quarta-feira, outubro 18, 2006

Carta a dois quase desconhecidos

“Ansiedade é quando faltam alguns minutos para o que quer que seja”
Mário Prata


Não sei como definir esse último final de semana. Começou meio arrastado, sem nenhuma promessa de melhora. Nem consigo lembrar o que fiz no sábado. Tudo o que sei é que me sentia tremendamente sozinha. Imersa em pensamentos angustiantes. As minhas constantes negativas para os animados telefonemas de sábado a tarde fizeram efeito: nenhuma ligação. Nenhum chamado de um amigo ansioso insistindo para nos divertirmos juntos. Nenhuma amiga exagerada implorando a minha presença em festinhas de última hora. Nenhuma lembrança. Eu, o centro das atenções, a presença sempre tão requisitada, fui esquecida. Aí começa o início, o desenrolar e o final da nossa história. A história de 3 quase desconhecidos. Unidos por expectativas, desejos e muita ilusão.

A sensação de estar sozinha me deixou ansiosa, esperando por algo indefinível e sem prazo para acontecer. Um sentimento bem desagradável para quem leva a vida em planejar os negócios dos outros. Sinto-me impotente nessas horas. Incompetente comigo mesma. Logo eu, quem mais deveria importar, não consigo ver claramente o que fazer como consigo com os outros. Foi quando uma saudade enorme tomou conta de mim. Todo o meu desalento sumiu para dar lugar a essa saudade inquietante, desesperada. Foi muito mais que uma saudade, Quase Desconhecido 1. Eu nunca precisei tanto estar perto de você como naquela noite. Lá estava eu com planos e desejos, e todos incluíam você, um coração enorme querendo amar, uma noite linda e a expectativa de meses guardada. Peguei meu celular e te chamei ansiosa, a distância física instransponível entre nós dois, poderia ser aplacada por um cumprimento carinhoso ou qualquer outra esmola de afeição. Mas a voz fria e impessoal da gravação da operadora de telefonia móvel acabou com o meu sonho. Insisti. Desisti. Insisti de novo. Não tinha jeito.

Então apareceu você, Quase Desconhecido 2. Sem nenhuma cobrança, nenhuma exigência, sem querer nada, nada além da minha companhia naquele momento. Acalmei-me, o sono veio, dormi bem, dormi feliz, sabia que teria você no dia seguinte. Sabia que teria alguém para descobrir. Acordei bem disposta. Saí, respirei, dei risada. Tinha certeza que nos encontraríamos a noite. E foi o que aconteceu. Mas de uma forma diferente. Muito mais inexplicável. Completamente sem definições. Porque de repente você passou a ser tudo o que eu queria que o Quase Desconhecido 1 fosse. Passou a perceber e saber tudo o que eu queria que ele soubesse. E passou a dizer e sentir tudo o que eu mais queria que ele dissesse e sentisse. E eu vi em você toda a minha ansiedade. Toda a minha vontade de viver um grande amor e me entregar a maior de todas as paixões. Então todas as coincidências do mundo apareceram para nos assombrar. Você descobriu todos os meus medos e se dispôs a combatê-los. A extermina-los. Em que momento daquela noite tão rápida isso aconteceu, eu não consigo lembrar. Você virou meu salvador, o príncipe encantado de quando o mundo era cor de rosa e azul claro. Prometeu-me muito mais que o mundo, me prometeu você. E isso foi muito mais do que qualquer outra pessoa já fez. E lá estávamos falando sobre vida, morte, sonhos e aventuras. E lá estávamos falando sobre ternura, beijos e sexo. E lá estávamos falando sobre o Quase Desconhecido 1. E de súbito você me disse que me amava. E eu acreditei. Você me pediu para dizer que eu o amava, e eu nem sei, mas acho que falei. Não existe suposições plausíveis, nem explicações racionais. O que aconteceu simplesmente aconteceu. Foi loucura amorosa. Irracionalidade momentânea. Apenas isso.

As conseqüências foram muitas. Tudo mudou. Obrigada, Quase Desconhecido 2, por se dispor a largar tudo por mim. Obrigada pelo seu tempo, empenho, carinho. Obrigada por ser muito mais do que eu preciso, muito mais do que o Quase Desconhecido 1 poderia vir a ser. Você me disse que mudaria sua vida por mim. Mas foi minha vida que mudou. Acordei, pensei e refleti. Agora eu sei o que quero. É uma decisão só minha. Quase Desconhecido 1, você não acreditou no nosso sonho e ele acabou. Era mesmo uma louca história. Pensar nela faz o meu coração enternecer. Mas sonhos só se concretizam quando acreditamos nele. E agora estamos livres para novos sonhos. Conhecer você me tornou uma pessoa mais firme e decidida, porque eu nunca quis tanto alguém como desejei você. E quanto a você, Quase Desconhecido 2, não se entristeça, nesse momento em que eu preciso ficar só, tudo o que posso dizer é: acredite nos seus sonhos.

E agora queridos, me despeço dos dois. Vamos voltar a nos falar, mas com o coração muito mais leve, sem expectativas pesadas e inúteis. Porque eu, momentaneamente, deixei de sonhar. Vou esperar. Esperar meu coração se sentir preparado de novo para construir meus sonhos. Talvez um de vocês esteja lá. Talvez não. Mas o carinho ficou e eu, do meu modo, amei cada um de vocês.

Nenhum comentário: