dos cigarros que não fumei. Do perfume de quem abracei. E músicas... A saia preta ficou no varal. A música que ela trouxe, na minha boca. Nas repetidas vezes em que o refrão insistiu em fugir, revelando um dos meus defeitos ( a repetição incansável de um único trecho de uma música, geralmente o mais irritante ). Um, de tantos.

E ainda era rosa. Tudo. Até o bife de fígado esturricado na panela. Eu gosto de fígado. De amor. De lasanha. De Nara Leão. De batata frita. De novela. De farofa. De beijo. De beiju.
E me dei conta da terça. Que já não era. E de quando aprendi a dar licença ao depois. E de como foram assim outras coisas. E de como são. Da posse muda da desistência sobre o manto rubro do prosseguir. Mas era um dia da cor que escolhi. E a felicidade tinha optado por mim.

Foi ontem.

É hoje. Desses dias que não tem nome. Nem tema. Porque poderia ser qualquer um.

segunda-feira, abril 10, 2006

Requiem for an animal (ou "Go vegan! Go!")

Meu irmão é um desses ingênuos que se renovam a cada geração, e pra quem o mundo é - e vai ser sempre - nada mais que o palco em que lutam suas batalhas inglórias e perdidas. Pessoas que apreendem o mundo à volta de uma maneira bem própria, e levam suas vidas segundo os próprios princípios e valores morais. O que em geral nós, os totalmente inseridos socialmente, fazemos em relação a meu irmão e seus assemelhados é ignorá-los placidamente, ou no máximo dar um daqueles sorrisinhos de superioridade condescendente quando passam por nós. São aqueles tipinhos que, quando não dão a sorte de baterem de frente com o momento histórico adequado, incendiando-se nas Primaveras de Praga da vida, ou de isolar-se em recantos onde podem viver segundo os próprios ditames, levam a vida provavelmente com a sensação inquietante de estarem vivendo deslocados numa época que não é a deles, cercados de gente que não os compreende ou valoriza.

Há vários anos meu irmão não ingere nenhum tipo de alimento de origem animal. Inclua-se aí ovos e laticínios em geral. Também tem o cuidado de procurar a origem dos produtos que usa. É por isso que também não come todos os tipos de biscoitos, nem usa todos os shampoos e sabonetes, nem tampouco veste qualquer tipo de roupa. Ele invariavelmente leva em consideração o fato de animais terem sido utilizados em qualquer das etapas do processo de fabricação das produtos que usa. Obviamente não é uma escolha de vida fácil... viver como meu irmão vive significa dar as costas a todo um estilo de vida socialmente aceitável, em que mesmo o que é dito como "contra-cultural" é tecnicamente aceito (ainda que não bem visto ou desejado) e partir pra fazer escolhas próprias, que na mais das vezes chocam a quem está próximo. É também ser vítima de um escárnio velado que é irritante na maior parte das vezes...

Todo este preâmbulo teve o intuito de falar sobre uma coisa que vi hoje cedo. No meio do monte de bobagens que recebo diariamente em minha caixa de email - cuja maioria deleto sem nem me dar ao trabalho de ler - chegou um link pra um vídeo. Fui ver do que se tratava, e o que vi me entristeceu profundamente... Uns animais bípedes matavam outros (estes últimos pequenos quadrúpedes indefesos e aprisionados em pequenas gaiolas) com as próprias mãos, para lhes tirar as peles. O olhar de medo daqueles bichinhos... Não dá pra descrever aquilo com palavras... Depois, com os pequeninos ainda vivo, eles lhes arrancavam as patas e penduravam-nos num tipo de varal. As peles? Elas vão ser usadas nos desfiles de moda cujos casacos e roupas - em geral de gosto extremamente duvidoso, diga-se de passagem - vão ser desenhadas por um desses viadinhos estilistas que estão na mídia pra vestir modelos esquálidas e com aparência de doentes. Evidente que senhoras ricas, gordas e disformes vão ver esses desfiles, e vão comentá-los com suas amigas (também gordas e disformes), e todas elas vão comprar os tais casacos, que aliás são caríssimos. Vão vestir-se com eles, feias e desengonçadas como possam ficar. É um mercado que parece render bastante, este que usa bestas bípedes para chacinar pequenos quadrúpedes com o intuito de tirar suas peles.

O que fico aqui imaginando é se alguma das partes envolvidas no processo tem consciência do que realmente acontece. Não vou comentar das bestas que caçam e espancam até a morte os pequeninos. Na qualidade de bestas estúpidas que são, estão além de qualquer análise. Mas e os indivíduos que compram as peles e as revendem? Os costureiros que, usando-as como matéria pra suas roupas, acabam valorizando-as, mesmo sabendo de onde vem e da forma desumana como são conseguidas? E os estilistas, que quando imaginam suas peças o fazem pensando no efeito que terão com as peles? E que dizer do consumidor final... as senhoras gordas desse mundo, que independente de qualquer outro argumento lógico, pagam caro e ainda ficam feias usando as roupas? Eu realmente queria saber onde que está escrito que nós temos direito de vida e morte sobre esses animais. Ou que eles estão por aqui pra nos satisfazer as vontades (inclusive as idiotas, como vestir madames com muito dinheiro e pouco discernimento). É muito triste que seja assim...

Hoje pela manhã a admiração que eu tenho por meu irmão aumentou muito. É que, ao contrário de mim e da grande maioria, ele há muito tempo já foi além da indignação muda, e vem vivendo seu dia-a-dia segundo as coisas em que acredita. E o interessante é que não anda alardeando a torto e a direito ou fazendo confete sobre o que faz. É seu modo de vida... e é tão comum pra mim encher a cara no final de semana e comer a carne tenra do churrasquinho quanto é pra ele e os amigos fazerem sua verdurada regada a muito suco e música. Eu, abalado e indignado que estou, mando emails a todos que conheço e escrevo crônicas num blog.

P.S. A propósito de meu irmão... Ele é já há anos vegan (vegano) straight-edge. Um vegano é um tipo extremista de vegetariano. Já o movimento straight-edge - não consigo imaginar uma tradução fácil pra isso - é um estilo de vida que não segue crença filosófico-religiosa alguma, mas que se centra na não ingestão de álcool, fumo e/ou drogas, além de estar fortemente ligado ao estilo musical hardcore.

P.S. A propósito do vídeo... eu não consegui assistí-lo todo... Mas eis o link, pra quem quiser se decepcionar um pouquinho com os bípedes pensantes dotados de inteligência:
http://www.strasbourgcurieux.com/fourrure


http://www.sxe.com
http://www.vegan.org

domingo, abril 09, 2006

Num ponto eqüidistante entre o Atlântico e o Pacífico

Por hábito, as minhas viagens já não têm graça. Acho que para a maioria das pessoas, a idéia de estar de aeroporto em aeroporto, ficar hospedado em bons hotéis e conhecer diversas cidades é algo fascinante. Melhor ainda se for tudo pago pela empresa!

Mas existem certos sacrifícios que acabamos fazendo. Passamos datas importantes longe da família, ficamos um tempo longe dos nossos amores, perdemos fins de semana com amigos. Enfim, prós e contras como tudo.

Não que eu esteja reclamando. Deus me perdoe, porque tenho consciência de ter um privilégio muito grande por ter um ótimo emprego, com diversas possibilidades. Agradeço todos os dias pela sorte que tive e tenho. Mas a questão é que o hábito acaba tirando o brilho aparente, podem confiar. Pois bem, agora vou falar o que pretendo desde o início.

Eram cinco da manhã quando o celular me despertou. Geralmente quando viajo nesse horário não tenho o melhor dos humores, porque ninguém merece estar no aeroporto às seis da manhã. Mas dessa vez foi diferente. Acordei entusiasmado, excitado pela viagem que estava por fazer. Cheguei no aeroporto e nem a fila enorme para fazer check in me tirou o bom humor.

Como de costume encontrei várias pessoas conhecidas. Incrível como aeroporto no Brasil inteiro virou lugar comum. Até parece Iguatemi dia de sábado. Você sempre encontra algum conhecido. Conversamos um pouco sobre como seria a semana de trabalho, como foi o fim de semana e outras amenidades. Mas minha cabeça só estava em um lugar: meu destino.

