quarta-feira, março 29, 2006

Poesia à lama

Dia desses, numa auto-reflexão rotineira, conclui que havia perdido minhas forças, minha capacidade de indignação, e que era hora de entregar os pontos. Senti o quão pequeno eu estava ficando, diante das monstruosidades. O PT que deixou cair por terra o estandarte da ética e moralidade. Veio o mensalão, e junto toda essa balburdia que se seguiu. Fiquei mudo. Vieram CPI´s, “cassações”, novas denúncias. E eu, calado. Tentei reagir, confesso. Reli Cervantes, revi Quixote e os moinhos, mas nada me “atiçava”. Lembrei Nicolau de Florença, e enojado, segui mudo. Diante do Word aberto, o cursor a piscar na tela pálida. E eu, estático. O que dizer sobre os acordões dos partidos para livrar a cara dos ladrões? O que dizer de um presidente de banco, que numa operação caseira, quebra o sigilo de um caseiro assalariado? O que pensar, se o tal caseiro tem um deposito de 25 mil na conta? Principalmente depois de ter estado com um Senador? Sem esquecer que o assalariado havia deposto numa CPI contra a honra de um Ministro de Estado. O que dizer?... ecoa no mar eterno de meus pensamentos esta indagação. Sequer me vem desse mar uma onda furtiva, que no mínimo me provoque os brios. E fugindo de detalhes mais sórdidos dessa área, graças a um providencial lapso de memória, recebi o desfecho em forma de dança. A nobre deputada Ângela “naoseioquê” fechou a fatura da sacanagem. Dançou feliz da vida após conseguir fazer livre da guilhotina um seu par de falcatruas, o nobre deputado João. Que tapa levamos, hein? E eu, que já escrevi tanto sobre o poder do voto, estou aqui, nocauteado. Quero pular fora desse balde de Halotano em que me encontro. Quero forças para gritar, reagir, fazer algo, mas... não vou me repetir nesse tema, fico com a poesia, com a doçura desse mundo amargo dos mortais. Deixo aos safos, aos poderosos legisladores que se acham dono da verdade suprema, deixo a estes o veredicto divino, esse é infalível.






segunda-feira, março 27, 2006

Em nome do pai

Estava assistindo tv essa semana e vi num noticiário uma cena que me chamou a atenção. Uma senhora, daquele tipo enrugado, pequeno e de idade indefinível que tem em geral o sertanejo nordestino, maldizia a sêca que assolava a região onde morava. Era uma situação realmente deprimente... A família, enorme, não tinha o que comer. Ela levou a equipe de reportagem à cozinha (ou ao arremedo de cômodo que eles chamavam assim) e mostrou uma panela suja com água e uns caroços de feijão. Era aquilo e o arroz empapado. E velha tinha presa a si uma criança de colo. Menino cabeçudo, subnutrido e já com a cara sofredora, tristonha e faminta que provavelmente levaria vida afora. Toda a casa exalava uma atmosfera pesada, com aquelas pessoas feias e com aspecto de fraqueza e desamparo que os barro batido das paredes só fazia acentuar.

Lá uma hora, close no rosto da velha já numa cena externa, enquanto o reporter pergunta o que que aconteceria dali em diante se continuasse o período seco. Ela, olhos sofridos e chorosos, puro sofrimento e rugas, responde: "Agora tá nas mãos de Deus, meu filho... Foi ele quem quis assim!". Corta pra uma
música de fundo daquelas tocantes, com uma olhadela compungida - provavelmente muito bem estudada - do repórter, e o quadro termina, dando lugar às notícias mais amenas do noticiário.

Comecei então a matutar sobre o deus daquela velhinha. Dela e de mais outros tantos iguais na mesma pobreza e feiura. Baseado no que cada um deles poderia atestar de forma veemente, é um deus justo e cheio de misericórdia; poderoso a ponto de lhes melhorar a vida, de acordo evidentemente com seu próprio merecimento. Pois sim... é também o mesmo deus que os coloca a todos do lado errado da tal da partilha do que lhes cabe do latifúndio, sem possibilidade alguma de "mudança de lado". Aliás, é desalentador perceber quão deslocado esse pessoal está, qualquer que seja o ângulo a partir do qual se proponha a ver o mundo... até geograficamente eles estão no lugar errado! Mesmo porque ao que parece, o mesmo deus que lhes nega o que comer (por provável falta de merecimento), faz ganhar - por merecimento em excesso? - prêmios de loteria às dezenas a uma figura que, guardada a minha reconhecida ignorância no campo da teologia, eu sempre imaginaria num dos últimos lugares de uma hipotética fila de distribuição de bençãos e benesses...

Eu, de minha parte, creio em deuses um pouco mais palpáveis. O deus da disponibilização igualitária do conhecimento, por exemplo. Nos templos dedicados a ele se pediria por uma estrutura educacional mais digna, em que o conhecimento se tratasse mais da formação da consciência de indivíduo e cidadão que da alfabetização capenga e da história/geografia marcadas edatadas com o intuito de formar "massa conduzida". Um outro deus digno de uma boa romaria seria o da verdadeira distribuição de renda. Um daqueles para o qual se pudesse orar para que as quantias destinadas a programas sociais (preferencialmente os não-assistencialistas) não fossem perdendo-se no caminho, indo parar em cuecas de petistas, construtoras de pefelistas ou em lugares ainda mais estranhos...

Um deus que regesse meios de comunicação íntegros e comprometidos com a divulgação da verdade pura e simples também não seria nada mal. É... aquela sem interpretações dúbias de intelectuais representante de elites. A que tem uma análise somente: a correta. Eu mesmo levantaria um altar em honra de um deus assim. E rezaria por menos novelas, programas de auditório dominicais, revistas de fofoca, pagodeiros ou qualquer outra particularidade que caracterize uma sociedade de consumo fácil e hábitos massificados.

É que assim, cercado por tanta proteção divina, eu sei que qualquer pessoa levantaria pela manhã com a saudável sensação de que entende o mundo em que vive... de que sabe o papel que desempenha nele, e entende melhor as regras que o regem. E que não vai ser enganada por nada. E que vai ter a justa oportunidade de construir, com as mesmas chances que qualquer outro, seu lugar debaixo do sol.

Mas é foda... porque no final das contas, com ou sem deus, eu não consigo tirar o rosto daquela velhinha do pensamento. E isto me entristece muito... :(

domingo, março 26, 2006

Qualquer coisa

Quanto mais eu fujo de mim, mas espalho meus rostos na casa de espelhos. Tenho sentido qualquer coisa que não é saudade nem solidão. Não sei ao certo se quero ter alguém ou se evito a todos, pois meu objetivo maior é a ignorância daquilo que não quero saber.

Na verdade todas as minhas certezas foram concluídas. Mas a minha vontade em executá-las é tão pequena, que deixo a vida sozinha, enquanto atravesso a rua e mudo de calçada. Dizem que o nome disse é depressão, mas eu prefiro chamar de falta de vontade de fazer qualquer coisa. Dizem também que o que tenho é baixa auto-estima, mas se for verdade, a minha é negativa, pois se há alguém que não acredita em si, aqui estou eu.

Ainda assim, não obstante a tudo que conquistei além do seu desamor, tenho vagado com tantas certezas fugazes que até a constatação de que estou vivo me soa algumas vezes falsa. Porque no final das contas às vezes duvido da existência. E o que sobra depois disso? Para mim, nada!
Sinto qualquer coisa indefinida, que não é desprezo nem desapego. Qualquer coisa que não é aranha nem Espanha, até porque nunca entendi essa música de Caetano. Mas sigo qualquer coisa sexo, qualquer coisa casto. Entre as mentiras e verdade, fico no meio-termo, porque ninguém quer tomar banho de água fervendo. E no meio termo, de tudo que tenho, além do meio e o do termo, oscilo entre dias e noites, horas e instantes. Nada pretendo, mas a minha pretensa inteligência sempre é usurpada pela minha ignorância de mim, como se houvesse eu e a parte do meio-termo que não quero que exista. Mas todo mundo é lobo por dentro. Eu não sou diferente.

Mas ainda sinto qualquer coisa que não se define, porque ainda, como sempre disse, não aprendi a falar sentimentês. Na verdade tenho estudado no dicionário “mulheres-homenhol” a definição de romance. Porque se o que vivi nos últimos anos é qualquer coisa parecida com relacionamento, preciso aprender a amar, porque até agora o que aprendi foi a ser só e ter alguém de mentira, para suportar minha existência sem adjetivo.

E na casa de espelho, espalhando meus rostos, finjo que sei que sou qualquer coisa diferente de mim mesmo.

***

Esse texto eu escrevi essa semana lá no Divã. Minha total falta de assunto me fez postá-lo aqui também. Semana que vem, depois do encontro baiano, mando notícias de Sampa.

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Olhos Vermelhos

Não, ele não podia ter saído assim da minha vida. Foi o primeiro amor da minha vida. Não desse jeito. Fora o homem por quem eu esperei toda a minha existência. Não, ele não podia ter feito isso comigo. Isso não se faz com mulheres como eu. Eu o amava. Eu me submetia. Ele tem duas filhas comigo. Não. Não acredito.

Vou escrever esse bilhete. O que eu vi foi ilusão. É, ele não faria isso. "Traga um peixe para mim meu amor, beijos Maria". Ele só foi pescar com aquele amigo dele. São amigos de longo tempo. Não, eles não se beijaram na boca. Tenho que parar de tomar aqueles remédios. To vendo coisa. Vou colocar o bilhete dele no estojo dele de pesca, ele vai abrir, vai ler e trará um peixe. Comeremos e tudo vai ter passado apenas de uma ilusão.

Ele ta saindo. Em dois dias ele volta. Vou cuidar das minhas crianças. Mas e esses olhos? esses olhos vermelhos no espelho. O que é isso? lágrimas? não, não posso chorar. Eu tava vendo coisas. Não, ele não estava se agarrando com um amigo na escada. Por que vocês insistem em cair lágrimas? por quê?

Eu o conheci pequeno. Era de uma familia de interior. Ele foi bem educado. Jamais faria isso. Ele me encantou desde a primeira vez... é, lembra? a primeira vez... Foi tão lindo. Ele me tratava como a sua princesa. Casamos. Quando tivemos filhos ele conseguiu me encatar ainda mais com aquela forma meiga e doce que cuidava das crianças. Me encantava todas as vezes que comprava briga por causa do nosso bem-estar. Me encatava com a forma que me tratava na cama... Sempre com muito carinho, sempre com muito amor.

Ele chegou. Cadê meu peixe? não, não pode ser. Ele passou dois dias. Vou perguntar a ele. O que? pescou muitos. Comeu todos? e meu bilhete. Não, não pode. Vou abrir o estojo dele. Ta aqui. Como pode? intocado! não, não mesmo. O que ele fez dois dias sozinho com esse amigo nas montanhas. Ele está me trocando. Por um homem. Não. Não acredito nisso.

O que? eu só sirvo para ter filhos? como ele pode me dizer isso depois de tanto tempo? não! hã? vai se mudar? morar com ele? por quê? e nosso filhos e nossa vida? e o castelo que construi só para nós dois? não, não me deixe aqui sozinha apenas com esses meus olhos vermelhos... não me deixe.

Ps. inspirado na foto e numa cena do filme que vi(O Segredo de Brockback Mountain)

sábado, março 25, 2006

Um Filme em 1,63m

Ela sempre deixava para calçar a sandália por último. Não era porque gostava de ficar descalça, mas sim porque se sentia muito desconfortável em cima de saltos tão altos. E foi assim naquele início de tarde. Última escovada no cabelo, um pouco de perfume no pescoço, retoque no batom e sandálias de salto alto. Ritual cumprido despediu-se de quem estava em casa e saiu.

No meio do caminho tinha uma pedra (tinha uma pedra no meio do caminho!), sem perceber ela pisou em falso, o salto enganchou, o pé torceu e o corpo perdeu o equilíbrio. O corpo começou a cair. Entre se dar conta da queda e a lembrança de quando estava galopando em disparada foram milésimos de segundos.

E de repente sua mente se encheu de lembranças. Boas e ruins. Lembrou do final do filme “Beleza Americana” e ficou meio desesperada, mas foi deste mesmo filme que veio uma imagem agradável, o saco que voava cheio de ar por uma rua deserta. E no calor insuportável que faz em Feira de Santana ela caía, mas não sentia a queda. E determinou que apenas bons pensamentos lhe invadissem a cabeça.

E o corpo finalmente chegou ao chão. As lembranças pararam ali. 1,63m não é assim uma grande distância que se permita ter muitas lembranças, se ela fosse pelo menos dois centímetros mais alta teria direito a mais uma visita ao passado. Mas ela se levantou, limpou a roupa meio envergonhada e partiu desconfiada de que estava vendo filmes demais. Imaginando coisas demais.

domingo, março 19, 2006

Encontro digital

Pois é, depois de quase um ano juntos, postando semanalmente e convesando pelo MSN, com regularidade, conheci duas das digitais.

Isso mesmo, se você acha que nós todos nos conhecemos, está muito enganado. Daqui eu conhecia apenas Leonardo e Patrícia, ambos moradores do mesmo bairro que eu. Tem também o Diógenes, baiano que ainda não conheço.

Em função de obrigações profissionais eu viajo bastante. Desta vez tive a felicidade de conhecer a capital do Rio Grande do Norte - Natal, terra das lindas Ercília e Marina. Como cheguei na madrugada de terça para quarta, reservamos a quinta para nos conhecermos.

Noite gostosa, barzinho agradável, música afinada e a excelente companhia de duas grandes poetisas. Vejam como são as coisas: em Salvador moram 4 digitais, que nunca se encontram. Eu precisei viajar quase 1300 quilômetros para conhecer e sair com duas antes de sair com os digitais da minha cidade.

Portanto proponho um encontro. Melhor, exijo um encontro dos digitais residentes da capital baiana (Lélia, claro que você também está intimada, já que Feira é logo alí). Precisamos nos conhecer a todos, beber um pouquinho e compartilhar idéias que seguramente tornar-se-ão (com mesóclise e tudo) belas estórias aqui em nosso canto.

Minha sugestão: Casa da Roça, numa sexta-feira (que é o dia que eu posso tocar violão).

Outra coisa: de alguma forma precisamos marcar um grande encontro de todos os digitais. Basta apenas reservar a cidade e a data...

Beijos queridas Ercília e Marina e obrigado pelo passeio!

sábado, março 18, 2006

Dos amores que tive (e tenho)

Você já amou? Pergunta besta, não é? Tenho poucos e bons amores, amores incondicionais. Amores que só por si se justificam, amores que não fizeram nenhum esforço pra nascer, crescer, se reproduzir e viver. Dos amores que tive (e tenho), lembro exatamente do dia em que chegaram a minha vida.

