domingo, janeiro 29, 2006

Em cima da hora

Bom gente,

infelizmente surgiu uma viagem absolutamente não programada e não terei condições de postar algo interessante (certamente seria pior que isso).

Assim, deixo o espaço vazio e semana que vem vocês ficam com um pouco mais do nada dos meus pensamentos.

sábado, janeiro 28, 2006

A Moça e o Louco

Olhos verdes claro, olhar sutil e leve. Corpo perfeito. Lindas pernas morenas. Rosto arredondados e cabelos cacheados que caiam sobre sus olhos. Boca farta e rúbea. Estava ela, na minha frente. Me olhando com aquele olhar sério e indagador. E eu a contemplando, sentindo a sua beleza contrastar com a minha feiúra. Não ouvia o que ela dizia, ahh nem queria ouvir, queria ficar ali vendo sua boca dançar perto da minha, não me importa se era reclamação, não me importa o que era, o que importa era a sua boca ali, dançando perto da minha, seus olhos ali, a encarar minha pobre feiúra.

Senti vergonha, medo e admiração ali parado. Vergonha de estar na frente de tal beleza e não poder ser igualmente belo. Medo do que estavam pensando ou do que iam pensar ao ver ela ali, falando comigo. Admiração máxima pela sua beleza ímpar.

Não vá moça, fique aqui do meu lado. Deixa eu te olhar. Deixa eu te admirar. Não se afaste com essa cara de zangada. Não moça. Não vá. Não sei o que será de mim sem a sua beleza para olhar a partir de agora. Não sei. Queria poder ser igualmente belo, queria poder te dirigir a palavra sem me sentir envergonhado, queria que você ficasse aqui só por mais uns segundos. Agora você já foi e o que me resta são apenas lembranças.

Não, vou te seguir, irei aonde você for. Meu trabalho já não importa mais. Nada já me importa. To entrando no carro. Você estava num vermelho, sei bem qual é. Vou te acompanhar até em casa para poder te ver uma última vez. Ali, te achei, nem foi tão dificil. Não ande tão rápido moça, não precisa disso. Não quero saber, vou te seguir, vou acelerar. Não passe no sinal vermelho... Passei também, nada me importa agora, só você. Olha o caminhão moça, não... Por pouco. Por que você não para? por que você não olha para mim? Não... sou muito feio, o que estou fazendo? não te mereço.

Sem você, não quero viver. Como vou viver agora sem mais poder te olhar nos olhos. Não moça, não. O carro...

Porteiro sequestra mulher de um condominio em São Paulo e bate de frente num carro de passeio. Todas as pessoas morreram.

quinta-feira, janeiro 26, 2006

O Homem que Tinha Ciúme de Laura e Fumava Cigarros.

Não conseguia deixar de pensar um minuto na vida, enquanto ela se esvaia naquele leito de hospital. Não temia a morte, mas sim concluir que houvesse desperdiçado o seu tempo com bobagens, com seu ciúme doentio que lhe corroera este tanto, e que o vencera aos quarenta anos, com o câncer que se espalhava nos seus pulmões. Era o resultado dos cigarros acesos uns nos outros enquanto desconfiava da mulher.
Não conseguia pensar na vida sem que a imagem de Laurinha se formasse em seus devaneios. Surgia como se no horizonte de tudo o que ele lembrava de bom. Nada para ele fazia sentido sem Laura.
As imagens que lhe vinham eram de Laura entre os lençóis da sua cama, sorrindo ou dormindo com a boca aberta, ou dela no banco do carona rindo de suas bobagens, se apresentando no teatro, linda, como a bailarina principal do grupo. Segurando sua filha no colo pela primeira vez. Ensinando, mais tarde, sua filha a brincar com uma casinha de plástico com depositários de peças coloridas em formas geométricas. Imagens de Laura no céu de Paris...
E se intercalavam suspiros e descompassos, quando ele lembrava que ficava em casa esperando Laura voltar dos ensaios, fumando um cigarro atrás do outro na varanda, com vergonha de sua filha vê-lo assim. Lembrava de como ela conversava com seus amigos com desenvoltura e simpatia, e ele, mantendo as aparências, acendia outros cigarros, enquanto queimava por dentro uma fogueira intensa de calor desmedido, que ele tinha que ignorar.
Lembrava que, então, passou a não querer mais ver os amigos, e perdeu a intimidade com a filha, de tanto que ficava na varanda, e perdeu o contato com o mundo, e já não ouvia falar, portanto, em nada que se passava com sua esposa, seu mundo, a não ser pelas palavras dela, e mergulhava na incerteza, com seu fôlego curto dos pulmões prejudicados.
Ele pede para que sua filha espere fora do quarto alguns minutos, e pergunta, pela milionésima vez, à mulher:


- Laura. Eu quero a verdade. Não lhe custa nada, não vai me prejudicar agora. Só não quero morrer sendo o bobo da história. Você alguma vez me traiu?
- Você está sendo bobo, meu amor. Eu te disse isso a vida inteira. Nunca te traí, nunca tive vontade de fazer isso. Você é mais que o bastante para mim. Eu te amo.
- E o Renato? E o Márcio? Eles cobiçavam você!
- Nem lembro do Renato direito, bobo! E Márcio era só um colega do balé, meu bem. Sempre foi.
- Me promete que vai ser feliz, então, a partir de agora? E cuida bem de nossa filha...
- Prometo, amor.


E dito isso, lágrimas escorreram pelo rosto magro, minguado pelo câncer. Àquela altura, com o rumo que sua vida tomara, no fundo queria que a mulher dissesse que sim - "traí". Queria ouvir que não se matou por uma infantilidade irrefreável, tantas vezes acusada e nunca admitida. Morto pelo ciúme fútil de uma mulher que sempre lhe amara. Queria ouvir, tão simplesmente, que sempre teve alguma razão para seu comportamento. Só queria estar certo. E esse desespero o tomara, seu coração parou, e seus olhos permaneceram abertos, olhando para Laura.
Do lado de fora do quarto, enquanto isso, a filha deles dividia os fones do iPod com "tio" Márcio, que tinha um caso com Laurinha desde que ela terminara com Renato, que ela namorou ao mesmo tempo que Hermes, dono da academia de balé onde dançava, e que a levava para passear de lancha às tardes de semana, enquanto os cônjuges de ambos trabalhavam, e nunca desconfiaram do romance entre os dois...

[]´s

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Memórias de um soldado de exército

Pedrinho nasceu no interior de Pernambuco, a duas horas da capital. Cresceu correndo nas ruas de terra batida da Vila da Cohab. Cabelos loiros e revoltos, com mechas grudadas na testa pelo suor das pernadas diárias; eis sua fiel caricatura. Um pouco maior que os moleques da sua idade, era um fiasco nas peladas, exceto na posição de goleiro. As bolas altas não tinham vez, já as rasteiras... estas se deparavam com um cego que mal as tateava, era gol na certa; deixando às exceções, as que porventura, ou má pontaria, resvalavam nas suas canelas pretas, pintadas pela poeira da várzea. Havia ocasiões em que o magricela era o dono da vez, e na escolha da linha, coitado, via-se de fora do próprio time.

