quarta-feira, maio 31, 2006

Milo versus Mila

É que Dorothy, depois que foi morar em Recife, só anda apressada, ou, atrasada. A universidade lhe consome muita energia, e as suas manhãs foram reservadas ao sono, posto que estudar na calada lhe é mais rentável. Achando pouco, matriculou-se num curso de francês, e adora passear nas “horas vagas”. Cinema, teatro, shows, casa de amigos, enfim, vive toda a efervescência cultural da capital pernambucana.

E foi que num dia desses, naquela hora em que a tarde se despede, que ao chegar da rua com Oswald, seu namorado guitarrista com nome de poeta, que Dorothy deparou-se com uma belle scène. Ali mesmo, na calçada do pensionato, mais precisamente no portão da casinha singela da rua calma, estava um belo exemplar de canino com cara de solidão. Quem bem a conhece pode imaginar a sua reação de carinho/alegria/compaixão diante de um cãozinho de rua mirando seus olhos com os dele: as mãos abanando, como quem sacode delas a água, acompanhado de uma vozinha meiga em idioma incompreensível. Ficou ali babando, enquanto Oswald a apressava, já que iriam sair novamente. De pronto fez um batismo avulso, e o cãozinho recebeu o nome Milo, pela semelhança com o cachorro do Máscara, disse ela.

O compromisso era urgente, e Dorothy entrou em casa, já sentindo uns pingos da chuva que uma nuvem grossa estava prometendo. Milo, por sua vez, encontrou um lugar pra ficar por entre uns jarros de plantas na área que vai do muro à varanda. A chuva caiu. Estiou. Era hora de ganhar a rua novamente. Um susto ao dar os primeiros passos na calçada, Milo reapareceu, e uma Dorothy derretida seguiu seu caminho: “vem, cachorrinho, vem...”. E um Milo feliz seguiu o casal pela rua sem som. Até que, um Oswald preocupado soltou:

“Mi..., não é muito bom que esse cachorro nos acompanhe...”

“Ãããiii!, oxe, por que, hein?” (meio que miando)

“Uma vez, o cachorro do Cordeiro nos seguiu até a locadora, e...”

“Pára, ô... o que foi que houve?...” (quase chorando)

“...a moça da locadora não o deixou entrar. Daí, ele ficou triste. Voltou sozinho para casa, e...”

“Ahhh, mô... que foi, hein?” (via-se uma lágrima)

“...é... bem... ele morreu... atropelado”.

“Volta, Milo, volta!” (nervosa)


Já estavam na Avenida Caxangá, uma espécie de autódromo aberto. Milo os seguiu, mesmo depois de se encantar por um outro casal, um que tentava ser mais feliz que Dorothy e Oswald, mas não conseguia. Atravessaram a primeira faixa, e no canteiro central, a menina das bochechas lindas tentou demover o cãozinho, apesar do coração aos cacos. Milo entendeu, e tentou voltar. Ouviu-se um riscar de pneus, e um grito característico de cachorro... Atônito, o casal voltou-se a tempo de vê-lo correndo na direção da rua calma, puxando a patinha dianteira. Dividida entre a dor e o compromisso, Dorothy seguiu adiante, mas muito preocupada. Voltou na madrugada, e buscou vestígios de Milo, em vão. Dormiu. Acordou. Deu linha a vida e seguiu sem ele.

Dias depois, numa meia tarde, as bochechas atrasadas seguiam rumo ao portão. E ao abri-lo, eis que aparece o cãozinho, com ar choroso, mostrando a patinha machucada. Há quem diria ter visto bochechas derretidas na calçada. Dorothy estava decidida: criaria Milo por todo o sempre, com muito amor e carinho, caso Dona Márcia o aceitasse no pensionato. Mas, um porém: estava atrasada para o francês. E se foi, no afã de na volta reencontrar sua paixão animal. Do curso ficou ligando pro namorado, queria que o futuro engenheiro lhe ensinasse a fazer um curativo. Ao mesmo tempo ligava pra casa, alguém deveria “segurar” o cãozinho por lá, até sua volta. Voou Dorothy da aula para casa. E lá chegando, procurou Milo pela rua, entre os jarros, e nada. Já se fazia noite, outra nuvem doava seus pingos furtivos, e quem passou na rua sem som, deve ter visto no portão da casa singela, umas bochechas molhadas mirando o horizonte. Dorothy chorou àquela noite, em que foi obrigada pelo destino a adiar o sonho de criar um bichinho de estimação. Solidário, Oswald cantou e tocou guitarra ao telefone, e a menina que ama cãezinhos, gatinhos, inhos e afins, dormiu.