Lembro do dia em que vi Julia pela primeira vez, se eu fechar os olhos agora, vejo com nitidez aquela menina com rostinho expressivo saindo do centro cirúrgico (nunca chorei tanto em minha vida). Vem claramente à lembrança o sorriso largo de Eduardo recebendo os candidatos para o estágio na TV Subaé, quem diria que aquele grandalhão iria entrar de forma tão irreversível em minha história? É impossível ouvir falar em Chico Buarque e Botafogo sem associar a ele.

Catharina eu conheci em um caruru que fui em sua casa, éramos duas meninas com menos de 10 anos, a gente brincou até a exaustão, comeu goiaba e bala de santo, no final do dia peguei seu número de telefone e escrevi na parede do meu quarto. Nunca liguei, mas a vida nos juntou novamente alguns anos depois, sorte minha! Com Ricardo a amizade foi virtual no início, mas a primeira imagem que tenho dele é de um homem altíssimo, com blusa de frio, cor mostarda, um sorriso lindo, vindo em minha direção com os braços abertos, estávamos na rodoviária de Vitória da Conquista, exatamente um ano depois de a gente se conhecer e desenvolver uma concreta relação de amor pelos caminhos imprecisos da Intranet.

E Zohra? Aquela figura esquisita que ficava no fundo da sala comprida do 3º ano, ninguém tinha coragem de chegar perto de tão arredia que era a criatura, não sei se por capricho ou inocência eu arrisquei (e deu certo!), as vindas aqui em minha casa, as descobertas de livros, músicas e sabores de bebidas alcoólicas, os palavrões, e o jeito debochado de ser de uma influenciou a outra.

Tem também Leonardo, conheci Leo (xleonardox, pra ser mais exata) num dia relativamente místico, 04/04/04, Leo ama um pingüim, gosta de meu cabelo (mesmo despenteado), me faz feliz e é a única pessoa pra quem eu arrisco falar meu portunhol descarado. É uma pessoa pra quem posso falar um 'nunca te vi, sempre te amei'.

Duda foi uma relação de amor requentada, nos conhecemos há mais de 15 anos, mas a amizade se firmou mesmo há alguns meses, mesmo ele sendo meu colega há um tempo maior. Ninguém substitui outra pessoa, mas este cara teve papel importante pra segurar a barra quando Eduardo foi embora para Conquista, Duda ganhou a mim e a minha família, e eu sei que nós o ganhamos também, hoje ele é um dos nossos.

Não posso esquecer Amaury, meu irmão, meu doce irmão. Micareta de 2001, eu estava trabalhando com Eduardo e de repente vejo minha irmã aparecer com um sorriso de quem estava realmente feliz, e ao seu lado estava um rapaz lindíssimo, com um sorriso ainda maior, e desde então ele faz parte de minha vida. Tem também as minhas irmãs e mainha, as minhas meninas, elas só serão citadas. Seu Zeca e Gabi, os homens da minha vida, também. Deles, qualquer coisa que eu diga pode parecer leviana ("amor que não se pede, amor que não se mede, que não se repete").

Dos amores que tive (e tenho), lembro exatamente do dia em que se separaram da minha vida. Posso dizer exatamente o que senti no dia em que partiram (e partem), poucos deles convivem comigo. Zohra está em Brasília, Eduardo em Conquista, Ricardo em Salvador, Catharina em Muritiba, Leo eu nunca encontrei, está no mesmo lugar de origem, Julia está comigo, Duda não foi embora, Amaury está com as minhas meninas, Gabi e seu Zeca estão juntinhos, um cuidando do outro.

Os que se separaram de mim, às vezes reaparecem como um nó na garganta, como uma falta no corpo, mas passa porque eu sei do reencontro. Os que se foram pra sempre reaparecem em minhas lembranças e sonhos. Nenhum deles me deixa só, o amor que tenho por eles quase consegue suprir as faltas físicas.

Desculpe se você veio ler uma crônica ou um conto, e encontrou esta confissão, é que eu acordei com saudade. E destes meus amores eu não poderia deixar de falar, porque qualquer coisa que eu já escrevi ou venha a escrever, certamente vai ter alguma coisa relacionada a eles, já cada um está em mim, assim como eu mesma, formando este mosaico que se chama Lélia Maria.

Agora me fale um pouco sobre os amores que você teve (e ainda tem).

quarta-feira, março 15, 2006

Todo carnaval tem seu fim

Era terça-feira, e o carnaval já apontava seu rumo para aquela hora ingrata, naquele mar onde todas as alegrias deságuam. A confusão sonora era inevitável àquela altura na Rua do Bom Jesus, com o desfile dos blocos, o chacoalhar característico dos caboclos de lanças do Maracatu, as vozes dispersas que se cruzavam ouvidos a fora. O cheiro de suor e álcool inebriante no ar, apenas prolongava a vontade de não mais sair dali. Sentado à beira da calçada, num breve momento de descanso, ele apoiava a cabeça entre os joelhos como se nela morasse todo o peso do mundo. Sacou da peruca black power, passou a mão na cabeça que ainda estava quente, mesmo com o sol já se havendo retirado do palco, e no céu, as estrelas mais ávidas já assistirem sorridentes aos últimos momentos da festa. Ficou ali uns cinco minutos. Alheio a tudo em sua volta.

