terça-feira, fevereiro 07, 2006

Dor de cotovelo? Tem que ter música (III)



Já me sobraram aqui enquanto escrevo, sorrisos saudosos, portos das vozes, das lágrimas e do tempo em que eu sabia a leveza de amar...

[Ao fundo “More Than Words” do Extreme e a batidinha mais sexy do mundo no corpo do violão (pelo menos nessa versão!)]

Toda a minha adolescência teve uma voz. Vinha dela, um rosto e todo o resto. De vez em quando, entre os meus dias sobrecarregados de “grandes” responsabilidades como os deveres escolares, os vídeos com as minhas amigas e um vôley torto, sentava-me no play com mais alguns pés, todos absolutamente menos importantes do que o par que estava sempre ao meio, carregando um violão. Ele tinha um, a mim um bônus (como os de promoção de supermercado, pague 1 leve 2), não precisava, bastava sabê-lo por perto.

E como em um ritual seguido por todas as outras rodas anteriores, vinha da boca do meu desejo, um lamento, um pedido que eu insistia em acreditar ser a mim, mas que contida pelos impulsos da racionalidade (a mesma que fazia com que eu não me atirasse no pescoço dele!), me contentava em apenas seguir a letra embalada pela música e pelas ilusões de menina apaixonada. Era Leandro e Leonardo “Pedindo Amor” a qualquer dia, qualquer hora e sem demora.

Vinha ainda um Jaaade eee... Grave e lindo (aliás, na época não tinha outro adjetivo à altura), que aos meus ouvidos chegava melosa e flutuantemente como Paaa ty yyy, de tão embasbacada que eu ficava. Nada devia ao João Bosco, ou ao Djavan, e o Oceano que eu via marejar nos meus olhos.

Foram anos assim, com uma paixão não correspondida, perdida nas rusgas de uma briga antiga, que nem sabíamos mais o motivo, mas que me valera interpretações dramáticas e solitárias no chuveiro... Não sei o que acharia o Cazuza e a sua “Luz Negra” se me vissem, roubando-lhes o papel da palhaça do amor.

Tivemos tempo para uma reconciliação, para nos tornarmos amigos, para rirmos muito de algumas situações (como as danças da vassoura nos momentos de paz) e nada, além disso. Eu, ainda para reconhecer-me fiel ao “Tudo que se quer” do Emílio Santiago, ocupando sem constrangimento, o lugar da Verônica Sabino.

[Tum, Tum... a batidinha!]

Um dia abriria um cartão... “Sombra e Sol”... cheio de Flávio Venturini e de um amor que dizia querer existir. O primeiro, de tantos que compuseram os anos habitados na quantidade de dedos de uma mão.

E foi cada “Pétala” vivida... Tudo de antes, esquecido... Todas as promessas feitas... Cumpridas e descumpridas... Felizes, capazes, partidas, completas.

Esse seria o amor sentido e não apenas desejado... Abençoado nos altos e baixos tons por um Guilherme Arantes esquecido do adeus... “Só você pra dar a minha vida direção”, findos no “Meu Mundo e nada mais”.

Amores distintos, um transpondo o outro... Ainda dividiria meu coração... Existiriam novos rostos, mas nenhum que me fizesse querer lembrar como esses, em um texto brega, tão próprio aos casos de amor.

Tantas as músicas... Só dois cotovelos...
E vocês, tem sua listinha preferida?