domingo, janeiro 15, 2006

As dunas do RN

"Porque as coisas tem de ser tão tristonhas em finais de tardes de domingo?", é o que pensa consigo a menina Marina, enquanto olha distraída e sonhadoramente pela janela de seu quarto. "Sei lá... a impressão que dá é que se nos tiram os calendários, e que se por uma dessas loucuras que só acontecem em filmes simplesmente não soubéssemos mais dos dias da semana, nas tardes de domingo sempre saberíamos: Hoje definitivamente É domingo!". E pronto... lá vai a Marina, viajando na maionese de novo!

O vento entra frio pela janela, e Marina olha a rua à frente... aliás, é mais um "pedacinho de rua" que propriamente uma rua o que Marina vê de sua janela. E se percebe sorrindo de leve, enquanto lembra de quando era mais nova, molequinha sapeca de sorriso fácil (e choro também!), que olhando dali mesmo costumava ver um pedaço tão maior destas mesmas ruas... destes mesmos telhados... e das dunas! Mas a mãe comentava sempre: "É o progresso, Marina! Dia desses constroem tanto aí em frente que nos tiram até a visão das dunas!" As belas dunas! Olhando um pouco mais à frente, lá estão... imponentes... enormes... O engraçado é que todo mundo fala que dunas movem-se todo o tempo... mas então porque a pequena Marina sempre as viu assim, como estão agora? Ou será que eram os olhos da memória lhe pregando peças? Será que eram eles, e não o progresso diminuindo o campo de visão das dunas, telhados e casas?

O frio aumenta, e Marina encosta um pouco a janela e volta pra cama. Acabara de sair do banho. Os cabelos molhados tem um aroma delicioso que impregna o travesseiro quando ela deita. Se a mãe a visse agora... "Sai daí menina, que molha todo o travesseiro!!". Vários CDs jogados na cama, Marina pega um sem ao menos olhar. É do Jeff Buckley. Engraçado essas coisas, pensa. É só deixar a cargo do acaso que ele acaba fazendo a escolha certa! Vai o Jeff Buckley! Os pais estão lá fora assistindo tv (os Faustões, Gugus e similares, que proliferam-se como ratos aos domingos) e ela encosta a porta do quarto pra não incomodá-los. O som vem tranquilo, e ela fecha os olhos pra senti-lo melhor. Marina é uma menina sonhadora... tem belos cabelos pretos (agora cortados um pouco mais curtos que de costume), e um rosto extremamente agradável... daqueles de menina cheia de ternura em que o tempo, se não esqueceu de vir tirar as marcas da criança e deixar as da mulher, fez uma intrigante mistura das duas. É isso... quando se olha pra Marina, a impressão que se tem é de que é um rostinho saído das tirinhas da Mônica! Uma personagem de tirinhas da Mônica vestida com camiseta do Led Zeppelin, jeans desbotado e pulseirinhas de miçangas nos braços.

Marina anda entusiasmada com o livro que começou a ler... é um universo totalmente novo, extremamente tátil, cheio de nuances, repleto de referências e detalhes de um mundo que é inteiro de melancolia. E aos poucos ela percebe como isto influencia sua morenice brejeira, já tão criativa por natureza. E nota que tem sido mais fácil escrever desde então. Sim... Marina tem o dom da poesia e da prosa... e é uma poesia toda própria, com doses disto e daquilo, que justamente por não terem as proporções exatas dos compostos com os quais acostumara-se a lidar, soa tão visceral. É... num desses desvios de tudo que é natural e lógico, nossa menina Marina foi achar de meter-se com pipetas, beckers, tubos de ensaio e mais outros tantos vidrinhos, líquidos coloridos e pozinhos idem aos quais dedicam-se os alquimistas modernos perdidos na assepsia sem graça dos laboratórios do mundo. E nessa hora, imaginando a personagem da turma da Mônica metida num jaleco dentro dum laboratório qualquer fazendo sabe-se lá que experimento, Marina sorri novamente. "Química... nossa! Que poesia pode haver na Química? Será que pode?". E lá vai Marina, a viagem e a maiosene!! E haja maionese!

"Ei Marina, começou o Big Brother! Vem ver não, minha filha?". É a mãe da Marina, bem na hora em que ela já sonhava em ir embora pra Bahia morar numa aldeota qualquer na beira da praia, vivendo de artesanato, poesia, música e amor. Não... nos sonhos da Marina não tem espaço algum pra laboratórios, mestrados ou tubos de ensaios... que fique pra outros a responsabilidade de descobrir fórmulas mágicas... Mas agora já é quase-segunda-feira... só resta o Big Brother e a esperança de que haja mesmo a praia paradisíaca perdida na Bahia esperando por ela, a menina Marina, e toda a maionese em que ela possa viajar.

Pra Marina Rabelo, uma menina morena de quem gosto demais da conta.

4 comentários:

Diógenes Pacheco disse...

(Grande Marina!)
Que homenagem!

[]´s

Fábio Farias disse...

O inicio desse texto me lembra uma poesia de Zila Mamede, Rua(trairi).

:D Marina é sutil e realmente lembra um personagem da turma da mônica!

mg6es disse...

Léo, grande desbravador de mares, e dum específico, o Mar dessa menina MARina...

belo!

[]´s

Marina disse...

Eu queria muito viver de artesanato, poesia, música e amor. :D

Léo, nem sei como dizer o quão lindo está este texto... e o quanto que me emocionou...

Gosto demais da conta de você também, uai! ;)

:*