Milo já estava na página dez, e o rio das obrigações voltara ao seu curso, quando na mesa do jantar, alguém falou sobre uma cadelinha perdida, com a patinha machucada, e que fora socorrida por outro alguém que tem em casa um abrigo para animais de rua. E mais, falou-se que ela estava super bem, saudável, plenamente adaptada. É, era ela, assim como Dorothy, Milo também era Mila.

quinta-feira, maio 25, 2006

Sei lá.

E um “sei lá”, abstrato, solto. Chato, como essa sensação de não saber mesmo. Talvez seja um reflexo. Talvez desses caminhos perdidos que a gente trilha, essas histórias mal resolvidas no nosso estômago, essa coisa chata de não estar procurando algo específico, e ainda assim ter certeza de não encontrar. E nem sei se estou na direção.
Eu agora tenho rádio integrado no celular - ando ouvindo velhas bossas na 107.5, de trilha sonora para curtir esse maio chuvoso, e com um tempero de solidão. Vou de moto emprestada - carro vendendo. E nem lembrava o quanto é gostoso o friozinho aquecido pelo casaco e pelo capacete. Tem um toque de cama e cobertor, com a vantagem de não precisar sonhar que está voando.
Não me entendam mal, dramático, puxando conversa de maluco. Mas vou dar um passo adiante. Tenho percebido que eu deixo (só eu?) descontar no corpo um tanto dos problemas subjetivos, que não precisariam chegar até. Eu tenho tido muito mais fome que ânimo. É uma onda dessa maré que bate. De ressaca e de pouco.
Só podemos ter grandes novidades quando saímos dessa rotina – ordinária - das coisas que não dão certo. Essa atitude que nos puxa não para baixo, mas para a volta, para o mesmo, com o pequeno prejuízo dos minutos, que vão se amontoando e se avolumando.
Também não desejo, sinceramente, verão. Hoje eu acho o frio bom. Meu. Frio poeirento de ar-condicionado com sucessivos copos de café preto. E também o frio de rua. Frio de dia com casaco e noite com cobertor.
Amanhã? Depende de circunstâncias. Quero dormir oito da noite. Trabalhar onze horas hoje e compensar um tanto do que devo, sair daqui acabado, e dormir nove e pouco. É isso. Nove e meia, depois do banho frio. O pior é que até relaxar de novo depois daquele chuveiro frio eu demoro. Dez. E amanhã eu acordo com o pé direito, para começar o fim-de-semana com mais vontade. Vou ter que fazer alguma coisa para comer quando chegar. Dez e meia. Talvez uma partida de gamão na internet, que hoje não tive tempo para mim...
Em tempo de chuva o dia ganha um sentido noturno. E o som da chuva à noite, na janela do quarto é melhor que o do ventilador. Mas só consigo dormir se ligar.Será que meu irmão já voltou para casa? Talvez uma partida de vídeo-game. Mais tarde. Agora voltar para os octavados.

[]´s

quarta-feira, maio 24, 2006

A primavera de Luis

Luis acordou cedo, e trazia nos olhos uma alegria nunca vista pelo seu espelho. Cantarolou uma canção antiga embaixo do chuveiro, enquanto lá fora, setembro fazia seu primeiro domingo de primavera. O sol das oito anunciava força se derramando pelo muro branco para dentro do quintal florido. Beija-flores e borboletas faziam vida em sobrevôos leves por entre girassóis e gardênias perdidas. Saiu do banho e ficou ali, na janela em que passava aquele filme bom. Com o pensamento longe, sorria com os olhos. Despertou ao som do cuco rouco de seu relógio antigo, e aviou em se arrumar. Luis vestiu-se à domingo, e embebido em colônia saltou para a rua antes das dez. Estava feliz. Seguiu pelo passeio dono de um sorriso de bocas mil. A cada coisa, e pessoa, um olhar e sorrisos ímpares. Recebia de volta mais surpresa que recíproca. Não era de praxe andar assim o Luis, comentava-se em boca miúda. O que haveria de ter mudado seu ar casmurro e taciturno? Até seu andar mudara; o passo tétrico de ontem, era o serelepe de hoje. Falou-se numa outra rua, num desses clubes de esquina onde senhores de língua solta fazem correr os ponteiros do dia, que Luis assoviava uma canção alegre ao passar ali. O vestir também era outro, pois trocara o desleixo pelo desvelo, e as camisas rotas de outros dias, tinham agora um colorido de alegria primaveril. Os cabelos penteados em simetria, e uns bigodes bem aparados, ornavam um rosto que o passado negava aos olhos. Era outro Luis. Um olhar mais atento o teria visto parar em frente à florista - a mesma a quem sequer olhava antes, ou, o fazia com desprezo quando - dar-lhe um sonoro bom dia, escolher um lindo buquê de flores do campo, pagar e deixar-lhe um bom troco como gorjeta. E seguiu rua afora, sob um sol gracioso de domingo, o novo Luis. Cruzou o centro da cidade, sempre visto por olhos atônitos e foi dar na rua da praia. No calçadão o vento forte dava boas vindas, e o cheiro do mar misturou-se ao de Luis com seu buquê. Um ouvido mais afiado, por certo, escutaria o rufar do tambor que ia em seu peito àquele instante, a boca seca, a ansiedade aflorada.

No último banco da orla, uma senhora de rosto moreno, cabelos brancos presos num coque, estava acomodada. O morador da casa à frente diria que ela havia chegado junto com o sol àquela manhã. Trazia no semblante um peso de ânsias mil, e não se sentou antes de uma hora. Andou em círculos por um bom par de minutos, e o movimentos das mãos denunciavam-lhe as tormentas internas. De jeito simples, num vestido longo de pequenas flores na estampa, a senhora tinha um ar recatado e triste. Seu dia seria intenso, sabia. Dali a algumas voltas do ponteiro maior a vida iria mudar, de uma forma parecida com algo já vivido em anos idos. Sentada à beira-mar, tinha aproveitado o conselheiro e seus respingos ao máximo desde cedo. Trazia em mente um texto inteiro para usar no tal encontro, ou, reencontro? Colocara cada vírgula, e ponto, no seu devido lugar. Ordenara as justificativas todas, como roupas num armário. Tinha todas as respostas para as possíveis perguntas, e a mais plausível para a mais importante: por que?. E seu relógio não andava. E foi que um vento mais forte lhe trouxe um cheiro, algo nunca sentido, e mesmo assim muito seu. E nada lhe fez girar o pescoço noutra direção que não a do mar. Era o medo.

Luis apressou o passo, seus olhos curiosos já não viam os olhares alheios, posto que só miravam o fim da orla em busca do último banco. A alegria do começo da rua, já trocara de lugar com a tensão. Rufar no peito. Suor nas mãos. Rememorava o texto que iria usar; todas as perguntas das quais queria respostas plausíveis, e da principal: por que?. E foi que um vento distraído lhe trouxe um cheiro, algo nunca sentido, e mesmo assim, só seu. A poucos metros viu a cabeleira branca entre os galhos de uma árvore baixa, quis desistir, sentiu ódio, parou, girou, deu um passo, parou, voltou. Foi parar atrás da senhora sentada no último banco da orla, que distraída com o mar não o viu chegar, apesar do forte cheiro de suas lembranças. Tossiu para ser notado, e o foi. A senhora desistiu de olhar o mar, e olhou pra trás buscando o dono daquele pigarro. E dois olhares atônitos se encontraram mudos. E como autômatos se aproximaram. O buquê de flores do campo rumou ao chão em câmera lenta, as mãos dela o procuraram tateando o ar; e um abraço tomou o lugar dos textos, e um ouvido mais afiado diria terem dito:

“filho?...”

“mãe!...”

“eu amo você”...

“também te amo, mãe!...”
Este texto nasceu antes do dia das Mães, mas, sabe-se lá por que não foi postado antes. Porém, como diz um clichê vigente, todo dia é dia Delas.

domingo, maio 21, 2006

Ide, ego, ista. Eu sou egoísta.

O ser humano é mau. Do primeiro fio de cabelo até o dedão do pé. Mau na essência. A farsa, conhecida como sociedade, é prova disso. Ou alguém cumpre TODAS as obrigações porque é o correto a ser feito? Ou simplesmente paga imposto porque vai ajudar o país? A ausência de regras e leis tornaria a convivência em conjunto impossível, porque o homem é mau.

Meu sobrinho de 6 anos é mau. Ele já tem alguma idéia do que é mau e do que é bom e, quando ele quer sacanear, ele faz o mau, porque nascemos programados para matar. Eu aprendi falar palavrão quando tinha 4 anos. Foi bem naquela idade onde tudo o que se faz rende risos abobalhados da família. Não sei se riram abobalhados de mim. Acho que sim. Todos riem. Levei mais 2 anos pra começar a usar o novo vocábulo pra ofender alguém. Todos fazem assim.

Eu sou egoísta. Nunca gostei de dividir nada com ninguém e não sou diferente de ninguém. Sou até muito parecido com todos. Nunca explodi um prédio, mas minto pra pessoas que me amam. Não faço guerra, não faço amor e nem oro pela paz. Nunca trafiquei, mas uso drogas. Alguns sobem o morro, eu compro no bar. Não tem muita diferença, porque a distância entre a hipocrisia e a preocupação com a saúde pública termina onde é mais fácil ganhar dinheiro. Porque se a preocupação fosse com minha saúde, ninguém venderia cigarros ou cachaça.

Nunca roubei, nunca matei, mas nunca fiz nada que redimisse 20 anos de exílio do bem. Sou igual a maioria. Sou mau. Não porque faço o mal e sim porque me esqueço de fazer o bem. Sou igual a maioria. Apodreço no meu sofá achando que dizimo as mazelas com o controle remoto da televisão. - Tira daí. Põe na novela! Inútil. Entulho casacos no guarda-roupa achando que acabo com o frio dos outros escrevendo num blog.

Eu sou um vírus, um câncer no mundo. Mas não sou diferente de ninguém, sou igual a você, eu nasci e vou morrer assim. Eu não presto, ninguém presta. Sou do tipo que não ajudo, atrapalho, ponho a culpa no governo e me conformo. Somos tão maus que nascemos predestinados a morrer.

Somos tão maus que para ganhar dinheiro esquecemos que certas coisas prejudicam os outros. O homem é o tipo de animal que mata por prazer, dizima por dinheiro e se preocupa com luxos, esquecendo do primário: sobreviver.

E toda essa afirmação serve de base para o que vem por aí: não espere do governo uma ação para acabar com a violência. Tudo o que aconteceu em São Paulo nos últimos dias serve para confirmar o que eu venho dizendo. Gente, não existe sociedade, o homem é primata, nasceu para viver em bando. Insetos vivem em sociedade. Primatas, em bando. Sempre foi e sempre será assim. Não podemos modificar a natureza.

Como podemos acreditar em sociedade diante de todos os acontecimentos do mundo, desde que ele existe? Não parece verdade que toda essa onda de violência e rebeliões foi motivada simplesmente porque mudaram os líderes do crime organizado para cadeias de segurança máxima e retiraram suas regalias. Os caras roubam, matam, estupram e depois reclamam seus direitos. Que direitos?

E não me venham falar em Direitos Humanos, estou sem paciência. Direitos Humanos para eles de cu é rola! O Princípio da Isonomia diz que devemos tratar os iguais como iguais na medida da lei, ou coisa do gênero, já que não sou (e nem pretendo ser) advogado. A questão é a seguinte: direitos iguais meu ovo esquerdo! Eu não sou igual a quem trafica, rouba, mata, estupra e comete qualquer tipo de crime, especialmente o hediondo.

Não estou aqui para advogar ou promover polêmicas. Quero apenas, nesse espaço, deixar minha indignação não apenas diante dos acontecimentos, mas em especial, ao blá blá blá eterno de direito dos presos. Direito para eles é uma bala na cabeça e uma cova funda, para não sentirmos o podre de seus cadáveres. Estou sendo extremista? Foda-se. Sou humano, sou mau.