Era um bom menino. Travesso, sim, como todos que passaram por essa época; e atire a primeira vidraça quem nunca foi pedra. No futebol era isso. Nas brincadeiras de polícia e ladrão, corria à beça, no time dos ladrões. Era muito mais emocionante. Nunca soltou pipas, não, era desajeitado demais para tal. Foi bem no jogo de chimbras, posto que perdia poucas.

O sonho do garoto era pilotar um carro. Era paixão daquelas. Quando bem menor, reconhecia de ouvido o ronco do motor de um Jeep, de uma Aero Willys, com exagero e tudo da mãe coruja. Lá pelos onze anos já era o manobrista oficial da casa. Tinha a manha de pôr o carro das visitas num tal espaço entre um coqueiro e o muro, que acabava por lhe roubar o melhor do sono às seis da matina, para tirá-lo de volta. Mas o orgulho lhe era estampado num sorrisinho de canto de boca entre olhos inchados. Aos 14 já dirigia pelos caminhos da praia com os pais. Na passagem pela policia trocava de lugar, e de soslaio sonhava olhando o guarda, com o dia em que o faria sozinho. E assim foi que bastou fazer 18 ele correu para tirar a carteira, esta que só foi usada aos 20, após ter saído do exército. E foi lá, por conta dela, e do sobrenome, que virou logo motorista de oficiais.

Aos dezoito o rapazote de 1,82m alistou-se nas forças, e seguiu para a capital para as entrevistas de seleção. Caiu de bandeja na Polícia do Exército, para sair dez meses depois, com amigos feitos e uma saudade aliviada. Menos mal mesmo foi ter morado esse tempo numa quitinete à beira-mar de Olinda, com a tia Cida. Era delicioso abrir a janela aos fins de semana, e ver aquele canavial malemolente banhado de sol e mulheres com suas asas deltas, o must da época em questão de bikinis. Durante a semana, antes de o sol subir, o ritual era o mesmo. Saltava da cama, corria pro banheiro, e debaixo das gotas glaciais do chuveiro se barbeava. Saía de lá devidamente fardado, e cheirando à loção. À mesa, fumegante, um prato de mingau de aveia, ou, como se diz aqui em PE, “prato de papa”. Aquilo nos primeiros meses, com a brisa de inverno que insistia pelas frestas, era uma delícia. Mas, Pedrinho vinha meio que enjoando da iguaria que inebriava o apê com o odor de canela e aveia. Astuto, bolou o estratagema. Passou a deixar a papa na geladeira, com o intuito de deliciá-la à noite, quando voltava varado pelo mau trato alimentar da caserna. E foi assim por duas semanas. Chegava e traçava o pratinho gelado com prazer, até o dia em que ecoou no minúsculo recinto:

“Ô Pedrinho, tu não estas comendo a papa de manhã?, por que, hein?”

“Ah tia, é que eu gosto dela geladinha, quando volto com fome...”

“Ah tá... tá certo...”


E lá foi o soldado deitar. Dia seguinte, sol dormindo, levanta Pedrinho meio sonâmbulo rumo ao banheiro, e, inebriado pelo cheiro mesmo de cada dia, sequer olhou para a mesa. Banho. Barba. Frio. Farda. Saiu do ritual direto para ela, e perplexo ficou ao parar diante do seu lugar, quando viu que lá estavam dois ilustres pratos da mesma papa...









terça-feira, janeiro 24, 2006

Sentimental

Sábado, 21 de janeiro – 20:00 h

A lua envolve a noite com um pequeno sereno abrindo os portões da vida para mais um dia comum, mas que em poucas horas se tornaria completamente atípico.
Sexta feira, 20 de janeiro – 8:00 h
Minha cabeça dói, na noite passada superei meu ponto limite de embriaguez e me pus frente a vergonha infame de uma inconsciente tragédia, o álcool.

Banho demorado, ânsia de vômito, rádio ligado com ouvidos em pé, como se adivinhasse que algo de diferente seria anunciado naquela manhã, e repentinamente, na 103.9 – FM, logo após tocar uma música de uma banda pouco conhecida (Som da Rua), a notícia segue no “rodapé”: ingressos para o show do dia 21 que terá como atração principal a banda “Los Hermanos” esgotaram por volta das quatorze horas desta tarde de quinta-feira, são previstas cerca de duas mil pessoas para o evento.

Corro, procuro algo, que neste caso, tem valor inestimável, abro meu guarda-roupa, dentro de um porta cerveja com o adesivo de uma banda regional (SeuZé) encontro o papel tão valioso que fez com que minha ressaca passasse: a entrada para o tal show do dia 21, que tinha esgotado enquanto eu bebia as saudades de uma pessoa que andara distante.
Sábado, 21 de janeiro – 23:00 h
Uma multidão se arrasta por umas ruazinhas de paralelepípedo que tem cheiro de rock, poderíamos dizer, afirmar, que se trata de algum movimento religioso, ou até mesmo, devido a constante cor preta presente no local, um ato fúnebre que envolve alguém de um valor inestimável.

Direciono-me para uma fila quilométrica que dá acesso ao templo tão desejado, quando entro posso ver que todos estão quase que estáticos, parados em frente a um palco de altura média, esperando com que algo ou alguém que mudaria suas vidas o ocupasse.

Entre o momento de espera e o momento em que os legendários sobem ao palco se passam infinitos trinta minutos, o local está cheio, me encontro a cerca de três metros do palco e não consigo baixar minhas mãos, as cortinas vermelhas se movem já se pode avistar a presença de quatro rapazes que possuem longas barbas, e enfim, o anúncio é claro e estimulante: “Natal, com vocês, Los Hermanos”.

Uma boa noite soa como alívio do vocalista mais magrelo da banda, palavras ditas, um som que faz pessoas chorarem, vibrarem, gritarem, louvarem, infesta o local, talvez eu não estivesse tão errado, talvez se trate mesmo de um evento religioso, uma religião feita somente para os corações sofridos, que estão longe das pessoas que amam ou que ainda não as encontrou na fila da padaria, é um som melódico agressivo deprimente, desses que te deixa fascinado com a idéia de que pulsos cortados nem sempre é uma opção tão errônea quando se tratado na vida real, na vida cruel que eles retratam, da vida que eles fogem por meio dessas músicas, que se encontra por trás de alguns sorrisos e algumas notas tristes e agudas.