E após duas horas de vôo avisto a cidade. De repente senti meu coração acelerar, uma vontade de chegar logo para andar por essa cidade. E que cidade linda! Um verde indizível laureando jardins coloridos por todas as flores possíveis, tudo muito bem cuidado com suas ruas largas e prédios belíssimos. Grandes construções que lembram formas femininas, vindas da cabeça de um arquiteto deveras obsceno. Tudo em concreto. E as ruas não têm esquinas. Não tentem imaginar, é preciso ver para entender como pode uma cidade não ter esquinas. Sim, estou falando de Brasília, capital federal do nosso país.

Pode parecer coisa de gente besta, mas fui tomado por um sentimento patriótico ao passar pelo congresso nacional, pelos ministérios e pela igreja matriz. Tudo como é na televisão, mas mais bonito porque visto de perto é algo magnífico. Fiquei feito menino na disney, olhando para todos os lados, tentando identificar cada prédio, cada construção. Até agora meu coração dispara enquanto escrevo o texto.

Não sei como descrever as ruas de Brasília. Elas são bem largas, com grandes canteiros verdes, bem limpas e conservadas. Apesar do trânsito pesado tudo é lindo. Até parece a Bahia de Caetano. Brasília é linda. O que me frustrou foi não ter sentido dor de cabeça, falta de ar e outros sintomas atribuídos aos visitantes de primeira viagem, por conta do ar rarefeito e seco. Nem calor nem frio. Durante o dia um clima gostoso tomava conta do ar.

Estou no décimo quinto andar de um hotel que fica a cinco minutos do congresso, ao lado da torre de TV, no Setor Hoteleiro Norte. Aliás, é engraçada a distribuição das coisas aqui. Tem o setor comercial, setor hoteleiro, setor de puteiros, etc. A organização às vezes incomoda, mas nada pode ser perfeito. Mas sim, do alto do hotel eu tenho uma vista privilegiada da cidade, cheia de luzes perfiladas de tal maneira que parece presépio de arquiteto. Tudo em seus devidos lugares.

Ver a estátua de JK lá no alto, a praça dos três poderes, a rampa do planalto, poxa é algo de emocionar. Não tem como não sentir orgulho de ser brasileiro por aqui. E passei pelo conjunto nacional, que pelo que entendi foi o primeiro shopping daqui. Lembre imediatamente da música ‘Anúncios de Refrigerantes’ do Renato Russo. Aliás outro motivo de felicidade é imaginar que o Renato, meu grande ídolo, foi criado aqui.

Pois bem, só queria registrar para todos que se um dia vocês tiverem oportunidade de conhecer Brasília, não percam tempo. É mais que uma cidade ou um capital: é um símbolo nacional que precisa ser conhecido.

sábado, abril 08, 2006

Futebol é arte ou maquiagem?

Nesta semana eu estava na minha costumeira busca por assuntos interessantes para transformar em matéria-prima para o meu trabalho. E consegui um interessantíssimo, aparentemente bobo, mas que rendeu uma pauta e um post. Descobri que o número de vendas de aparelhos de aparelhos de Tv, inclusive os de plasma e de infindáveis polegadas, e telões dobrou. Adivinhem o motivo? Quem falou que é por causa da Copa do Mundo, acertou.

E o futebol já começa a tomar nossas vidas. Eu não entendo nada de futebol, digo que sou torcedora do “Baêa”, mas não chego a tanto. Falo sobre o Fluminense (de Feira) por ossos do ofício. Não posso mesmo dizer que seja apaixonada por futebol, mas também não posso negar que me envolvo (e muito!) quando a Copa começa.

Aí eu paro e penso que diabos de feitiço que tem este tal de futebol? Seria ele uma forma de Arte? Bem, eu acho que sim. Parar para assistir a uma partida disputada por habilidosos jogadores não é tão mágico quanto ouvir Chico ou ver Almodovar. Mas não deixa de provocar prazer. Temos uma apaixonada nação que prova isto. E como toda manifestação artística mal utilizada, o futebol também pode ser muito prejudicial. A História do Brasil que o diga, a História do Futebol também. É muito difícil imaginar uma sem a influência da outra.

