quarta-feira, outubro 25, 2006

Post de aniversário

A vida é como uma música do Chico: complexa dentro de sua simplicidade. Porque a vida é falar direto, sem rodeio e metáforas. Mas viver é mais difícil que qualquer figura de linguagem. A gente complica a vida, porque viver fácil não tem graça.

Mas de qualquer forma, a gente segue, todos os dias, passos curtou ou longos. E não é o tamanho da perna que determina a largura do passo: a coragem do desconhecido é que nos diz até onde vamos.

Porque algumas pessoas preferem trilhar os caminhos capinados. Outros com seus facões, vão desbravando o mato, em busca de caminhos. Mas o meu, além de mato tem pedras. E meus pés estão cheios de bolhas e calos. Mas é assim mesmo: com meu coração vou desbravando todos os caminhos. Inclusive os conhecidos, porque a gente precisa aprender a se reinventar. Eu me invento e me reinvento. Não dá pra deixar as coisas como sempre estão.

Hoje estou numa fase "let it be". Porque eu aprendi que a gente é igual a mola: se encolhe enquanto é hora de se encolher. Só que tem que se esticar e chegar onde é preciso, porque quem vive encolhido é pau de esquimó. E eu moro no sul do equador. Americano com "chica-chica-bum". Não nasci para me encolher. Fui feito para me esticar. E eu tenho 1.90m: não dá pra ficar quieto muito tempo.

E já estou cansado de ficar encolhido. Essa tal fase "let it be" vai se tornar rapidinho "estou-aqui" porra. Por isso, tenha cuidado.

É fácil esquecer o valor das coisas enquanto elas estão conosco. Mas ou você dá valor ao que tem, ou chora o leite derramado. Quer dizer: sou eu leite pra você?

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Pois é amigos: hoje é meu aniversário, mas estou longe e não poderei compartilhar este dia com vocês. Mas, ao menos, deixo um texto sobre como me sinto hoje. Texto que, por acaso foi escrito neste mesmo dia, só que ano passado. Pois é, parece que as coisas não mudaram muito.

Aproveitando, hoje também é aniversário do nosso amigo Diógenes, conhecido por aqui como Baiano. Parabéns para nós!
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segunda-feira, outubro 23, 2006

A Noite

Era noite. Uma casa próxima a praia, amigos reunidos. Álcool. Era a noite. Ela estava logo ali, com o seu biquine preto, seu sotaque diferente, seu rosto devidamente maquiado. Um olhar convidativo que escondia por trás dele as marcas de uma mulher carente. E ele estava devidamente acompanhado do seu copo de vinho. Observador, procurava o melhor momento para aquilo que estava há muito tempo afim de fazer.

Não era um cara muito fã de mulher que se maquiava. Achava feio aquelas verdadeiras pinturas de guerras que muitas mulheres faziam antes de sair de casa para procurar homem. Mas nela, aquilo tudo soava diferente. Era como se a sequência e a relação de cores pintadas em seu corpo tivesse algo que altereva toda a ordem natural de composição do seu rosto, deixando-a infinitamente mais atraente. Havia uma estranha harmonia por trás daquelas pinturas de guerra que a deixavam paracer, pelo menos para ele, mais bonita.

Ela era de corpo magro. Não um magro gordinho. Um magro. Três tatuagens visíveis, uma nas costas, na altura do diafragma desviada levemente para a esquerda. Duas na bacia, uma de cada lado. Barriga pequena, braços finos, pernas finas, rosto fino. Cabelos pretos, armação vermelha do óculos que dava um ar de inteligência àquele olhar, boca ligeramente carnuda, colorida com uma tonalidade de vermelho claro. Com exceção da altura, já que ele era um fã convicto de mulheres baixinhas, ela era de um tipo fisico perfeito. Talvez o que explicasse a sua atração por ela.

Depois de alguns copos de vinho e um estudo minuncioso do seu novo alvo, ele sentiu que era o momento certo. No ambiente havia uma batida de música eletrônica de um CD que estava no som e ambos estavam dançando, sozinhos. Aproximou-se sorrateiro, olhou aqueles olhos castanhos. Esperou. No ritmo da música, deu o bote. Sentiu lábios macios encostando nos seus. Línguas que se moviam harmonicamente. Um corpo que pedia ansiosamente o seu...

quinta-feira, outubro 19, 2006

Exercício de Democracia.

(Resposta a uma mensagem de um grande amigo, com atalhos para vídeos no YouTube, e um apelo para que eu votasse em Alckmin. Repassei com cópia para minha irmã - extremista de esquerda, que está falando em votar nulo -, para uma amiga que quer argumentos para convencer a família, e para minha mãe, que elogiou e disse que eu deveria colocar no blogue.)