Por volta da décima música, eu já estava suado, digo completamente encharcado, após vários confetes e serpentinas que só me fazem lembrar uma belíssima noite de carnaval, meu peito é traído, escuto aquele início lento e dedicado de um vocalista conhecido como Amarante, baixa e cautelosa sua voz contamina o local, faz com que ela ecoe pelo vento, gritando por socorro, por um volte logo – “O quanto eu te falei... Que isso vai mudar... Motivo eu nunca dei...” – ele então chora, para lhe chamar, para TE chamar, com uma esperança mínima, de que você tenha escutado seu sussurro de amor, MEU sussurro de amor.

segunda-feira, janeiro 23, 2006

Eu, vovó e as passistas

Vovó é uma octogenária daquele tipo durinho e reclamão de velhinha que cria problemas onde quer que vá. Já teve sua leva de atritos com motoristas de ônibus, feirantes, quitandeiros e todos os tipos de moleques do bairro onde mora. A todos, triunfante no meio de uma discussão, grita um "A mim ninguém faz de besta!!", que quer tenha ela razão ou não, ganha todo o peso do misto de cumplicidade e respeito que geralmente suscita nas pessoas o dito de um idoso enraivecido e indignado em situações deste tipo. Resumindo: a minha avó é brigona, e gosta de ser assim... Faz questão de mostrar sua independência, e roda a cidade portando seu cartãozinho de gratuidade. Infelizmente, o peso dos anos parece estar lentamente lhe cobrando sua quota, o que explicaria o fato de ela perder-se outro dia próximo de casa, e também vir deixando pratos passarem do ponto com tanta regularidade ultimamente (os pratos, ela evidentemente nos faz comer... afinal, segundo suas próprias palavras, "só 'pegou' um pouquinho, meu filho... Mas está tão gostoso!"). Vovó faz sequilhos e sucos deliciosos, e é extremamente carinhosa com todos os netos - e até com os bisnetos também. Tem um daqueles rádios antigos cujo som rouco e enjoativo a surdez faz com que seja compartilhado com vários de seus vizinhos, geralmente sintonizado em violentos programas policiais (que ela adora dormir escutando).

Gosto muito de quando ela resolve vir aqui em casa. Sua chegada segue um ritual todo próprio. A começar pela campanhia, por exemplo... vovó tem o hábito de deixar o dedo na campanhia o tempo que dure a chegada de alguém à porta pra atendê-la (quer isso leve alguns segundos ou cinco minutos), o que faz com que às vezes até o filho do dono da mercearia do lado perceba sua chegada. Entra reclamando de que anda cansada e com dores (deixar de andar de ônibus pra todos os lados? nem pensar!!), e após uma sutil e quase imperceptível revista pela casa - com o intuito de certificar-se de que minha mãe esteja mantendo tudo de seu agrado, creio eu - vai com sua sacolinha pra cozinha. Seguimos, e ela começa a tirar as coisas que invariavelmente traz pra nós. Por mais rápida que seja sua vinda aqui, não lembro de algum dia ela haver deixado de trazer um mimo qualquer... um docinho... um pãozinho com queijo...

Vovó tem um hábito engraçado. Basta que sentemos em frente à tv pra assistir alguma coisa, e lá vem ela puxando papo. São monólogos interessantes, imagino, já que não presto mais muita atenção. As histórias são um tanto repetitivas, mas com alguns "hunrum" e um ou outro comentário de aquiescência consigo driblar a situação sem maiores problemas, e sem perder muito do que estiver assistindo. Com o Carnaval aproximando-se e o número de mulatas bundudas exibindo-se na tv aumentando consideravelmente (para meu deleite, e desespero de vovó), as coisas tomam outro rumo. São indignadíssimos seus protestos a cada vinheta de mulata que a Globo exibe. Acho que ela nem notou ainda que não é mais a Valéria Valensa balançando garbosamente comissão de frente e bateria na telinha, mas como o que vale é reclamar, lá vamos nós com um rosário de impropérios.

Sábado agora estávamos eu e vovó assistindo ao programa do Luciano Huck. Mais por inércia, na verdade... Eu, por pura falta do que fazer, ela por estar ali ao lado conversando comigo (tv ligada, eis a vovó na sala, conversando, etc), quando começou o que me pareceu ser um Concurso de Mulatas Bundudas. E se era realmente isso, nossa! Elas bem faziam jus à disputa!!! São o tipo de mulher do qual não se consegue tirar o olho nem que se queira! E, bom... a verdade é que eu NÃO QUERIA... Vovó, logo ali ao lado, vociferava de raiva: "Olha que descaramento! Imagina! A mulher está semi-nua! Imagina se cai aquele nada de roupa que ela está vestindo!!". E eu, cá com meus botões, torcendo pra que isso realmente acontecesse, murmurava alguns "hums" de apoio. Estava mais do que claro que eu e vovó tínhamos pontos de vista ligeiramente diferentes no que diz respeito a mulheres semi-nuas aparecendo em vinhetas e programas de auditório de sábado à tarde. Mas preferi não deixar tão claras minhas preferências, pelo bem do bom convívio.

Mas seja como for, ficamos ambos por ali observando aquelas indecências até que terminou o concurso (infelizmente a menina pra quem eu torcia não ganhou... o que é uma pena, já que ela representava com galhardia minhas convicções do que deve mostrar uma boa escola de samba) e começou um velho filme policial, fazendo com que vovó rapidamente mudasse o foco de sua indignação da sem vergonhice das mulheres semi-nuas para a desnecessária violência gratuita mostrada na tv ultimamente.

Afinal, nos tempos dela...

domingo, janeiro 22, 2006

Forrest Gump

Lá onde eu trabalho, eu tenho um apelido, dentre tantos que eu já ganhei: Forrest Gomes. Claro que não é preciso explicar sua origem: eu sou um contador de Histórias. E histórias com H maiúsculo, porque tudo o que eu conto é verdade. São coisas que aconteceram comigo de verdade, por mais esdrúxulo e impossível que seja.

Contar histórias não é relatar um acontecimento: é reviver quantas vezes forem contadas, as histórias, cada momento outra vez. E sem poesia, sem lirismo e elementos lúdicos, uma história é apenas um relato jornalístico de qualquer acontecimento. E aí a história não tem graça e ninguém quer ouvir você.

Lá onde eu trabalho, ninguém acredita muito nas minhas histórias. Léo já ouviu dezenas delas, nas manhãs em que dividíamos o carro, quando trabalhávamos vizinhos um do outro. Ele pelo menos acreditava.

Certa feita, eu estava tomando uma cerveja com dois amigos num posto de gasolina, quando eu ouço ao longe um sotaque hispânico. E eu, com a minha mania de falar espanhol, fui logo puxar assunto com a garota que estava por lá. Por acaso, dona de uma casa de putaria em Sevilla. Ela estava com outros dois amigos e terminamos a madrugada num hotel vagabundo, os seis, bebendo e fazendo filho. Um de cada vez, tentou fazer um filho nela. E no final de tudo isso, eu ainda dei uns murros num dos caras, que resolveu virar namorado da dama e criou problema com todo mundo.