O povo brasileiro foi “socorrido” das suas desilusões políticas por cinco grandiosas apresentações que assistiram em um belo circo com lona Verde e Amarela. Bem, nem todos... Vamos pegar só um exemplo, em 1970 quando muitos brasileiros foram comemorar o tricampeonato mundial nas ruas, outros tantos estavam nas masmorras da ditadura militar, pós AI-5, sendo violentados.

Os gritos de uns abafavam os de outros. E, completando a festa, as bandeiras verde-amarelas tremulavam no ar, em combinação perfeita com as camisas, de mesma cor, revestindo os orgulhosos peitos dos brasileiros, os habitantes da “melhor nação do mundo”, os conterrâneos de Deus.

Não quero especular, mas este ano de Copa, também é de eleição, também é de uma enxurrada de novos sabores de pizza criados em cozinhas mais que especializadas de Brasília. Não quero especular, mas esta copa me parece que vai encobrir um monte de porcaria. Mesmo pq o Brasil é o favorito ao Hexa. Ou você acha que tanta gente vai investir pesado na troca de televisores à toa?

Dança da Solidão

Dançavam aquela música. Ele com ela, no torpor daquele momento, apenas dançando e seguindo aquelas notas. Ele sentia nela toda aquela tristeza escondida, toda aquela solidão reprimida, todo aquele amor esquecido. Ele era apenas um vazio que estava sendo preenchido por outro vazio.

Ah, mas a matemática nos diria que vazio não se preenche com outro vazio. Mas quem disse que a matemática sabe de amor? Eram dois vazios se enchendo, um com outro, apenas com aquele toque, com aquele ritmo, com aquela dança...

O mundo poderia parar, diriam os mais poetas. Eu vos digo, ele estava parado. Olhando aquele casal de vazios milagrosamente se enchendo, ouvindo aquela suave melodia que tocava, sentindo aquele amor que subia.

Ah mas eram vazios solitários, diria um racional. Eu então lhes pergunto. Desde quando a razão entende de amor? hahaha, a razão entende de matemática meu filho! Solidão a dois, era essa a solidão de ambos Eram só os dois, ao som de uma musica lenta e inebriante, dançando num ambiente perfumado de lírios e presenteado com um luar.

Eu sei que você, meu caro leitor, deve estar perguntando aonde que estava a acontecer tal magia. Te respondo, portanto, Quê importa? Havia amor, respostas então se tornam desnecessárias e questões menos ainda.

Então é piegas? Deixe ser piegas, meu amigo leitor. Não sou nenhum Garcia Márquez para descrever esse momento pormenorizadamente e maestricamente. Não sou nenhum entendido de amor. Sou apenas um sonhador, meu caro amigo, que agora estava a sonhar com o outro lado da sua solidão, o outro lado da sua tristeza, o outro lado do seu amor.

Só isso.

quinta-feira, abril 06, 2006

Tempo.


Areia que se pelo raio de sol sobranceiro. Dança de um universo que suja o eterno. Desta sacada , meus olhos miram até a linha do horizonte, e deles foge apenas o tempo.

Seguem o flutuar de uma nuvem longínqua, buscam o céu limpo, o chão imperfeito. Cada imagem que percebem não existe. Atravessam os ruídos que sempre se parecem, e que em mim quase tocam, como se pudesse arrastar sobre eles as pontas dos dedos.

Abençoa-me esta fumaça branca de tabaco velho. Abençoa-me o frio do vento. Abençoa-me a água salgada que o mar entrega através do céu vermelho.

Abençoa-me, em forma de luz, a vida que se transforma ao longe. As pernas da menina que aperta cadernos contra o peito a levam para longe. Os braços que envolvem a criança de olhares afoitos a levam para longe. Os carros seguem seus caminhos geométricos, e levam seus passageiros para espaços fechados, sufocados, ao longe.

Em nenhum desses lugares, por mais distantes dos meus olhos, guarda-se o tempo. A substância que constrói cada uma das coisas. A luz que reflete na retina de uma forma a cada vez, e que é a trilha do nosso encontro com o infinito.

Não é assim nesta sacada. Intangível, invisível, quase inexiste um segredo sagrado, que paira sobre tudo em volta, do meu tempo em suspensão, aguardando tua benção.

Aguardando que a luz chegue em minh´alma refletida por seus cabelos vermelhos, e que teu olhar castanho me abençoe pelo infinito que perdure.