"Sergipano: de verdade, nessa eu tenho certeza.
Vou te dizer uma coisa, só para ilustrar: já participei de movimento estudantil, por melhoras na UFBA, fiz passeata nas ruas, ACM (coligado do seu PSDB/PFL) mandou a polícia lascar a porrada na gente. Ao meu lado, nessas passeatas, estavam a UJS, UNE, a juventude do PC do B, que eram formados por colegas de faculdade, que querem o mesmo que eu, e que são as bases do governo de esquerda. Do lado de lá tinha FHC cortando as verbas da universidade e ACM mandando a polícia bater na gente. Nossas manifestações sempre foram pacíficas, mas o que saía no Correio da Bahia, só por exemplo, era que UNE, Estudantes anarquistas e baderneiros fazem arruaça no centro e precisam ser contidos pela polícia.
E, só para complementar, a UFBA está na melhor fase desde que eu entrei lá (2000), contratando novos professores titulares, comprando material que já não tinha, retroprojetores, computadores... naquela época de FHC até giz chegava a faltar, em algumas faculdades.
Em outra vertente, no meu trabalho, a Caixa Econômica estava sendo sucateada com o propósito de privatizar, como o PSDB fez e faz com todas as empresas públicas. Computadores velhos, falta de gente para trabalhar, oito anos de gestão do PSDB sem SEQUER REAJUSTE de salário, vendo o poder aquisitivo ser comido pela inflação, regulamentação da demissão sem justa causa, diminuição dos benefícios para os (poucos) novos contratados, ferindo o princípio constitucional da isonomia...
Desde que Lula está no poder, e sem deixar de contar com a mobilização sindical, tivemos os reajustes sempre acima da inflação, sendo que já temos uma (embora tímida) recuperação do poder de compra, a Caixa renovou seu parque tecnológico, contratou muita gente, tem aberto centenas de agências Brasil afora, aumentou o crédito para a população, melhorou em muito o atendimento (hoje com hora marcada - o cliente é atendido em menos de dez minutos, em média), vem melhorando as condições para os funcionários e o papel que a empresa joga na sociedade.
Isso que eu estou citando não é algo que eu imagino, idealizo, nem nada disso. É o que eu vivo.
Tem trabalho pela frente, ainda, na Caixa, e mais ainda na UFBA, mas é muito diferente da época que as coisas só estavam piorando cada vez mais, para agora que as coisas estão perceptivelmente melhorando.
O governo não é a oitava maravilha, não. Não fecho meus olhos nem sou hipócrita - existiu corrupção, existiram ações espúrias. Espero que isso melhore, até com a fiscalização da sociedade, e a ação das instituições apropriadas - polícia federal, ministério público, justiça.
Mas essa corrupção existiu em grau muito maior nos governos de direita, e era acobertada, abafada. E fora a corrupção, o direcionamento do governo é para as bases deles, que não são você, por exemplo. Você é um voto que eles conseguiram (ou não, tomara) pela guerra de idéias, controlando grande parte da mídia, como bem sabemos - Veja, Estadão, Globo (ou não?)... Mas eles não estão nem aí para você - as bases de sustentação deles são as oligarquias, os coronéis, grandes grupos capitalistas, financeiros.
Ou você acha que alguém do PSDB algum dia vai estar ao seu (ao nosso) lado fazendo barulho na rua por melhoras na universidade, fazendo uma greve por melhoras nas condições de trabalho, estudando ou trabalhando contigo como "chão de fábrica" em alguma empresa, tendo semelhantes problemas, aspirações, perspectivas? Eles são de outra turma - uma turma que só sabe colocar a gente no bolso, e na rua.
Lula é a melhor opção para o Brasil, sim.
E eu só tô escrevendo isso tudo porque tenho esperança de que você reflita um pouco mais, e vote certo.
Abração do seu amigo!

Dido"
[]´S

quarta-feira, outubro 18, 2006

Carta a dois quase desconhecidos

“Ansiedade é quando faltam alguns minutos para o que quer que seja”
Mário Prata


Não sei como definir esse último final de semana. Começou meio arrastado, sem nenhuma promessa de melhora. Nem consigo lembrar o que fiz no sábado. Tudo o que sei é que me sentia tremendamente sozinha. Imersa em pensamentos angustiantes. As minhas constantes negativas para os animados telefonemas de sábado a tarde fizeram efeito: nenhuma ligação. Nenhum chamado de um amigo ansioso insistindo para nos divertirmos juntos. Nenhuma amiga exagerada implorando a minha presença em festinhas de última hora. Nenhuma lembrança. Eu, o centro das atenções, a presença sempre tão requisitada, fui esquecida. Aí começa o início, o desenrolar e o final da nossa história. A história de 3 quase desconhecidos. Unidos por expectativas, desejos e muita ilusão.