Numa história dessas, logo de cara, ninguém acredita. Contada por mim, cheio de elementos teatrais, muito menos. Porque eu falo pela boca, pelos olhos, cotovelos e mãos. Meu corpo fala, contando comigo as minhas histórias.

No dia do meu aniversário ano passado, eu estava indo para um cliente com um colega de trabalho, quando um louco cortou nosso carro. E ele tentou fazer de novo, barrado pela astúcia do meu colega, bom motorista. Revoltado, o tal louco resolveu tirar satisfações logo comigo e eu parti logo para um vá tomar no c* e um seu viad** filho da pu**. Quando eu menos espero, ele cola o carro dele ao lado do nosso e aponta um revolver.

Eu, munido de uma coragem idiota, mandei ele atirar e xinguei ainda mais, o valentão armado. Dei um tapa forte no capô do carro dele e coloquei a mão para trás, para puxar minha identidade (que por acaso é federal). Não sei por que, talvez ele tenha achado que eu estava armado ou era autoridade (ele não viu a identidade), e freou ficando atrás do nosso carro. Imediatamente eu peguei o celular, liguei para a polícia, dei a placa, modelo e localização do carro dele que, ao perceber, deu meia-volta e desapareceu.

E nessa história, só acreditaram porque eu tinha testemunha.

Eu sei que fui burro, porque brigar no trânsito nos dias de hoje, é querer morrer. Desafiar uma arma é ainda algo mais idiota, mas eu ainda estou aprendendo a me controlar. No final das contas eu não sei o que aconteceu, mas tenho a placa, modelo e cor do carro. Só falta a localização.

Eu estava em Fortaleza a trabalho. Resolvemos ir ao Beach Park. Estávamos em 5 e o brinquedo só permitia de 3 em 3. Ou seja, eu sobraria, porque eu não tinha outras duas pessoas para irem comigo.

Não sei de onde, aparecem duas garotas lindas e me perguntaram qualquer coisa que eu não lembro. Mas lembro que eu falei que só podia ir de 3 em 3 e elas quase desistiram de ir, quando eu disse que não tinha com quem ir e fomos juntos.

Conversa vai, conversa vem, descubro que ela estava hospedada no mesmo hotel que eu, em férias com a irmã. Por aqui eu já posso terminar a história e deixar que vocês concluam. Até porque não é todo dia que uma coincidência desse tamanho acontece.

E eu não sei por que fui escolhido pelo destino para viver histórias estapafúrdias. Porque se eu fosse um relator normal de histórias, seguramente acreditariam nelas. Mas eu tenho que contar como se estivesse numa peça de teatro. Aí já viu...

Indo para Fortaleza eu vejo logo na primeira fila o cantor Fagner. Entrei numa boa e tomei meu lugar. Não sei porque cargas d’água eu resolvi cantar comigo mesmo uma música dele. Escolhi a música “borbulhas de amor”, baixei a cabeça e comecei a cantar baixinho essa música que eu tanto gosto. Mas porque eu sou diferente, resolvi fazer uma imitação dele, fechando os olhos e mexendo a cabeça, fazendo a careta que ele costuma fazer enquanto canta.

Não sei porque resolvi olhar para o lado e vi alguém de calças pretas em pé, ao meu lado. Olho para cima e quem eu vejo, me olhando com um sorriso sacana no rosto?

Se eu ficasse quieto, provavelmente não passaria pelo constrangimento. Mas aí também não seria eu...

E nessa história, mais uma vez, só acreditaram porque eu tinha testemunha.

E assim eu sigo contando as minhas histórias, por onde quer que eu vá.

quinta-feira, janeiro 19, 2006

Bolo de Goiabada ao Queijo Creme.

Massa:

1 colher de sobremesa de fermento em pó;
2 xícaras chá de farinha de trigo;
2 xícaras chá de açúcar;
1 xícara chá de água;
1 pitada de sal;
3 ovos.

Creme ao queijo creme:

1 colher de sopa de essência de baunilha;
3 colheres sopa de amido de milho;
1 colher sopa de aguardente;
1 xícara chá de leite;
100 gramas de queijo creme;
1 lata de leite condensado;
1 lata de creme de leite;
1 gema.

Recheio:

1 lata de goiabada mole.

Preparação

Massa:

Na batedeira, bater as claras em neve, juntar as gamas, o açúcar, a farinha de trigo, peneirada, o fermento e o sal. Incorporar à mistura, delicadamente, a água, sem bater. Acomodar esta massa, em forma untada e enfarinhada e, levar para assar em forno bem quente, por cerca de 18 minutos. Retirar do forno e deixar esfriar, para poder rechear.

Creme:

No liquidificador, bater todos os ingredientes, exceto a aguardente, o queijo creme e a baunilha, que só serão usados no final. Em uma panela, levar esta mistura ao fogo e deixar cozinhar, mexendo até engrossar. Desligar o fogo, acrescentar o queijo creme, misturar bem, para incorporar os ingredientes. Perfumar com aguardente e baunilha e deixar esfriar.

Montagem:

Cortar o bolo em duas partes. Passar na primeira parte, um pouco da goiabada, em seguida, colocar uma camada do creme e cobrir com a segunda parte do bolo. Repetir a mesma sequência, terminando com a goiabada. Levar para gelar por 2 horas antes de servir. Se desejar, fazer porções individuais.
[]´s
Hehehehe...

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Crime ou castigo?

Bateu a porta com força, e para trás deixou o pouco que tinha, entre ecos do estrondo, e uma enorme vontade de mudar de idéia. Desceu as escadas tateando o corre-mão enferrujado do casarão centenário, e, praguejando a escuridão foi dar na calçada aos solavancos. Recompôs-se. Seguiu meio sem rumo pondo o que restava da camisa amassada para dentro das calças. Caminhava e olhava para trás, e para o alto, no afã de ver na janela algum resquício de sua importância. Nada viu. As poucas pessoas cruzavam fitando-o atônitas, pelo seu mais atônito jeito de estar, àquela hora da noite, e ali. Aquele emaranhado da cabeleira, a barba de dias, as olheiras de noites, e um olhar de fome de vida.

Parou no mesmo boteco inóspito de sempre, e no balcão, sem dar pela ausência de bancos, sorveu de goles um conhaque duvidoso. A música do ambiente falava de amores imperfeitos, e ele, sem falar, pediu outra dose. Num replay da cena anterior, sorveu seu conhaque revolucionário. O jejum acelerou a reação do álcool no corpo, e aquele balcão se fez um cais para o navio que ficou ali aportado ao sabor das marolas. Na cabeça um filme das últimas horas. A atmosfera lasciva da alcova, o fumo, o cheiro da fêmea no seu, os olhares trocados, sons, gostos, carícias; a pequeneza das palavras soltas que ecoavam sem nexo entre aquelas paredes destacadas pelo mofo. Tirou do bolso uns trocados, pôs sobre o balcão na mudez mesma, e trôpego se afastou. No banheiro fétido viu-se de chofre num espelho de bordas carcomidas. Um susto!
Lembrou que dentro dele havia alguém pior, lascas de um ser, naquelas “qualidades” que os espelhos ocultam. As mãos molhadas na pia suspeita escorregaram no rosto como que com vontade de transmutá-lo, ou mesmo, despertar daquele estado onírico, mas nada disso era.