Estou cansado de tanta impunidade, tanta falta de justiça para nós, cidadão honestos. Estou cansado de trabalhar para manter filho da puta na cadeia. Para mim, tá na cadeia fodeu. Banho de sol é para quem é honesto. Encontro íntimo? Bata uma punheta ou se comam uns aos outros.

É tão revoltante ver um filho da puta representante dos direitos humanos falar em defesa de bandido. Olha aí o resultado de tanta defesa: rebeliões, prejuízos para todos nós. Se tiram o banho de sol, a pelada diária e o encontro semana com o advogado, quebram tudo. Eles queimam colchões, depredam prédios públicos, destroem a porra toda e nós, otários que vivemos enclausurados em nossas prisões domiciliares que nos fodamos para pagar a conta depois.

Vou ser prático e direto: seu crime é hediondo? Prisão de segurança máxima, privação total de contato com o mundo exterior, trabalhos forçados para sobreviver, UM encontro mensal com o advogado (se necessário for) e já está mais que suficiente.

Enquanto o bandido puder matar e o a polícia responder processo por atirar em bandido, teremos isso tudo aí. Enquanto existirem órgãos que se preocupam mais com o preso do que com NOSSA segurança, viveremos em estado eterno de sítio.

Ah, enchi o saco, não quero mais falar! De qualquer forma, me desculpem pela agressividade e até mesmo excesso de infantilidade nas palavras. Não quis escrever um texto com argumentação lógica, foi apenas um desabafo.

quarta-feira, maio 17, 2006

Brasil, um país de todos...

...

















































!!!

Acima, vestígios da minha dor, ao ver que o meu país não tem força, nem moral para combater/evitar que sub-vermes nos imponham suas ordens. Um minuto de silêncio pelos "mortos dignos" no maio vermelho de São Paulo.

domingo, maio 14, 2006

Deus na terra...

Não é a primeira vez que falo de Deus por aqui. Geralmente são textos profanos, onde mostro minha falta de respeito, que não existe além do mundo virtual.

Pois bem, hoje será diferente, até porque tenho poucas palavras, já que é redundante falar o que será dito.

Quando Deus criou o mundo e aquela porra toda, ele deu o tal do livre-arbítrio para as pessoas e tal, para se livrar de todos os problemas e cagadas que os homens sempre fazem. O problema é que cada um resolveu fazer o que queria e a merda ficou muito pior.

Não contente com tudo, Deus descobriu através de um anjo fofoqueiro, que Lúcifer ganhava cada vez mais força, já que ele era representando por diversas coisas na terra. Gato preto, urubu, etc.

Então Deus, mais uma vez, ficou lá no céu coçando seu saco celestial, pensando em como criar uma representação para ele. Precisava ser alguém que tivesse um amor incondicional, eterno e supremo. Ser forte, doce, meigo e tantas coisas. Tudo perfeito, como ele apenas é.

E assim ele criou as mães.

terça-feira, maio 09, 2006

Cleptomaníaca de Corações

Eu estava na sua mira havia já 2 anos. Apareceu-me, pela primeira vez, numa festa. E me foi logo apresentada pelos nossos amigos em comum. Confesso que, à primeira vista, a sua beleza física me atraiu, mas nada tão forte que me fizesse correr atrás dela, ou trocar a eternidade ou coisas assim para te-la. Fui indiferente à situação. Em meio a conversa fui surpreendido. Ela sabia muita coisa da minha vida para uma, até então, desconhecida. Justificou-me pelo acesso a internet e dizendo que a internet no tira privacidade e, algumas vezes até os segredos. Eu, como usuário assíduo da grande rede, engoli tal justificativa e continuei a nossa prosa.

Não sabia eu, talvez pela ingenuidade que ela aparentava através daqueles olhos cor de amêndoas, que seus objetivos eram outros. Mais sombrios, eu diria. E talvez esse tenha sido o meu azar, ser escolhido para o cumprimento de tais metas. Com seu jeito sutil, sua inteligência e sagacidade, ela me transformou num alvo fácil. Num coelho sozinho à espreita de um leão faminto. Ia lá eu, conversando e imaginando a minha noite com ela. Como sempre "me garanti" nessas situações, não achei que ela pudesse me oferecer risco, afinal eu sou um jogador nato e conhecia todas as regras e armadilhas daquele jogo de sedução. Mas ela foi mais sagaz. Levou-me através da sua lábia, da sua boca carnuda e daqueles olhos amendoados para o bote.