A sensação de estar sozinha me deixou ansiosa, esperando por algo indefinível e sem prazo para acontecer. Um sentimento bem desagradável para quem leva a vida em planejar os negócios dos outros. Sinto-me impotente nessas horas. Incompetente comigo mesma. Logo eu, quem mais deveria importar, não consigo ver claramente o que fazer como consigo com os outros. Foi quando uma saudade enorme tomou conta de mim. Todo o meu desalento sumiu para dar lugar a essa saudade inquietante, desesperada. Foi muito mais que uma saudade, Quase Desconhecido 1. Eu nunca precisei tanto estar perto de você como naquela noite. Lá estava eu com planos e desejos, e todos incluíam você, um coração enorme querendo amar, uma noite linda e a expectativa de meses guardada. Peguei meu celular e te chamei ansiosa, a distância física instransponível entre nós dois, poderia ser aplacada por um cumprimento carinhoso ou qualquer outra esmola de afeição. Mas a voz fria e impessoal da gravação da operadora de telefonia móvel acabou com o meu sonho. Insisti. Desisti. Insisti de novo. Não tinha jeito.

Então apareceu você, Quase Desconhecido 2. Sem nenhuma cobrança, nenhuma exigência, sem querer nada, nada além da minha companhia naquele momento. Acalmei-me, o sono veio, dormi bem, dormi feliz, sabia que teria você no dia seguinte. Sabia que teria alguém para descobrir. Acordei bem disposta. Saí, respirei, dei risada. Tinha certeza que nos encontraríamos a noite. E foi o que aconteceu. Mas de uma forma diferente. Muito mais inexplicável. Completamente sem definições. Porque de repente você passou a ser tudo o que eu queria que o Quase Desconhecido 1 fosse. Passou a perceber e saber tudo o que eu queria que ele soubesse. E passou a dizer e sentir tudo o que eu mais queria que ele dissesse e sentisse. E eu vi em você toda a minha ansiedade. Toda a minha vontade de viver um grande amor e me entregar a maior de todas as paixões. Então todas as coincidências do mundo apareceram para nos assombrar. Você descobriu todos os meus medos e se dispôs a combatê-los. A extermina-los. Em que momento daquela noite tão rápida isso aconteceu, eu não consigo lembrar. Você virou meu salvador, o príncipe encantado de quando o mundo era cor de rosa e azul claro. Prometeu-me muito mais que o mundo, me prometeu você. E isso foi muito mais do que qualquer outra pessoa já fez. E lá estávamos falando sobre vida, morte, sonhos e aventuras. E lá estávamos falando sobre ternura, beijos e sexo. E lá estávamos falando sobre o Quase Desconhecido 1. E de súbito você me disse que me amava. E eu acreditei. Você me pediu para dizer que eu o amava, e eu nem sei, mas acho que falei. Não existe suposições plausíveis, nem explicações racionais. O que aconteceu simplesmente aconteceu. Foi loucura amorosa. Irracionalidade momentânea. Apenas isso.

As conseqüências foram muitas. Tudo mudou. Obrigada, Quase Desconhecido 2, por se dispor a largar tudo por mim. Obrigada pelo seu tempo, empenho, carinho. Obrigada por ser muito mais do que eu preciso, muito mais do que o Quase Desconhecido 1 poderia vir a ser. Você me disse que mudaria sua vida por mim. Mas foi minha vida que mudou. Acordei, pensei e refleti. Agora eu sei o que quero. É uma decisão só minha. Quase Desconhecido 1, você não acreditou no nosso sonho e ele acabou. Era mesmo uma louca história. Pensar nela faz o meu coração enternecer. Mas sonhos só se concretizam quando acreditamos nele. E agora estamos livres para novos sonhos. Conhecer você me tornou uma pessoa mais firme e decidida, porque eu nunca quis tanto alguém como desejei você. E quanto a você, Quase Desconhecido 2, não se entristeça, nesse momento em que eu preciso ficar só, tudo o que posso dizer é: acredite nos seus sonhos.