De volta à calçada, a rua lhe pareceu mais escura, ou seriam seus olhos embaciados pela culpa. Seguiu, mas não sem antes repetir o olhar àquela janela, que por sinal, era a mesma desde o último. Rua afora em passos trôpegos, aquele corpo ora vazio, foi levado pelo acaso. Com muito custo chegou ao final do bairro, onde a última ruela desembocava num vasto cais. Do belo mar à sua frente, ondas desprezadas jogavam-lhe respingos. Nada via, a paisagem viva era como uma tela em branco. Na mureta sentou-se, e com a cabeça entre os joelhos, embarcou numa louca viagem, com o inconsciente transformado em monstros, cenas terríveis, gritos, e afins. Minutos depois, o irreal soltou de dentro, e olhos abertos ou fechados surtiam igual efeito. O corpo seco levantou, atormentado, mãos em vão a se defender da perseguição, saiu entre corridas breves e passos lerdos, a repetir o caminho feito há pouco.

De volta à rua da janela muda, já sem ver nada além das inefáveis companhias, refez o trajeto isentando o bar, e como um autômato, esbarrou na porta entreaberta do casarão centenário. No mesmo tatear praguejado, subiu as escadas tropeçando. A porta era a mesma, ausente do eco, como numa fotografia. Abriu-a lentamente, e o cheiro mesmo de sempre lhe invadiu as narinas. Sorrateira, leve e calmamente, como se sóbrio estivesse, escorregou para dentro do ambiente insólito. A partir dali, o tatear se fazia inútil, pois, como ao corpo dela, conhecia bem o caminho até a cama. Assim o fez.

Deitado, um corpo na cama parecia jazer, de tão imóvel. Desnudo, mostrava no breve reflexo que vinha daquela janela, a perfeição mais justa numa meia escuridão. Chegou mais perto, tremia. As mãos percorreram a doce extensão desde os pés à cabeça, mas num tom de idolatria, sem tocar. Ajoelhado ao lado da cama, na altura da cabeceira, buscou sentir a respiração, inutilmente. Tremia mais forte, esfregava as mãos no próprio rosto, queria tirar a máscara, em vão. Num ato de desespero, agarrou-a pela cabeça, puxou-a para si, e beijou-a com força, como a querer trazê-la de volta. Sangue no beijo. Sentiu sua boca encharcada. Ignorou, seguiu beijando-a cada vez mais. Agora o sangue jorrava. Ainda mais desesperado, tentou estancar o jorro, mas nada o fazia. Num gesto absurdo, olhou em volta e berrou impropérios às visões, culpando o imaginário de seus erros, em especial daquele. E ao ver que os monstros vinham em seu rumo revidar, viu-se encurralado, e restando-lhe apenas a janela cega como ponto de fuga, não pestanejou. Largou-se do terceiro andar em vôo cego rumo ao chão, e lá chegou num estrondo abafado, seco.

No dia seguinte, quando a rua jazia sobre o domínio do astro-rei, transeuntes distraídos tropeçam no que seria o corpo de um bêbado, que na noite anterior adormecera ali, à porta de um casarão abandonado. Este, enquanto embalado a sono solto, balbuciava palavras vãs, que um ouvinte mais atento diria serem sobre amores e mulheres.

terça-feira, janeiro 17, 2006

Primeiro Post

Ela me olhou com lágrimas nos olhos, beijou a minha testa e disse:

- Eu não voltarei mais.

Fechou a porta, levando consigo os resquícios de meu amor, as suas fotos, as suas roupas que cheiravam a mel e que me derretiam cada vez que eu as tirava. Levou consigo o seu olhar que me deixava louco e me fazia sentir que eu era amado. Ela levou consigo todas as pequenas coisas e todo o castelo que construir para gozarmos o nosso amor.

Fui até a cozinha, os meus olhos já não seguravam as lágrimas que escorriam sobre a minha pele, me fazendo sentir como uma criança. Peguei o uísque que estava na geladeira. Não me detive, abri-o e fiz escorrer seu azedo leite por entre a minha boca de uma vez só. Fui ao meu quarto, peguei a única foto que não a deixei levar. Fora tirada no auge do nosso amor quando não tínhamos feridas a se tocar, nem dores a se lamentar. Quando ainda éramos amantes. Em prantos Rasguei-a e gritei até não ouvir mais a minha voz.

Caído no chão, acordei e ela não estava lá para me colocar sobre a cama, para cuidar de mim com tanta delicadeza que só ela sabia fazer. Tomei um banho rápido, vesti uma roupa surrada, suja. Peguei minha carteira. Sai de casa. Fui ao harém mais próximo e gastei todo o meu dinheiro, todo o meu amor, todo o meu desejo e toda a minha dor naquelas mulheres, procurando-a, mas ela não estava lá. Voltei para casa sujo, empodrecido com aquilo que tinha feito. Pensei em ligar para ela, pedir desculpas, falar que só ela me consola, falar que ela era o amor da minha vida, mas não quis e por um instante pensei em tirar a minha própria vida. Fui então novamente à cozinha, peguei outra garrafa de uísque e senti-o escorrer novamente pelos meus lábios, pela minha garganta pelo meu estômago. Tudo girou. As lagrimas não paravam de cair, já não me segurei, liguei para ela, pronunciei meia dúzia de palavras sem sentido, ela desligou na minha cara falando para eu não mais procurá-la. Meu coração disparou. Lembranças de tudo que foi bom e também de tudo que foi ruim passaram pela minha mente.

A ela dediquei toda a minha poesia, toda a minha bebedeira, todo o meu corpo. Por ela morri.

Ps: Olá pessoal ;] sou Fábio, amigo de Marina e ela me chamou para ser convidado desse blog do qual eu sou fã. Adoro os textos daqui e para mim é uma honra participar aqui com vocês com meus textos que ainda não são lá essas coisas mas dão pro gasto. Esse daí de cima é antigo e foi inspirado num texto que li por aqui. Achei interessante colocá-lo como primeiro post.

domingo, janeiro 15, 2006

As dunas do RN

"Porque as coisas tem de ser tão tristonhas em finais de tardes de domingo?", é o que pensa consigo a menina Marina, enquanto olha distraída e sonhadoramente pela janela de seu quarto. "Sei lá... a impressão que dá é que se nos tiram os calendários, e que se por uma dessas loucuras que só acontecem em filmes simplesmente não soubéssemos mais dos dias da semana, nas tardes de domingo sempre saberíamos: Hoje definitivamente É domingo!". E pronto... lá vai a Marina, viajando na maionese de novo!