E que é tempo nosso.

quarta-feira, abril 05, 2006

Pontes para o futuro

Tenho medo de avião. Antes eu também tinha medo de escada de avião. É. Digo antes porque atualmente o aeroporto Zumbi dos Palmares já se encontra equipado com aquele túnel que nos leva direto para dentro da aeronave. Minha tortura no passado era subir aqueles degraus temerosos, ajudado pelo pessoal mal treinado – e não menos cheio de boa vontade – das companhias aéreas. Descer também era um suplício, e houve ocasiões em que cheguei ao solo praticamente deitado. A decolagem é tensa, e lá em cima, a turbulência é desagradável. A única vantagem é mesmo o ganho de tempo, já que se chega a Salvador dentro 45 minutos, isso, saindo de Maceió.


Aviões me fascinam. Engraçado que não me lembro de ter enumerado “ser piloto” naquela listinha da infância que damos por resposta à pergunta clássica. Mas não me canso de admirar aquela geringonça dotada de asas rasgando os céus. De uns tempos para cá, passei a ter sonhos terríveis, esporádicos sonhos com aviões caindo. Sempre estou fora deles, e eles sempre caem perto de mim. Angustiante. O fato é que ficou impossível não lembrar dos sonhos assim que sei que vou voar.
Esse mesmo medo me tomou por esses dias, como se fosse eu o indicado a subir num foguete rumo ao nada. Foi assim que parei para observar o feito do nosso astronauta Marcos Pontes. Antes de tudo, o que mais me fascina é a coragem dele. Não tenho capacidade técnica para avaliar se o resultado surtirá algum efeito aqui embaixo, ou não. Surgiram críticas antes do lançamento, um cidadão falava sobre o desperdício de dinheiro numa mera “carona”. Fato é que o camarada entrou no foguete para nunca mais sair da história. Pontes mostra bem ser um sujeito consciente, que se importa com o caminho que a juventude tem a seguir, e está claramente voltado para isso, como o faz nas suas entrevistas. Independente do valor real dessa experiência, cabe a nós mesmo é ter orgulho, ou, no mínimo respeito por esse coronel sorridente cujo semblante nem combina com o clima de caserna. Com suas competência e inteligência mais que comprovadas, e apontando com o passar dos dias, que a viagem será um sucesso.

Bom será se os meninos sem asas que vêem esse fato hoje, os nossos falcões de chão que alimentam a fome da maldade; ou mesmo aqueles que estão de certa forma bem encaminhados, enfim, todos os nossos meninos; bom será se estes se fascinem mais do que eu, e busquem alternativas, encontrem apoio, sejam resgatados, e iluminados pelo rabo do foguete, possam vir a ser outros Marcos, senão como astronautas, ou pelo menos como cidadãos brasileiros, dignos de nossos aplausos.



terça-feira, abril 04, 2006

Impressões dos Expressões




Vini e Dido
Patati, Lelinha e Léo
Salvador - Casa da Roça - Tony's
31-01/04

Acho que o único desconhecido era o cigarro.

Meu rim acanhado rejeitou o trago dos copos gelados sobre a mesa. Aceitara, no entanto, todos os brindes. Bailava cúmplice nos toques e “Tim tins” dos copos e desejos compartilhados. Saciou-se de bebida doce e leve. Sabia desvencilhar-se da sedução do álcool, mas fazia-se réu da sede.

Em um canto, alguém reverenciava a tristeza, intitulando-a senhora... Ali aconchegada nos sorrisos e nos olhos condescendentes, a Alegria contrariava o tocador.

Os jogos das mãos deixavam à mostra o dono das palavras, que fogosas passavam de boca em boca tão rápidas quanto os assuntos que elas compunham. Que aqui seja a justiça feita e se cobre à memória àquelas que mais lentamente tomavam conta dos “causos” de um dos nossos e das atenções que eles despertavam.

Não esperava novidades... Sobressaltos... Não os tive. Talhadas nas conversas virtuais que nos aproximavam, estavam as boas impressões, as mesmas que se repetiram durante toda à noite daquele encontro.