E agora queridos, me despeço dos dois. Vamos voltar a nos falar, mas com o coração muito mais leve, sem expectativas pesadas e inúteis. Porque eu, momentaneamente, deixei de sonhar. Vou esperar. Esperar meu coração se sentir preparado de novo para construir meus sonhos. Talvez um de vocês esteja lá. Talvez não. Mas o carinho ficou e eu, do meu modo, amei cada um de vocês.

quarta-feira, outubro 11, 2006

Os bons morrem jovens

Eu já falei tantas vezes sobre este assunto aqui que qualquer nova tentativa será redundante e desnecessária. Entretanto, e digo isso como fã, não posso deixar que registrar hoje, 11/10/2006, é a data que marca a ida do Renato Russo deste plano para outro que não sei onde fica ou se existe.

Mas fato é que, se existem outros planos, seguramente aquele onde ele se encontra hoje é mais feliz que o nosso, pois enquanto lembramos sua morte, aqueles do outro lado celebram seu nascimento.

E lá se vão 10 anos desde aquela infeliz sexta-feira, que seria uma sexta-feira qualquer se não fosse aquela sexta-feira, onde fui acordado por minha mãe com, até aquela data, a pior notícia que eu já havia recebido.

Hoje, 10 anos depois, ficam as lembranças, o gosto de saudade ainda muito amargo na boca, a frustração de nunca ter participado de um show da Legião Urbana e a certeza absoluta que o rock nacional jamais será o mesmo. Porque gênios nascem e morrem, mas cada um marca a história de uma maneira singular.

Renato Russo marcou a minha vida como nenhum outro artista. Isto porque na adolescência tudo é mais intenso, mais vivo. Marcou porque ninguém mais teve coragem de abrir meu mundo para o mundo todo da maneira como ele fez. Ninguém contou meus segredos para ninguém. Jamais fui revelado da maneira como ele me revelou. Nunca antes alguém tinha dito tudo o q'eu pensava, mas com minha incapacidade de relatar meus pensamentos e sentimentos, ele foi lá e escreveu tudinho, cada detalhe. E ainda por cima colocou melodias simples, singelas e perfeitas.

Eu teria todos os motivos do mundo para ficar bravo com ele, pois ele foi o único amigo desses que a gente confia tudo que revelou toda minha vida. Mas não dá para ficar bravo com alguém que te ajuda tanto a passar pelos temíveis anos dourados ileso e intacto. E ele fez isso com maestria.

A verdade é que s’eu pudesse falar uma coisa para ele, eu diria obrigado. Obrigado por me mostrar que a vida pode ser mais fácil, por dizer para mim as palavras que eu precisei ouvir quando terminei um namoro ou quando me indignei com meu país ou meus pais. Agradeço também por curar dores de cotovelo e por embalar novos romances. Obrigado.

E termino aqui, postando sua mais profética canção:

É tão estranho, os bons morrem jovens
Assim parece ser quando me lembro de você
Que acabou indo embora cedo demais

Quando eu lhe dizia: - me apaixono todo dia
E é sempre a pessoa errada
Você sorriu e disse: - eu gosto de você também
Só que você foi embora cedo demais
Eu continuo aqui com meu trabalho e meus amigos
E me lembro de você em dias assim
Um dia de chuva, um dia de sol
E o que sinto eu não sei dizer

- Vai com os anjos, vai em paz
Era assim todo dia de tarde, a descoberta da amizade
Até a próxima vez, é tão estranho
Os bons morrem antes
Me lembro de você e de tanta gente
Que se foi cedo demais

E cedo demais eu aprendi a ter tudo que sempre quis
Só não aprendi a perder
E eu, que tive um começo feliz
Do resto eu não sei dizer

Lembro das tardes que passamos juntos
Não é sempre, mas eu sei
Que você está bem agora
Só que este ano o verão acabou
Cedo demais.

Love in the afternoon – Renato Russo

quarta-feira, outubro 04, 2006

deles

para m. e f.

Não seria tão triste se ela não fosse a garota que chega de surpresa por trás e me rouba um beijo estalado na bochecha, daqueles bem barulhentos, daqueles impossíveis de não sorrir depois. Não seria tão triste se ele não fosse o garoto das histórias lendárias, o cara abissalmente talentoso no truco, o sujeito que só percebe que está usando roupas rasgadas muito depois de vesti-las.

Não seria tão triste se os passeios agora não fossem doloridos, com alguma espécie de angústia transpirando no ar. Se ao invés do silêncio ainda houvesse o som de dois corações batendo em compasso e descompasso, as risadas, o cor de rosa do mundo.

Não seria tão triste se estivesse em lugar dessa solidão aquele par de mãos entrelaçadas, os carinhos no cabelo, na barriga. Ou mesmo se os olhares cúmplices não teimassem em acontecer, se as mãos não se procurassem por instinto, se as respirações não congelassem de repente.