O vento entra frio pela janela, e Marina olha a rua à frente... aliás, é mais um "pedacinho de rua" que propriamente uma rua o que Marina vê de sua janela. E se percebe sorrindo de leve, enquanto lembra de quando era mais nova, molequinha sapeca de sorriso fácil (e choro também!), que olhando dali mesmo costumava ver um pedaço tão maior destas mesmas ruas... destes mesmos telhados... e das dunas! Mas a mãe comentava sempre: "É o progresso, Marina! Dia desses constroem tanto aí em frente que nos tiram até a visão das dunas!" As belas dunas! Olhando um pouco mais à frente, lá estão... imponentes... enormes... O engraçado é que todo mundo fala que dunas movem-se todo o tempo... mas então porque a pequena Marina sempre as viu assim, como estão agora? Ou será que eram os olhos da memória lhe pregando peças? Será que eram eles, e não o progresso diminuindo o campo de visão das dunas, telhados e casas?

O frio aumenta, e Marina encosta um pouco a janela e volta pra cama. Acabara de sair do banho. Os cabelos molhados tem um aroma delicioso que impregna o travesseiro quando ela deita. Se a mãe a visse agora... "Sai daí menina, que molha todo o travesseiro!!". Vários CDs jogados na cama, Marina pega um sem ao menos olhar. É do Jeff Buckley. Engraçado essas coisas, pensa. É só deixar a cargo do acaso que ele acaba fazendo a escolha certa! Vai o Jeff Buckley! Os pais estão lá fora assistindo tv (os Faustões, Gugus e similares, que proliferam-se como ratos aos domingos) e ela encosta a porta do quarto pra não incomodá-los. O som vem tranquilo, e ela fecha os olhos pra senti-lo melhor. Marina é uma menina sonhadora... tem belos cabelos pretos (agora cortados um pouco mais curtos que de costume), e um rosto extremamente agradável... daqueles de menina cheia de ternura em que o tempo, se não esqueceu de vir tirar as marcas da criança e deixar as da mulher, fez uma intrigante mistura das duas. É isso... quando se olha pra Marina, a impressão que se tem é de que é um rostinho saído das tirinhas da Mônica! Uma personagem de tirinhas da Mônica vestida com camiseta do Led Zeppelin, jeans desbotado e pulseirinhas de miçangas nos braços.

Marina anda entusiasmada com o livro que começou a ler... é um universo totalmente novo, extremamente tátil, cheio de nuances, repleto de referências e detalhes de um mundo que é inteiro de melancolia. E aos poucos ela percebe como isto influencia sua morenice brejeira, já tão criativa por natureza. E nota que tem sido mais fácil escrever desde então. Sim... Marina tem o dom da poesia e da prosa... e é uma poesia toda própria, com doses disto e daquilo, que justamente por não terem as proporções exatas dos compostos com os quais acostumara-se a lidar, soa tão visceral. É... num desses desvios de tudo que é natural e lógico, nossa menina Marina foi achar de meter-se com pipetas, beckers, tubos de ensaio e mais outros tantos vidrinhos, líquidos coloridos e pozinhos idem aos quais dedicam-se os alquimistas modernos perdidos na assepsia sem graça dos laboratórios do mundo. E nessa hora, imaginando a personagem da turma da Mônica metida num jaleco dentro dum laboratório qualquer fazendo sabe-se lá que experimento, Marina sorri novamente. "Química... nossa! Que poesia pode haver na Química? Será que pode?". E lá vai Marina, a viagem e a maiosene!! E haja maionese!

"Ei Marina, começou o Big Brother! Vem ver não, minha filha?". É a mãe da Marina, bem na hora em que ela já sonhava em ir embora pra Bahia morar numa aldeota qualquer na beira da praia, vivendo de artesanato, poesia, música e amor. Não... nos sonhos da Marina não tem espaço algum pra laboratórios, mestrados ou tubos de ensaios... que fique pra outros a responsabilidade de descobrir fórmulas mágicas... Mas agora já é quase-segunda-feira... só resta o Big Brother e a esperança de que haja mesmo a praia paradisíaca perdida na Bahia esperando por ela, a menina Marina, e toda a maionese em que ela possa viajar.

Pra Marina Rabelo, uma menina morena de quem gosto demais da conta.

Ano novo, vida nova!

Ainda falando sobre o novo ano, porque de qualquer forma ele ainda é novo, tenho feito balanços anuais sobre meus resultados pessoais a cada ano que passou.

Desde que comecei a trabalhar, isso em 1997, percebi como o que eu chamo de Deus, tem sido bom comigo. Nunca fiquei desempregado, sempre tive reconhecimento pessoal e crescimento exponencial, pois a cada novo emprego novos desafios e maiores responsabilidades me são atribuídas.

No início de 2004, entretanto, sofri um grande golpe: por questões pessoais me desliguei da empresa que eu mais gostei de trabalhar. Era como uma parte de mim e isso me fez muito mal. Tão mal que só percebi quando me vi numa depressão grande e total infelicidade no novo emprego. Mas Deus, sempre bom comigo, providenciou uma solução para o problema e no inicio de 2005 entrei na empresa onde hoje atuo.

E posso dizer que jamais trabalhei em um lugar tão bom e com tantas oportunidades como a empresa onde hoje trabalho. Conheci muita gente, muita gente me conheceu, viajei e conheci boa parte desse nosso Brasil e aproveitei essas viagens profissionais para fazer um pouco de turismo, porque ninguém é de ferro. Tenho colegas de trabalho que posso considerar amigos, chefes que são verdadeiros líderes, porque vêm você como uma pessoa, um ser humano, alguém capaz de somar, e não como apenas uma peça que pode ser reposta quando se tem vontade ou necessidade.

E agora, no começo de 2006, uma nova e talvez a maior mudança que já tive em minha vida profissional: mudança de estado. A empresa está me transferindo para Recife. E o que isso significa?

Na vida pessoal minha total independência, pois sairei da casa dos meus pais, coisa que eu quero há tempos. Isso eu sei que vai garantir grande crescimento pessoal e a amadurecimento, pois agregarei responsabilidades que nunca tive.

Profissionalmente? Estou indo para um novo escritório, em grande fase de crescimento e expansão, para a maior cidade do nordeste em volume de negócios e grande exposição para mim como profissional, pois a empresa estará me vendo numa nova vitrine.