Lentamente, como quem acorda, voltou à cena que os olhos estranharam, muito mais por culpa da bebida, esta que logo tratou de tatear à sua esquerda na calçada mesma em que estava. Sorveu um gole rico do líquido que trazia ali desde cedo. Com a costa da mão direita enxugou o pouco que escorreu da boca. Tentou levantar, em vão, voltou à posição inicial. Deu-se então um daqueles intervalos entre um bloco e outro, no que diminuiu o fluxo de foliões, e facilitou uma visão mais ampla do que havia por perto. Foi aí que ele olhou numa linha reta à sua frente, exatamente na outra calçada, sentada na mesma posição, uma mulher normal. Olhou para ela mais pela coincidência da posição que por outro motivo, ou atrativo. Achou engraçado que naquela confusão de gente, duas pessoas houvessem tido a mesma vontade de sentar, em posições e momentos idênticos, e, milimetricamente colocadas frente a frente. E não apenas isso, posto que guardavam suas bebidas no mesmo lado na calçada. Num estalo, ambos deram conta do fato, e um inevitável sorriso simultâneo brotou nos lábios separados pelos paralelepípedos da Rua do Bom Jesus.

Levantaram-se ao mesmo tempo. Sorrindo deram o primeiro passo em direção ao outro, e mal perceberam uma troça relâmpago que vinha da Praça do Arsenal, e não deixou que os dois espelhos se tocassem. Num minuto foram levados contra vontade para lados opostos de braços esticados como se dessem sinal de onde estavam, e seguiram tragados pela multidão, olhando à toa de ponta de pé na suposta direção onde estaria o outro. O turbilhão seguiu a rua como um mar de alegria e sons. Os espelhos foram juntos desaguar no Marco Zero. Ele àquela altura, ansioso. Ela desesperada. Na multidão dispersa no amplo espaço do local, eles se transformaram em olhos, buscando um ao outro, e já pensando que o jogo de gestos idênticos era coisa do destino.


Mais de uma hora depois, ninguém havia se reencontrado, e tristes, cada um sentou no muro do cais, onde outros foliões também estavam. E vendo o mar ficaram, cada um com seu pensar, com seu “por que?” ecoando na cabeça. Porém, folião bom não descansa, e os que pousavam no cais alçaram vôo, e deixaram os tristes a pensar na vida. Foi aí que ele, no afã de tatear mais um trago, olhou à sua esquerda e deu com ela girando a cabeça à direita no mesmo instante. Sorriram juntos. Levantaram-se novamente, e livres dos empecilhos ficaram enfim mais próximos. E ela viu sua barba rala com defeitos, e ele viu que seus olhos eram verdes, e que ela tinha sotaque do sul. Ela aceitou seu convite para voltar à folia, e ele pegou na sua mão fria e trêmula. Seguiram como se fossem antigos namorados. Pularam juntos o resto daquela noite mágica. Beijaram-se e beberam da mesma bebida. E quando a última estrela, triste, ensaiava a despedia ante os primeiros raios da quarta-feira, eles voltaram ao ponto onde tudo começou, deram um último e longo beijo, e cada um seguiu seu caminho na sua calçada.

segunda-feira, março 13, 2006

Meninos são sempre meninos...

Fim de tarde num coletivo qualquer da cidade... Relativamente vazio, ainda que num horário que não me agrada. Retorno dos meninos dos vários colégios... vozes demais, espaço físico de menos... Assumo minha tradicional "posição de autista" adotada em coletivos quando não tenho humor pra observar e/ou interagir. De início até funciona... Mas lá uma hora, quando menos espero, já comecei a me dar conta de dois garotos sentados atrás de mim. Até ali, imerso em meus próprios pensamentos e problemas, ainda não havia dado muita atenção ao que conversavam de forma tão animada... Mas ora... é ponto pacífico que conversa de ônibus é de domínio público. Ninguém em sã consciência conta segredos - não os que quer que sejam mantidos como tal - dentro de um ônibus. E lá vão os dois guris, tagarelando. E lá vou eu, me desligando por um tempo de minha própria vida pra, de forma relutante, me dedicar a esta que é a provável atividade mais prazerosa a que pode se dedicar um ser humano: Saber da vida dos outros.