Foi rápido, simples e certeiro. Num movimento veloz e preciso, como os dos atiradores profissionais, roubou-me o que eu tinha de mais importante, o que nunca antes fora roubado e o que eu imaginei que nunca iriam roubar. Roubou-me o coração. Num beijo ardente que me fez visitar o céu e acreditar em amor por uns instantes. Senti-me paralisado diante daquilo tudo, perdi toda a noção e todo senso de orientação. Fomos ao motel mais próximo e sem titubear, gastei meu dinheiro, meu fogo e minha paixão naquela noite, com direito a uma conversa sobre nossos possíveis filhos e a nossa futura casa, ao amanhecer.

Telefonei ao entardecer do outro dia, com esperanças de que novamente, gozaríamos de uma noite maravilhosa. Ninguém atendeu. E foi assim por cinco dias seguidos, até que ao final do sexto dia a encontrei naquele mesmo bar, conversando com um outro homem e roubando mais um coração para a sua coleção porque, afinal, o meu já era dela.

segunda-feira, maio 08, 2006

La isla de Fidel (ou "Cada povo tem o revolucionário que merece?")

Escutei esta semana em algum lugar que a fortuna pessoal do "comandante" Castro de Cuba estaria avaliada em cerca de 150 milhões de dólares. Achei intrigante (não tanto pela cifra, mas pelo inusitado da situação) e resolvi consultar o pai-dos-burros dos tempos modernos. Uma rápida conversa com o google.com, e ele me confirmou que realmente a fortuna do cubano estaria na casa dos milhões. Na verdade não houve consenso entre os dois ou três sites em cujos textos passei rapidamente os olhos... O patrimônio seria algo entre 110 e 150 milhões de dólares, e foi a matéria anual da revista Forbes das pessoas mais ricas do mundo.

Apesar de ser a Forbes o poço de honradez e comprometimento com a verdade que alardeia, e apesar de minha natural desconfiança em relação a quaisquer honrados e comprometidos financistas norte-americanos, fica a questão. Temos um auto-proclamado revolucionário que, sem deixar a dever a yuppie algum em matéria de perfeita aplicação dos princípios fundamentais do capitalismo, acumulou durante anos de "não trabalho" (afinal, é bom sempre ter em mente que Fidel Castro não exerceu profissionalmente a advocacia) uma fortuna de fazer inveja a muito milionário admitidamente capitalista. O mais interessante é observar a importância de Fidel Castro na história mundial recente. A Cuba da grande revolução apareceu aos olhos duma geração inteira de sonhadores e intelectuais de esquerda como uma lufada de ar fresco num mundo de extremas desigualdades sócio-econômicas... era a prova viva de que uma republiqueta de bananas tão igual a tantas outras podia sim, ter seus heróis... heróis que, bem-nascidos, instruídos e desprendidos tinham uma aproximação tal com o cortador de cana, o catador de laranjas e a dona-de-casa que traziam ali pra perto, pro dia-a-dia, a discussão de bipolaridade social econômica e política das grandes potências. E com os heróis de Cuba, voltava mais uma vez ao inconsciente daquele sem número de indígenas e negros latinos o sonho de união em torno de um ideal. O que Emiliano Zapata buscara no México, Fidel, seu irmão Raul e o Che buscariam América Latina afora.

Só que o Che se perdeu em seus próprios sonhos... e Fidel é hoje (ainda segundo a honrada Forbes) mais rico que a rainha da Inglaterra! É de se imaginar o que vai fazer alguém em Cuba com tanto dinheiro. Como não há por lá as farras gigantescas regadas a cocaína envolvendo astros decadentes de Hollywood, há que se dar tratos à bola pra imaginar onde se gastar 150 milhões de dólares! Não em charutos cubanos ou em rum, que obviamente custam bem menos em Cuba que no resto do mundo... Aliás, só pra que tenhamos uma idéia mais exata do que é a Cuba dos dias de hoje, duas das atividades mais lucrativas do país são o contrabando de alimentos das zonas rurais e a prostituição nas áreas do complexo turístico... Fidel governa (ou "comanda", como ele próprio preferiria) médicos, advogados, esportistas e professoras que contribuem como muambeiros e putas para o PIB de da ilha. Eis o herói da grande revolução...