Talvez, algumas gratificações*... Os olhos da flor fecham-se quando recebem a graça dos seus sorrisos... É mais vermelha a boca daquele que rompe a madrugada desafiando o vento... É linda a sintonia entre os pensamentos e as mãos do nosso contador de histórias... É palpável o encanto do menino das segundas.

E seria assim... Agradável aos ouvidos e ao coração... Em qualquer lugar. Acompanhados de sotaques argentinos, respirando o sertão ou o bocejo do mar.
*Saudações a Vítor
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segunda-feira, abril 03, 2006

I'll survive (a do Cake, e não de Gloria Gaynor)

Uma noite perfeita já começa quando ainda nem é noite. O dia passa todo ele lento... lento com o sem-número de pendências tropeçadas umas nas outras. Mas é sexta-feira... e já foi falado por aqui mesmo sobre as sextas-feiras... as da Bahia em particular. É no final da tarde/início da noite que as coisas começam a tomar forma. O pensamento da cervejinha bem gelada já começa a fazer salivar... Bem como a vontade de estar perto das pessoas queridas, que nos faz meio que maldizer as leis que regem a passagem do tempo...

Mas eis que é chegada a hora. Uma banana bem dada pra tudo que lembre trabalho, uma passada rápida em casa pra um banho meio enrolado, e a noite daqui em diante se resume a boteco e amigos num canto qualquer (como, aliás, deveriam ser todas as noites que fossem dignas do nome). Os "amigos" em questão, os digitais (alguns dos quais nunca vistos, mas queridos desde sempre). O "canto qualquer", de qualquer não tem nada... o Pelourinho, suas escadas, casas coloridas e geminadas e ruas de pedras calçadas, O "boteco", escolhido a dedo pelo mais boêmio dentre os digitais de Salvador, um lugar aconchegante e de atmosfera agradabilíssima, em que a única coisa que falta pra lembrar uma casinha de campo de verdade é o cheiro de mato vindo de fora. Bom... na verdade isso e o fato de eu não me imaginar aplaudindo alguém tocando violão na sala de minha casa lá no interior... De resto, é Casa da Roça!

A noite transcorre lenta e gostosa... Fala-se de tudo... ri-se de tudo... E quem disser que tem coisa mais divertida que o calor da proximidade de amigos é um bom mentiroso. O papo rende, bons contadores de histórias que somos... alguns de nós, é bom que se diga, mais férteis que outros. Mesa de bar, mais que divâ de analista, instiga confissões... Não poderia ser diferente entre os digitais. Numa dessas, descobrimos Gomes, o Forrest Gomes, Contador de Histórias. E vamos lá nós termos inveja de um Gump qualquer quando temos à disposição - e ao alcance do copo sempre cheio - o nosso Gomes? E é entre os flashs sempre presentes de Patita e seus dedos rápidos, o sorriso tímido de Lélia e as declarações bombásticas do único não-digital da mesa que se conversa de tudo que não se deve discutir numa roda de amigos: política, futebol e sexo (os alicerces que mantém a humanidade de pé - a política nem tanto, creio...).

O caso é que depois de muito sexo e futebol, a cachorrinha argentina da casa nos faz notar o avançado da hora. Nosso contador de histórias ainda tenta com ela um diálogo rápido (com uma fluência no domínio da língua do Menen que me espantou!), e resolvemos que a noite dos boêmios foi feita realmente pra boemia... As meninas ainda fazem uma rápida refilmagem do Pagador de Promessas nas belas escadarias da Igreja (sob o olhar entre curioso e sonolento de um dos mendigos locais, que eu não imagino fosse exatamente familiar com o clássica história) e dali, a conselho do Baiano - cuja alcunha, vale dizer, não poderia ser mais acertada - fomos a um barzinho qualquer da orla da cidade. Mais doses generosíssimas de sexo e futebol. O não-digital, na condição de não-digital, já a ponto de cochilar, e eis que resolvemos meio a contragosto dar por terminada a farra etílico-literária.

Pelo bem do que é justo porém, devo dizer que infelizmente a noite não foi perfeita... Uma ida à Casa da Roça sem a performática presença de palco do velho Gomes não faz jus às potencialidades do lugar... e desta vez nosso amigo não nos brindou com sua bela interpretação de "I'll survive" (mais ao estilo Cake que ao de Gloria Gaynor, é sempre bom lembrar).