quarta-feira, novembro 29, 2006

Uma valsinha pela noite

Ainda ontem, enquanto assistia a um filme sem assisti-lo, naquele divagar natural, em que os olhos fingem ver o que está à sua frente, me veio à tona, sabe-se bem de onde, aquela valsinha triste de quando brigávamos. A que você tinha num cd antigo, brinde de uma dessas revistas de fofocas. Rabiscando isso aqui, agora, saiu-me aquele riso tosco que você dizia gostar. Brotou porque nos vi tão comuns, lendo revistas de fofocas. Mas, voltando, a valsinha curtinha, tão singela ao piano de... de quem, mesmo? Ah, você sabe melhor que eu, leigo que sou nessa parte de música clássica. Pensando bem, virei um leigo total, posto que com competência, mesmo, o que sei atualmente é sentir sua falta.

Sei que a madrugada já tinha entrado, junto com os vizinhos. Aqui e ali latia um cão, e no resto que era silêncio, ela tocou, inteirinha em baixo som. Parecia vir de longe, trazia dentro uma brisa, um jeito de chuva, cheiro de saudades. Pra você ver, até de quando brigávamos sinto falta. Sua carinha emburrada, o quarto fechado, e a valsinha nos ecos... de quem é, mesmo... Chopin?... não, não... Sempre fui fã de violinos. E já brigamos por cada coisa... Lembra àquele dia à beira-mar? Que lugar, hein? As ondas lambendo a areia, e nossas vozes misturadas, você dizendo que olhei demais pra Laurinha na noite anterior. Até parece... Queria, mesmo, era ter te dado meu corpo, por um minuto, pra que sentisse o que se passava em mim, ao olhar aquele vestidinho de seda que te cobria meio sem querer... Ah, só você pra achar que Laurinha me roubaria um olhar... Prefiro lembrar de quando fizemos as pazes, meia hora depois, que lugar, hein? As ondas lambendo nossos corpos... Veja que coisa essa minha gaveta de lembranças, comecei falando da valsa triste, e enveredei pelo caminho dos sussurros. É que nossos sons insistem em morar aqui, e basta abrir uma porta, uma janela, que eles gritam sua falta.

Ontem, ao fim da valsa, foi difícil conciliar o sono. Cuidei de fazer o que não devia. Revirando armários, dei com os olhos no tal cd, o mesmo onde Chopin chorava o Noturno – eis o dono da melodia – trilha de nossas brigas. Na capa, confesso, acariciei seu nome escrito como se fossem suas melenas sedosas, cujo cheiro me vem agora, e sempre que eu preciso sofrer mais. Num gesto débil, até automático, pus a tocar no mesmo quarto, fechei a porta ao sair, sentei-me ao sofá, e aguardei o último acorde, e mais algum tempo depois, no vão afã de que a mesma porta se abrisse, trazendo de volta a minha vida.

Acordei com o sol se derramando por uma janela distraída que dormiu aberta...

quinta-feira, novembro 23, 2006

"Sinto o abraço do tempo apertar
e redesenhar minhas escolhas
logo eu,que queria mudar tudo
me vejo cumprindo ciclos
gostar mais de hoje e gostar disso.
Me vejo com seus olhos, tempo
espero pelas novas folhas
e imagino jeitos novos
para as mesmas coisas.
Logo eu, que queria ficar
para ver encorparem os caules
lá vou eu, eu queria ficar..."

(Adriana Calcanhoto)
Acho que, essa é uma das músicas que melhor se encaixa quando se fala em mudança, seja estas qual for.
Quase sempre a vida nos da uns socos e ficamos ser ar, sem chão ou sem mais o que e temos que nos reorganizar, levantar, mudar o rumo...
Que venha o novo então!!!

quarta-feira, novembro 22, 2006

sobre qualquer coisa

Se te perguntarem onde estou, diga que me afundei no meu reino de quinquilharias. Diga que eu fiz harakiri mental. Outro dia, eu tava tentando ver além das coisas. É eu sei. Eu tava meio bêbada. Eu tinha tomado muito sol. Pensando bem, o que podia ter por trás das coisas? Não coisas? Dá pra ver não coisas? E como se faz pra tirar as coisas-coisas da frente?

Mas eu tentei. Muito sol na cabeça. Muito sol em tudo. Arde. E devia parecer muito engraçado pra todo mundo. A mocinha de olhos semicerrados e quase vesga. Ou envesgando, desenvesgando, envesgando. Mas eu acho que eu vi. Tipo linhazinhas brancas. Tipo teias de aranha, mas as coisas ainda estavam lá. Tipo tracinhos de luz. Tipo um pouquinho de tontura, que é de ficar envesgando, desenvesgando. Talvez não haja nada atrás das coisas, só entre.

E daí eu senti uma cosquinha no lado direito do cérebro. Estou torcendo, estou torcendo tanto pra ser alguma coisa que, enfim, acordou.

terça-feira, novembro 21, 2006

Abandono (?)


"Por que, quando não acontece nada de interessante em nossa vida, nos sentimos a pessoa mais abandonada do mundo?"
(M. Carlos)


O Vinícius falou de abandono no post abaixo.
O Manoel Carlos também.
A foto que segue esse post também "fala" de abandono.

Acredito que, em determinados momentos, ser abandonado possa ser salutar - são raros esses momentos - nos faz crescer, amadurece o pensamento.
A solidão muitas vezes é necessária...
Mas agora vamos começar a fazer faxina na nossa casinha que ficou muito tempo abandonada. Que venham os posts!

sexta-feira, novembro 17, 2006

A morte da palavra

É como dizem: no início tudo são flores!

Lembro-me de quando iniciamos este blog e éramos (quase todos) muito assíduos. Sempre tínhamos um belo texto, um poema ou qualquer coisa a ser escrita. Lembro também que uma das melhores partes era ler os comentários e transformar tudo num grande diálogo, repleto de pensamentos e idéias.

Como toda família, houve também momentos menos felizes, mas também como qualquer família, superados.

O último post aqui escrito, por acaso por mim, foi no dia 25.10, aniversário meu e do Bainao, quase 30 dias atrás. Deste texto, dois comentários e o vazio de novidades. Uma pena.

Imagino que cada um tem seus problemas, sua vida acontecendo e sei que o tempo de todos é precioso e cada vez mais raro. Da mesma forma existem membros passando por problemas mais sérios, e saibam que rezo por vocês.

Mas gostaria de pedir que não deixem o blog morrer. Vamos tentar ao menos, vez ou outra, escrever alguma coisa nele. Compartilhem seus belos textos e vamos manter funcionando essa comunidade.

Como num texto que postei aqui tempos atrás, uma página em branco é triste. Cheia de possibilidades, mas triste enquanto não é marcada com desenhos decifráveis...

E só para vocês saberem: já mudei para Fortaleza. Quem quiser conhecer essa bela cidade, sinta-se, desde já, convidado!

!