Vale dizer que eu acredito desde sempre na filosofia política do socialismo enquanto sistema econômico que busca privilegiar por meio principalmente da divisão de renda um pouco mais igualitária o bem-estar social. Eu não tenho fé é nas pessoas... e o acúmulo de riqueza do herói cubano não cabe neste raciocínio por um motivo bem simples... é que pra que ele, e os poucos que o cercam, acumulem 150 milhões, com toda a certeza há pessoas que não tem nem pra comer. É a lógica mais simples do mundo, e não é preciso ser um financista da Forbes pra saber disso. Eu acredito na revolução. É, a meu ver, o que provavelmente mais bonito e puro aconteceu no século, no que diz respeito a mobilizações sociais. Infelizmente teve contra si a maior das nações de um lado... e do outro seu maior herói revolucionário... Mas seja como for, quero eu mesmo escoher meus heróis revolucionários cubanos... Fico com o Pedro Juan Gutierrez, escritor das putas, muambeiros e desvalidos em geral, que enxerga com o olhar ácido do remediado a Cuba pós-revolucionária. Outro dos meus heróis seria o Pablo Milanés... este ingênuo que se por um lado acredita piamente no regime, por outro compôs algumas das mais belas canções em língua espanhola. E chamo pra meu exército todo o contingente de velhinhos do Buena Vista Social Club (ou pelo menos os que ainda sobraram...), que na Cuba de Fidel eram engraxates, manicures, etc. E assim, está formado meu exército. O exército dos novos revolucionários de Cuba. Dos cubanos que não tem 150 milhões pra seu uso, nem tampouco falam por horas seguidas a quem talvez não queira ouvi-los.

São os verdadeiros heróis de Cuba. São o exército do povo!

sábado, maio 06, 2006

Sábado

Sábado tem mesmo cara de que? A minha versão Leliana (e também leviana) de sábado é bastante particular e limitada. Pra mim sábado tem cara de feijoada e coca-cola no almoço. E depois tem uma sonequinha básica. Quando não tenho plantão de final de semana, meu sábado tem cara de faxina ao som de meu cordel estradeiro e muitas vezes uma viagem repentina (mas muito planejada como quem não quer nada) pra Salvador.

Se eu fosse uma mulher vaidosa, minhas manhãs de sábado também teriam cara de salão de beleza, minhas unhas seriam lindas e meu cabelo impecável, mas acontece que me sobra preguiça e me falta vaidade.

Meus fins de tarde de Sábado em Feira de Santana têm um destino certo: A lambreta, boteco tipo “pé limpo” onde eu e Cate se encontra, bebe, fuma, fala bem e mal da vida e dos outros, inclusive uma da outra. Minhas tarde de Sábado em Salvador também. Sempre é com Lília e/ou Ricardo, e a gente gasta horas jogando conversa fora, gastando tiros com alvos banais, mas na maioria das vezes os nossos vôos são certeiros.

Sábado também é dia de post no E-digitais, e como hoje, ele está sendo feito no dia, os textos deveriam estar prontos na véspera, mas minhas sextas têm sido mordazes (geralmente resultado das saidinhas de quinta) e a inspiração me falta, se bem que ela tem me faltado todos os dias.

Mas sábado tem mesmo cara de curtição, de balada, mesmo pra mim que não gosto de grandes movimentações. Acho que Toni Garrido está certíssimo quando fala que “todo mundo espera alguma coisa de um sábado à noite”, mesmo que seja um filme bacana no SuperCine (e pq não?). Noite de Sábado também tem cara de namorinho de portão.

E nos sábados de chuva, como hoje, o bom mesmo é se jogar no sofá enrolada em uma coberta, em frente à tv e não pensar em nada enquanto vai mudando os canais que já não oferecem nada. vejo isto como o melhor exercício pra zerar a memória. E assim são meus sábados... Bem, vou ali que meu sofá está me gritando.

(Sábado também é dia de feira e neste momento ouço Lirinha gritar “Vou saquear a tua feira”, pois que venha então!).