Não seria tão triste se não houvesse ainda tanto amor.

terça-feira, outubro 03, 2006

Nova era

Eu sou meio desconfiado da verdade que circula no mundo. Eu sempre acreditei que tudo, no fim das contas, é uma grande teoria da conspiração. Isso pode ser fruto da minha mania de perseguição, ou é na verdade como nossas vidas são conduzidas.

Nosso país sempre foi comandado por coronéis. Alguns estão travestidos de banqueiros, outros são latifundiários. No fim das contas quem sempre ganha as eleições são eles: os donos do poder. Ainda mais num país de ignorantes, não por opção, mas pela maneira como as coisas são conduzidas. O direito ao voto, que na verdade é uma obrigação, coisa que não vem ao caso, serve para que nós mudemos o rumo do nosso país. Só que ignorantes escolhem governantes baseados na ignorância.

Não é surpresa para nenhum de nós, após o pleito, sermos surpreendidos por candidatos do quilate de Clodovil, Frank Aguiar e outros sem o menor preparo. Muito pior é saber que gente como Collor e Paulo Maluf, este último não merece comentários e foi eleito com o maior número de votos como Deputado, continuam sendo eleitos e mamando nas tetas públicas. Vergonha!

Mas na verdade, a grande surpresa, foi a queda, do maior entre todos os grandes, coronel da política brasileira. E antes de falar dele, quero registrar minha total descrença nas pesquisas de intenção de votos. Eu não tenho dúvida que os números são manipulados para influenciar na decisão dos ignorantes, os ignorantes sem opção, porque a ignorância não é privilégio dos sem oportunidade, mas um fenômeno que insiste em conviver entre nós.

Voltando à queda do maior deles, na Bahia os números indicavam que o candidato do PFL, o atual governador daquele estado, estaria reeleito já no primeiro turno, com larga vantagem. O candidato do PT, coitado, figurava em segundo lugar com menos de 30% das intenções de voto. Eu, já acostumado com a vitória constante do PFL, não nutria qualquer esperança de mudança no cenário político baiano.

Mas desta vez, alguma coisa aconteceu: com uma virada de mesa surpreendente, o candidato do PT ganhou em primeiro turno com 53% dos votos válidos, o que prova minha teoria da manipulação dos números ou a incapacidade total de fazer uma pesquisa estatística, coisa que não acredito.

A derrota do coronel foi muito maior do que ele poderia imaginar: primeiro, em 2004, perdeu a prefeitura da capital. Hoje ele perdeu o senado e o governo do estado. Em minha boca o gosto de vitória está misturado com o gosto do medo, porque não sabemos ao certo o que acontecerá. A capacidade deste homem em prejudicar a população não tem tamanho: no início dos anos 90 ele perdeu a prefeitura para uma candidata da oposição e simplesmente destruiu a cidade: não liberava verbas para nenhuma ação da prefeitura, boicotava todas as iniciativas de melhora da cidade e, por incrível que pareça, jogava lixo nas ruas, após a limpeza pública. E isto não é história: eu presenciei carros utilitários jogando sacos de lixo abertos e fechados em vários pontos da cidade, para provar a ineficiência daquela governante.

Hoje eu sei que é mais complicado impedir a liberação de verbas da União, pois ela é liberada direto para os estados e municípios. E o melhor: os senadores eleitos para a Bahia estão do mesmo lado do governo e prefeitura, o que facilitará a gestão financeira e garantirá maior governabilidade.

A contrapartida é saber que o coronel é dono do principal veículo de comunicação do estado. Ele comanda rede globo local, através da subsidiária baiana Rede Bahia. E sei que não medirá esforços para criar notícias que confundam o povo. E sei, da mesma forma, que ele ainda detém muita força política para prejudicar de várias formas o povo baiano, o que me deixa ao mesmo tempo feliz com sua derrota e preocupado com o futuro.

Mas no final das contas, o baiano provou que não acredita mais naquele homem e sabe que as coisas não estão boas por lá. Mudou a cara da Bahia, ganhou oportunidade real de melhoria e hoje, sabendo que toda mudança tem 50% de chance de dar certo, esperará mais uma vez que a esperança vença o medo.

É meus amigos, uma nova era se inicia na Bahia. Eu gostaria de dizer no final deste texto que em todos os estados da União teríamos mudanças radicais para melhor. Mas enquanto elegermos Fernando Collor, Paulo Maluf, Frank Aguiar, Clodovil e tantos outros, estaremos fadados a continuar na mesmice. Porque sabemos reclamar, mas ainda não aprendemos com nossos erros a corrigir os problemas que nós mesmos criamos.