A conversa dos meninos - que pareciam recém-saídos da aula - não poderia estar girando em torno de tema mais batido. Meninas... Um deles comentava com o outro quão gostosa estaria uma coleguinha de colégio. O outro respondeu alguma coisa num tom de voz um pouco mais baixo (eu já fui menino, e lógico, não precisaria escutá-lo pra imaginar o teor do que foi dito). Ao que o primeiro - nitidamente o mais extrovertido dos dois - retrucou a título de troça e em alto e bom som sobre a suposta virgindade do mais tímido. Bom... Nessa hora não tive como evitar um sorrisinho de canto de boca, lembrando de mim mesmo aos 13 ou 14 anos, e de quão ferinos poderiam ser comentários desse gênero na pré-puberdade. A resposta, que obviamente teria sido a minha própria| em outras épocas, ou a de qualquer outro guri ferido em sua virilidade, foi uma daquelas grosserias ditas da forma mais desavergonhada e alta possível, em que com todo o gosto do mundo se envolve a mãe, irmãs e o que mais de componente feminino houver na família do oponente. Evidentemente, na maior parte das vezes meninos não dizem isso com o intuito de machucar o outro. Dizem rindo, estapeando-se de leve, com aquela vitalidade ingênua que chega a assemelhá-los às vezes a cachorrinhos! Tentem observar cãezinhos brincando. Eles rosnam um pro outro, dão-se patadas e lambuzam-se (e também aos donos), e tudo isto com uma energia ingênua que beira a burrice. Tantas vezes quantas forem jogadas bolas coloridas de borracha para que peguem e tragam, tantas vão ser as vezes em que eles as pegarão e trarão... e em todas as vezes, com aquela cara de felicidade e a língua bobona escorrendo baba pra todo os cantos.

É a mesma vitalidade com que os guris lançam-se às discussões mais descabidas, como se da defesa de seus pontos de vista naquele momento dependessem suas próprias integridades. E é assim que percebo os dois pequenos ali atrás agora a ponto de se engalfinhar por não chegarem a um consenso sobre se seria ou não burrice ir a uma LAN House para jogar Super Mário, como um deles aparentemente havia feito, e tentava se explicar. Aqui cabe um aparte: Em geral se vai a LAN Houses com o intuito de disputar jogos em equipes, como corridas em grupos, futebol, voleibol e os famosos jogos que simulam combates. Por isso mesmo faz parte da formação cultural de guris de qualquer parte do mundo| saber que é o maior contrasenso, além de desperdício de tempo e dinheiro ir a um| destes templos de jogatina brincar de Super Mário ou acessar Internet. E neste ponto eu, menino que já fui um dia, com uma rápida olhadela de desaprovação velada fiz o menino do Mário perceber que não tinha como ganhar aquela... Pra não perder ainda mais terreno, eis que o| guri muda sutilmente o rumo da conversa. Só que notei logo que foi infeliz. Na pressa pra sair da situação constrangedora, instigou o outro a falar das aulas de Matemática. Campo| que, tão logo começaram a falar, ficou claro que não era de domínio de nenhum dos dois... desculpas gaguejadas aqui e ali sobre os| fracos rendimentos de ambos na matéria, pelo menos nesse quesito| ambos, que até ali haviam discordado em praticamente tudo sobre o que conversavam, uniram-se no ataque aos professores... aqueles "ordinários sem nenhuma| didática", que aparentemente haviam reprovado boa parte da turma sem razão alguma ("notas baixas?", pensei cá comigo...)!! Daí a falarem dos boletins foi um passo, para logo falarem das professoras bonitas que tinham, e dos planos mirabolantes para que não precisassem ir às recuperações de final de ano (e eu imaginando se não seria mais fácil começarem a estudar logo por agora, ainda no início do ano, que já começarem a traçar os tais planos alternativos?), e mais adiante estavam novamente discutindo sobre meninas gostosinhas do colégio... meninos vão ser sempre meninos...

E tudo isso do alto da vitalidade de seus 13 ou 14 anos. E eu imaginando por que cargas d'água eu não tinha ali comigo uma bolinha colorida, só por via das dúvidas...

domingo, março 12, 2006

Dos medos que tenho...

Eu morro de medo de cobra. Minha irmã tem medo de fantasma. Eu também poderia morrer de medo de fantasma, mas só tenho medo de cobra. Meu pai diz que não tem medo de nada, mas não assiste filme de terror... Um amigo meu, valentão, disse que só tem medo de encontrar o diabo. Eu também poderia ter medo do diabo, mas eu tenho medo de cobra, porque a gente só tem medo do que não pode ver. Já tive muito medo da solidão. Hoje não. Hoje tenho medo de cobra, porque o pavor está em não vê-la. Não saber onde está. Já a solidão ta logo ali. Vem e volta, bate e se acalma. Ninguém mais tem medo da solidão. Nem eu. Agora só tenho medo de cobra.
Quando você passa a ter medo só de cobra, a vida pára. Fica um tanto sem graça. Acho que na verdade, a graça está em ter medo de ligar pra saber como está. Tem graça ter medo de se perder no caminho, tentar tomar de assalto um coração cheio de espinho ou embarcar numa bad trip só pra saber se volta.
Meu primo de 21 anos ainda tem medo de escuro. Eu também tenho medo de escuro, outro além da cobra. Mas penso em perder o medo de escuro e ficar com medo só de cobra. Perder o medo é como levar um tiro de escopeta na cabeça. Não tem volta. Mas por enquanto eu sigo com medo de cobra e escuro.

