domingo, março 05, 2006

A solidão das pautas é a falta das letras

Pois é, estou vivendo mais uma entressafra poético-literária. Esse período negro e obscuro, quando o papel insiste em permanecer branco, com suas pautas vazias de sentido, como o coração do amante que perdeu o seu amor. E estou assim. Entressafra poético-literária.

Tento, em vão, registrar qualquer fagulha, qualquer resquício de sentimento que tenha sobrado em mim. Ou tento, também sem sucesso, trazer um pouco do meu cotidiano para as minhas pautas. Ainda tento versar com as palavras poucas que conheço mas, tudo que consigo, são linhas em branco aguardando um novo texto. É que eu deixei todo o sentimento em outro coração que não é o meu e que não me pertence mais. E se me pertenceu em qualquer outra estação, quando as safras eram mais constantes, eu nunca percebi.

Agora vivo o pesadelo das pautas que aguardam ansiosamente por palavras, estórias e romances. Até um versinho infeliz, qualquer coisa diferente da solidão. Porque para as pautas, a solidão é ter uma linha embaixo da outra, sem nenhuma letrinha entre elas. E de solidão eu entendo, porque já sou doutor no assunto.

Quando tenho uma idéia ou penso num versinho infeliz, corro para a página em branco e tento escrever, desenvolver alguma coisa. Mas uma greve foi instaurada no papel. Ele fica brigando todo o tempo com a caneta, impedindo que das minhas mãos saiam as palavras, quaisquer que sejam elas.

E aí vem o pior: o papel antes branco e repleto de inspiração se transforma numa rasura triste e disforme. Porque a tristeza da pauta é perder a inspiração para as rasuras feias e tristes. E entre a solidão das pautas com linhas uma embaixo da outra e a tristeza dos rabiscos feios, o papel prefere a solidão, porque tristeza é a saudade daquilo que a gente sabe que não vai ter mais, porque não teve competência para manter.

Saudade sozinha é o direito de esperar por algo que pode acontecer de novo. Diferente de esperança, que é aguardar que algo bom aconteça. Mas saudade acompanhada de tristeza é o fim!

E por fim, ainda na entressafra, não tenho como deixar felizes as pautas do meu papel, que andam tristes pelos rabiscos que eu deixei fazerem em meu coração.

3 comentários:

Marina disse...

Lindo texto, Vini... Adorei suas palavras... Eu também tô assim... Com o papel triste com os rabiscos de meu coração... :)


Beijos.

Anônimo disse...

Olá
Gostei do que li...

Anônimo disse...

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