Se eu sempre reclamo da minha vida amorosa, sempre frustrada por desamores constantes e meu jeito errado de amar, na vida profissional vai tudo bem, obrigado. E eu queria compartilhar isso com vocês, amigos reais e virtuais aqui do nosso cantinho.

sexta-feira, janeiro 13, 2006

Dom Quixote tupiniquim

Final de ano, sempre a mesma coisa. A Rede Globo faz a sua tradicional campanha publicitária, com seus quadros desejando um mundo melhor para todos nós, e belas imagens com aquela música de fundo que bem conhecemos. Tudo bem bonitinho, como só ela sabe fazer, unindo o clima a certos componentes da época. Um desses, a Corrida de São Silvestre - que na minha infância era à meia-noite, e foi manipulado pela poderosa a ponto de ser realizada atualmente às três da tarde, o que a fez perder todo o encanto -. Sempre nos dias que a antecedem, vêm aquelas matérias, onde a produção escolhe um personagem folclórico entre os inscritos e vai em busca de riso ou lágrima. Nessa edição viu-se uma nonagenária nissei que já ganhou várias vezes em sua categoria, depois de ter sido aconselhada pelo médico a caminhar para se livrar de uma forte depressão. Ou um outro que sempre sai fantasiado de modo a aparecer na televisão.

Dessa vez um caso específico me chamou atenção pelos ingredientes: um cabeludo à Conselheiro, um barraco à deriva, um córrego inóspito, e a chuva. Estava armada a cena predileta da tv-mãe. Elias, um desempregado, vivendo de biscates para sobreviver com mulher e filhos num barraco de madeira, se equilibrando à beira de um córrego imundo.
Dentro de seu vasto ângulo de esperanças, juntou uns trocados sabe-se com que sacrifício, adquiriu uma pseudo-bicicleta ergométrica para treinar resistência, e, com isso, tentar a sorte na prova. Sair com a família dali para um pouso onde a dignidade passasse na porta, era seu anseio principal, depois do mais urgente. Não limitando o treinamento às pedaladas; Elias também corria descalço pelas cercanias do bairro, o que levou o repórter a filmar o nosso Quixote tupiniquim pelas ruas em sua disparada descalça. Câmera no carro, povo nas ruas entre aplausos e vaias.

Diante daquilo me lembrei de uma notícia de roda-pé que havia visto numa edição de Veja não muito tardia, sobre um aposentado carioca que morava nos fundos da casa da irmã. Amputado das duas pernas pelo diabetes, sobrevivia com uma pensão de 300 reais. Jogou três bilhetes na mega-sena, e ganhou 53 milhões sozinho. Estaria o ex-pobre assistindo àquilo? Algum rico com desprendimento estaria disposto a ajudar o nosso Elias de la Mancha? E fui dormir pensando em tudo, e no meu afã particular acreditei que no dia seguinte a Globo voltaria lá, e em nome de algum ser imbuído pelo espírito de natal, ajudaria o morador temerário. E me pus no lugar do Elias, imaginando como seria a sua noite, dividido entre o medo e o sonho. O medo da chuva, e agora, a esperança breve de rever o repórter Mauro Naves. Quantas noites já sonhei acordado, ali naquele terreno onde somos semi-deuses. Elias também o estaria àquela noite...


Passaram os dias, e nada. Eis que em São Paulo chove muito, e quando tudo já beirava a casa do esquecimento, me aparece no ar a repórter-poeta Neide Duarte, com sua voz compassada e bem colocada. Falava de uma enxurrada que caíra na noite anterior na capital paulista. O cenário era desolador; barracos, ou, restos de barracos, pessoas desconsoladas, crianças de pés no lamaçal, e, ao fundo estava o velho Elias. Como já era “conhecido”, foi logo chamado a declarar alguma coisa. Cantou seu lamento em clichês, e disse ter tido sorte, posto que saíra de casa com a família minutos antes da tragédia, empurrado por uma premunição. E seu nome de profeta não foi em vão, já que a televisão acabou voltando. E a mim restou assistir a tudo indignado, àquela prova viva do descaso público, e também de que o espírito de natal não funciona sempre. A matéria foi encerrada com o kit-lágrimas de sempre, um zoom no rosto cansado de um batalhador, que sentado numa pedra, acariciava um fragmento do sonho perdido; lascas de sua pseudo-bicicleta ergométrica.
Ps: Elias chegou 20 minutos após o vencedor, e a Globo estava lá.

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Existe uma pequena distância.

(Cof, cof... quanta poeira! Patrícia! Chama a Marina e manda passar um espanador aqui!!) :)
...
Existe uma pequena distância entre o que a gente pode e o que consegue. É a ironia de ter as melhores idéias quando se está deitado na cama, penando de insônia - mas se levantar para escrever, não dorme mais mesmo. E é preciso trabalhar cedo à manhã.
Ou a resignação de manter, ainda, parte do que se imagina ser mais imprescindível em você dormente, respeitando as regras sociais instituídas, por entendê-las ou por temer suas conseqüências.
Nas bases do convívio social a gente tem que reconhecer, entre muita coisa boa, algum cimento de hipocrisia. Mas a hipocrisia nem sempre é condenável - depende da finalidade, depende da ocasião.
Tem um abismo enorme entre o que não se consegue e o que não se tenta. Eu tento escrever a sério neste momento, mas estou quase com vergonha da semelhança disso com um e-mail barato de auto-ajuda, virtualmente assinado por algum autor famoso esotérico. Aqui chegaria a parte de fundamentar meus "ensinamentos" descrevendo uma lição aprendida de um Mago-Mor da irmandade dos Ñoüa nas montanhas de Taki Tikir. Shalam! Háméin! Talvez eu passe lá depois do expediente.
Não condeno nada, mas o que mais me entristece é virar a cara. Acho que qual seja o caminho, o combustível tem que ser disposição.
E se não der para ser as melhores idéias, "vocês vão ter que me engolir" e é com humor matinal. (Ou seja, Léo - tô contigo na continuidade do Expressões!)
E se não der para ser tudo o que se gostaria, não há qualquer porquê para não sorrir com a velha "O que é o que é", com Gonzaguinha. (Aos dias de "Sim", Múcio!)
Não deu para escrever o texto de ano novo semana passada, mas vai esse agora! Feliz ano novo, galera!
E não é que eu espere muito de 2006, mas é que eu sei que a vida devia ser bem melhor, e será! Mas isso não impede que eu repita...
[]´s

segunda-feira, janeiro 02, 2006

...and a happy new year

A idéia inicial era me ater a fazer um par previsões para o ano que se inicia. Mas cá entre nós, não sei até que ponto as previsões vagas da morte de uma velha e querida personalidade do meio artístico, ou do escândalo do desvio de verbas públicas envolvendo deputados em Brasília seriam provas do mérito de meus poderes premonitórios. Resolvi portanto, como é tão comum nesta época do ano, traçar alguns objetivos a serem perseguidos durante o ano. Creio que divulgá-los aqui não é tão mau assim... Afinal, eu certamente teria de dar satisfações depois sobre possíveis - e prováveis - previsões não realizadas... mas que dizer de objetivos pessoais não alcançados? Cabem a mim, e só a mim.