Quando eu era criança eu tinha medo de Deus, porque minha mãe dizia que se eu fizesse algo errado ele me castigaria. Eu achava que o castigo de Deus era ele me pegar e me jogar do céu aqui no chão. Então eu tinha medo da dor de cair do céu pelas mãos de Deus. Eu tinha medo do diabo, porque eu não queria vomitar nem ficar com a cara verde, rodando a cabeça. E tinha medo de Cristo, mas esse eu não sei explicar. Antes desses medos todos eu tinha medo da Cuca e do Saci-pererê. Sempre que minha mãe me mandava fechar os olhos para lavar minha cabeça eu tinha medo de abrir e descobrir que minha mãe havia se tornado a Cuca. Até hoje eu fecho os olhos com medo de abri-los e encontrar o que não quero.

Hoje eu tenho medo de cobra. Na verdade eu vivo atormentado por pensamentos estranhos. Perseguição e doença. Porque eu sou hipocondríaco. Daqui a pouco vou fazer uma ultrassonografia nos olhos. Você conhece alguém que fez uma? Pois agora conhece. E hoje à tarde vou ver o médico do joelho, porque sigo há dois meses com dores no joelho direito. E não jogo bola. E não corro. E não faço qualquer atividade física. Mas meu joelho segue doendo há dois meses. E eu sigo com dor no joelho direito e com medo de cobra.

E tenho medo de ficar louco. Minha avó por parte de mãe é louca e dizem que a segunda geração herda a loucura. Meus pensamentos oscilam entre a sanidade e a loucura, então eu não sei se estou ficando louco ou se de fato as pessoas me perseguem. Mas a verdade é que eu sei que as pessoas me perseguem. Eu sinto no ar que tem alguma coisa acontecendo. Então eu saio na rua com medo de gente e de cobra. Porque eu odeio lugares com muita gente. E odeio ainda mais a solidão, por isso não gosto de usar escadas de grandes edifícios: você sempre vai ouvir vários passos enquanto caminha sozinho. E eu sempre ouço passos com os meus, e não são de Deus, porque ele sabe ser silencioso como uma manada de elefantes correndo do meteoro que se chocou em Santo Antonio de Jesus na madrugada de 08 de março. Foi a maneira sutil que Deus encontrou para comemorar o dia internacional das mulheres. Acho que meu medo de Deus está voltando. Assim como aqueles que me perseguem e as cobras, que vivem me metendo medo.

Mas a distância entre intenção e gesto é a mesma que separa o medo da valentia. Acue-se e o medo passa. É como levar um tiro de escopeta na cabeça. Não tem volta.

Só para terminar, quero ressaltar a benevolência e bondade quase divina de nós homens, que cedemos um dia do nosso calendário anual de dias para dedicar às mulheres, que se agraciam por tão pouco.

Viva o dia internacional da mulher – 8 de março. Fiquemos nós, homens, com os outros 364 dias intergalácticos dos homens.

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It's just a joke...

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sábado, março 11, 2006

Dia de festa

Ela olhou um pouco maravilhada para o vestido longo, vermelho e bordado com alguns canutilhos da mesma cor. Era um vestido alugado, percebia-se pelas costuras que ele já se adaptara ao corpo de diversas mulheres, com manequins e vidas diferentes. Colocou o vestido, calçou o único sapato de festa que tinha e mesmo percebendo que não estava combinando muito, insistiu no arremedo. O que importava mesmo é que aquele era um dia de festa.
Era um casamento. E para mulheres que sonham com um príncipe, que nem precisa ser encantado, casamentos são excelentes oportunidades para ter mais um sopro de esperança de que a próxima seja a sua vez. Seja por escrever o nome na barra da saia da noiva ou por pegar o buquê o fato é que estas mulheres sonham, mesmo que estes sonhos acabem no final da festa, quando a maquiagem já não está assim tão impecável e os pés já estão doloridos por causa do desconforto do salto.
No salão de beleza ela pede um penteado, maquiagem leve, mas que combine com a cor do vestido. O vermelho cai muito bem na sua pele clara, as bochechas coradas remetem à idéia de fruta fresca, gostosa. Coloca perfume em partes específicas do corpo, e começa a entoar mantras que elevem a sua auto-estima enquanto coloca a meia de seda, vestido e sapato. Ela estava realmente bonita, enquanto colocava o brinco e colar sorria se olhando nos olhos, se a noite acabasse ali, já lhe bastaria, ela estava realmente bonita.
Chegou à festa, encontrou pessoas conhecidas, encontrou pessoas desconhecidas, conversou, deu risada, dançou. Dançou com várias pessoas, e se divertiu muito. Mas não pegou o buquê, nesta festa não estava a sua oportunidade de ser a próxima noiva, voltou para casa com a maquiagem impecável, os pés estavam doloridos, mas ela ainda tinha sonhos românticos. Naquela noite ela estava especialmente bonita.

quinta-feira, março 09, 2006

Rato Branco.