Comprar um fusquinha.
Talvez o mais correto fosse "comprar um carro". Afinal, assim deixaria a cargo da criatividade de quem lê dar forma a meus sonhos automobilísticos. Mas não é bem isso que quero... Imagina só você, leitor, em sua criatividade bondosa me colocando num daqueles carrões importados cuja quantidade de botões e luzes piscantes do painel provavelmente exigirá a leitura de um manual de complexidade não muito menor que o de um dos novos gadgets tecnológicos de última geração. Sem falar no fato de que eu não gosto deste tipo de carro. Não me imagino chegando ao Mercado do Peixe, cercado por seus aprazíveis botecos com mesinhas de plástico e banheiros ao ar livre, praquele congraçamento de praxe com a natureza e com os amigos num desses veículos. Fusquinha, por outro lado, é arredondado, pequeno, muito bonitinho - se bem conservado - e cumpre bem seu papel de me levar ao trabalho e trazer de volta pra casa sem maiores percalços (e em completo mimetismo com o ambiente que costumo frequentar). Sem falar no fato de que é muito estiloso, e tem pra mim o gosto bom da infância que deixei pra trás há muito tempo.

Enriquecer.
Tinha que necessariamente colocar este item, sob o risco de parecer um desses hippies comunistas sem ambição. A possibilidade é remota, no entanto. A não ser que software livre e todas as atividades envolvidas em seu desenvolvimento, implantação e manutenção tornem-se nos próximos meses extremamente rentáveis (e não se tornarão, acreditem...), terei de bolar uma atividade mirabolante qualquer, como a concepção de um negócio no estilo de comercialização de fraldas descartáveis, marijuana ou papel reciclado pela web. Assim posso ficar rico vendendo a empresa, como já fizeram tantos outros antes de mim. A não ser isso, é apelar pra possibilidade remota (!?) do enriquecimento por meio do sagrado joguinho das sextas-feiras na loteria esportiva com os colegas do trabalho. Hmm... quer saber? Eu gosto dos hippies comunistas e sem ambição, no final das contas...

Continuidade do e-digitais.
Este é um dos que pretendo levar mais a sério. Este projeto literário me pegou numa época em que eu meio que tinha "perdido o dom"... Quem gosta de sentar em frente a um micro e dar vazão ao processo subjetivo de passar idéias desconexas da cabeça pro "papel" bem sabe quão broxante é a impossibilidade de fazê-lo, quaisquer que sejam os motivos. Foi deliciosa portanto a sensação de perceber que eu "ainda podia", e é aos trancos e barrancos que venho tentando - dentro do que permite minha natural instabilidade - me fazer sempre presente neste cantinho já tão querido.

Encontrar um grande amor.
A bem da verdade, eu já o encontrei. E ele é bonito, tranquilo, duradouro, simples e muito intenso, do jeito exato que amores pra vida toda devem ser. Reapareceu ano passado (e ora vejam, já se pode falar em 2005 com certo tom de saudosismo!), e tem um quê de trágico, e é só.


Ler ao menos um livro por mês.
É uma daquelas resoluções que se toma e acaba entrando em choque direto com outra. Do jeito como vejo, a coisa é assim: "compro um fusquinha, ou leio um livro por mês..." Explico: Politicamente incorreto como possa ser do ponto de vista da visão (lenda urbana ou não, tem aquelas histórias de deslocamento de retina que todo mundo conhece), eu tenho o hábito de ler em coletivos. São inclusive os períodos mais rentáveis no que diz respeito a devaneios literários! Ora, que outra hora do dia eu poderia dedicar à leitura, se começasse a ir ao trabalho dirigindo? Oh, dúvida cruel...

Enquanto escrevia, fui me dando conta da quantidade de planos e objetivos esdrúxulos para os quais pretendo direcionar energia no ano recém-iniciado. Alguns são só tarefas bobas (como tentar pôr alguma ordem em minha coleção de gibis e digitalizar minha coleção de discos), outros tem possibilidade de realização tão remota que provavelmente não valeriam um segundo pensamento (acho que a viagem a Cuba vai ter de mais uma vez ficar entre esses últimos), e ainda um terceiro tipo, sobre o qual não pretendo fazer menção neste texto...

Mas seja lá como for, um detalhe importante - ainda que sutil - fica disto tudo. É essa impressionante capacidade do ser humano em geral de, por mais sem sentido, pequena e cheia de obstáculos que seja a vida, encontrar sabe-se lá onde esse tanto de fé no que está por vir... Essa fé no incerto, que o faz parar num dia como esse de hoje, e pensar: "Ahhh!! Esse ano vai!! Esse ano eu sei que vai!!"

Que o ano que chega seja para cada um de nós, e-digitais, bem como para cada um dos que nos agracia com o prazer da presença, nem melhor nem pior do que o que consigamos fazer dele.

domingo, janeiro 01, 2006

Feliz ano novo!

É ano novo e todo mundo está cheio de esperanças. De um país melhor (e campeão do mundo), menos violência, mais dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender e aquelas outras coisas da musiquinha irritante que todo mundo canta na hora da virada.

Eu sou do tipo que passa a virada em casa. Esse ano, mais precisamente, na cama dormindo. Acordei com as bombas (com o barulho que faziam não eram certamente fogos de artifício) e fui dar um abraço no velho, o único que fica em casa também. Além de não ser fã de festas em geral, odeio qualquer lugar com muita gente, barulho e aperto. Gosto de conforto, de tranqüilidade e sossego. Podem me chamar de chato.

Por mais que eu me esforce muito, não consigo entender a euforia que toma toda a gente, que sai de casa com seus espumantes e sua felicidade transbordante, vão à praia e ficam por lá para ver a queima de fogos e abraçar a todos, cantando emocionados a chegada do ano novo. Deus, enquanto escrevo percebo como esse ritual é bobo. Ou sou bobo eu, que não consigo ser normal.

Eu não consigo ficar à vontade em festas. Porque eu olho para os lados e vejo todo mundo se divertindo e eu sendo chato. Por isso fico em casa: se é para se aborrecer, fico no conforto do meu lar.

Mas todos os desejos que são feitos na virada do ano eu também faço. Eu sou movido à esperança que desejo todos os anos um ano melhor. E vou até o fim acreditando que tudo vai ser melhor. E utilizando um pouco das minhas habilidades que me deram a alcunha de “Nostragomes”, vou fazer algumas previsões:

1. O Brasil não vai ser campeão do mundo. A Alemanha será.
2. Os políticos vão continuar roubando muito.
3. Eu não vou ser feliz no ano novo, nem vou encontrar o amor que tanto espero.
4. Minha banda não vai fazer sucesso.
5. Um certo político baiano de três letras vai passar dessa pra melhor (tá bom, desejo não vale como previsão).

E ontem eu vi a queima de fogos de Copacabana. É coisa linda de Deus.