Ele não sabia bem o que pensar ou sentir a respeito. Simplesmente marcou, e ia - que não é de voltar atrás depois de apalavreado. Seria mentira se dissesse que tinha vontade de ir. Outra, se dissesse que não queria ir.
Ela, por sua vez, se arrumava com critério. O tomara-que-caia vermelho, que ele gostava, e que quase não cabia mais – graças a três anos disciplinados de academia. Maquiagem discreta, brilho nos lábios, salto agulha dourado. Algumas bijuterias combinando com o colar de ouro, que ganhara dele em seu segundo aniversário de namoro. Perfume discreto, tornozeleira também de ouro, combinando com os sapatos. Ela sabia que tornozeleira lhe chamava a atenção. Sem calcinha.
Tudo saiu conforme ela planejou. Começaram na cobertura do apartamento emprestado, com vinho tinto e terminaram na cama do motel. Passaram pelas risadas, pelo risoto ao creme de camarão, pela boate na Barra, onde ela beijou outra menina, pelas lembranças da viagem para Recife e das férias em Campos do Jordão, por uma ligação para uma amiga que os dois não viam desde aquele tempo - cheia de novidades, pelos elogios mútuos e, no caso dela, justificados, por um baseado no carro enquanto ouviam Kid Abelha, por sexo sem o jeito de antigamente, mas com tanta ou mais vontade que as primeiras vezes, e alguns bons orgasmos.
Ele fumava um cigarro quando chegou o táxi, que ela não lhe havia visto chamar.

- Já vai?
- Vou.
- Me liga?
- Vamos ver...

Depois da transa ele tinha tentado não pensar no porquê deles terem terminado. Não conseguiu. Ele se sentia um rato de laboratório - choques elétricos no meio da gaiola e, cada vez em um canto, cocaína.
[]´s

domingo, março 05, 2006

A solidão das pautas é a falta das letras

Pois é, estou vivendo mais uma entressafra poético-literária. Esse período negro e obscuro, quando o papel insiste em permanecer branco, com suas pautas vazias de sentido, como o coração do amante que perdeu o seu amor. E estou assim. Entressafra poético-literária.

Tento, em vão, registrar qualquer fagulha, qualquer resquício de sentimento que tenha sobrado em mim. Ou tento, também sem sucesso, trazer um pouco do meu cotidiano para as minhas pautas. Ainda tento versar com as palavras poucas que conheço mas, tudo que consigo, são linhas em branco aguardando um novo texto. É que eu deixei todo o sentimento em outro coração que não é o meu e que não me pertence mais. E se me pertenceu em qualquer outra estação, quando as safras eram mais constantes, eu nunca percebi.

Agora vivo o pesadelo das pautas que aguardam ansiosamente por palavras, estórias e romances. Até um versinho infeliz, qualquer coisa diferente da solidão. Porque para as pautas, a solidão é ter uma linha embaixo da outra, sem nenhuma letrinha entre elas. E de solidão eu entendo, porque já sou doutor no assunto.

Quando tenho uma idéia ou penso num versinho infeliz, corro para a página em branco e tento escrever, desenvolver alguma coisa. Mas uma greve foi instaurada no papel. Ele fica brigando todo o tempo com a caneta, impedindo que das minhas mãos saiam as palavras, quaisquer que sejam elas.

E aí vem o pior: o papel antes branco e repleto de inspiração se transforma numa rasura triste e disforme. Porque a tristeza da pauta é perder a inspiração para as rasuras feias e tristes. E entre a solidão das pautas com linhas uma embaixo da outra e a tristeza dos rabiscos feios, o papel prefere a solidão, porque tristeza é a saudade daquilo que a gente sabe que não vai ter mais, porque não teve competência para manter.

Saudade sozinha é o direito de esperar por algo que pode acontecer de novo. Diferente de esperança, que é aguardar que algo bom aconteça. Mas saudade acompanhada de tristeza é o fim!

E por fim, ainda na entressafra, não tenho como deixar felizes as pautas do meu papel, que andam tristes pelos rabiscos que eu deixei fazerem em meu coração.

sábado, março 04, 2006

Adormecida

E como num conto de fadas...
E como num passe de mágica...
E para cumprir um destino...
A bela adormeceu.

E esperou por seu príncipe...
E dispensou muitos sapos...
A bela dormiu, e dormiu.

E por falta de sorte.
(E que falta de sorte!)
O príncipe não apareceu.

Por muitos anos dormiu,
Esperou, dispensou...
Até que um dia morreu.

quinta-feira, março 02, 2006

Registro.

Quero mais deixar um registro que. Principalmente para não. De qualquer forma, tem a febre, o barulho da televisão passando. Isso não vai portanto até. Mas apareçam! Apareçam por.

[]´s