segunda-feira, maio 08, 2006

La isla de Fidel (ou "Cada povo tem o revolucionário que merece?")

Escutei esta semana em algum lugar que a fortuna pessoal do "comandante" Castro de Cuba estaria avaliada em cerca de 150 milhões de dólares. Achei intrigante (não tanto pela cifra, mas pelo inusitado da situação) e resolvi consultar o pai-dos-burros dos tempos modernos. Uma rápida conversa com o google.com, e ele me confirmou que realmente a fortuna do cubano estaria na casa dos milhões. Na verdade não houve consenso entre os dois ou três sites em cujos textos passei rapidamente os olhos... O patrimônio seria algo entre 110 e 150 milhões de dólares, e foi a matéria anual da revista Forbes das pessoas mais ricas do mundo.

Apesar de ser a Forbes o poço de honradez e comprometimento com a verdade que alardeia, e apesar de minha natural desconfiança em relação a quaisquer honrados e comprometidos financistas norte-americanos, fica a questão. Temos um auto-proclamado revolucionário que, sem deixar a dever a yuppie algum em matéria de perfeita aplicação dos princípios fundamentais do capitalismo, acumulou durante anos de "não trabalho" (afinal, é bom sempre ter em mente que Fidel Castro não exerceu profissionalmente a advocacia) uma fortuna de fazer inveja a muito milionário admitidamente capitalista. O mais interessante é observar a importância de Fidel Castro na história mundial recente. A Cuba da grande revolução apareceu aos olhos duma geração inteira de sonhadores e intelectuais de esquerda como uma lufada de ar fresco num mundo de extremas desigualdades sócio-econômicas... era a prova viva de que uma republiqueta de bananas tão igual a tantas outras podia sim, ter seus heróis... heróis que, bem-nascidos, instruídos e desprendidos tinham uma aproximação tal com o cortador de cana, o catador de laranjas e a dona-de-casa que traziam ali pra perto, pro dia-a-dia, a discussão de bipolaridade social econômica e política das grandes potências. E com os heróis de Cuba, voltava mais uma vez ao inconsciente daquele sem número de indígenas e negros latinos o sonho de união em torno de um ideal. O que Emiliano Zapata buscara no México, Fidel, seu irmão Raul e o Che buscariam América Latina afora.

Só que o Che se perdeu em seus próprios sonhos... e Fidel é hoje (ainda segundo a honrada Forbes) mais rico que a rainha da Inglaterra! É de se imaginar o que vai fazer alguém em Cuba com tanto dinheiro. Como não há por lá as farras gigantescas regadas a cocaína envolvendo astros decadentes de Hollywood, há que se dar tratos à bola pra imaginar onde se gastar 150 milhões de dólares! Não em charutos cubanos ou em rum, que obviamente custam bem menos em Cuba que no resto do mundo... Aliás, só pra que tenhamos uma idéia mais exata do que é a Cuba dos dias de hoje, duas das atividades mais lucrativas do país são o contrabando de alimentos das zonas rurais e a prostituição nas áreas do complexo turístico... Fidel governa (ou "comanda", como ele próprio preferiria) médicos, advogados, esportistas e professoras que contribuem como muambeiros e putas para o PIB de da ilha. Eis o herói da grande revolução...

Vale dizer que eu acredito desde sempre na filosofia política do socialismo enquanto sistema econômico que busca privilegiar por meio principalmente da divisão de renda um pouco mais igualitária o bem-estar social. Eu não tenho fé é nas pessoas... e o acúmulo de riqueza do herói cubano não cabe neste raciocínio por um motivo bem simples... é que pra que ele, e os poucos que o cercam, acumulem 150 milhões, com toda a certeza há pessoas que não tem nem pra comer. É a lógica mais simples do mundo, e não é preciso ser um financista da Forbes pra saber disso. Eu acredito na revolução. É, a meu ver, o que provavelmente mais bonito e puro aconteceu no século, no que diz respeito a mobilizações sociais. Infelizmente teve contra si a maior das nações de um lado... e do outro seu maior herói revolucionário... Mas seja como for, quero eu mesmo escoher meus heróis revolucionários cubanos... Fico com o Pedro Juan Gutierrez, escritor das putas, muambeiros e desvalidos em geral, que enxerga com o olhar ácido do remediado a Cuba pós-revolucionária. Outro dos meus heróis seria o Pablo Milanés... este ingênuo que se por um lado acredita piamente no regime, por outro compôs algumas das mais belas canções em língua espanhola. E chamo pra meu exército todo o contingente de velhinhos do Buena Vista Social Club (ou pelo menos os que ainda sobraram...), que na Cuba de Fidel eram engraxates, manicures, etc. E assim, está formado meu exército. O exército dos novos revolucionários de Cuba. Dos cubanos que não tem 150 milhões pra seu uso, nem tampouco falam por horas seguidas a quem talvez não queira ouvi-los.

São os verdadeiros heróis de Cuba. São o exército do povo!

6 comentários:

Ci. disse...

Pois é, Leo,qdo o processo revolucionário cubano ultrapassou a vontade pessoal do Fidel, mas o cara permaneceu no poder, já dava para imaginar que coisa boa não viria. Vc tem razão nas críticas, embora eu discorde com sua concepção de socialismo.
Caraca, vc tá escrevendo cd dia melhor!!Parabéns, cara!

Diógenes Pacheco disse...

Acreditar no socialismo e não nas pessoas. É...
Mas em alguma medida temos que confiar nas pessoas, senão o lugar certo para se viver seria embaixo da cama.
Você já sacou minha opinião quanto a isso. Mas digo mais: eu acho que tudo dá certo, inclusive o capitalismo, se houver um estado de bem estar social realmente funcionando. Já acontece em alguns lugares do mundo, não é utopia. É vontade política. E me sinto direcionado a fazer o que puder para que, ao menos, esta realidade seja expandida.

[]´s

mg6es disse...

Nos meus sonhos mais remotos, vejo a Cuba pós-Fidel, como um oasis de bonança, e gozando dos males e bens de um capitalismo feroz.

Ótimo texto, caro Léo!

[]´s

Vinicius disse...

Já te conheço de outros carnavais e conheço, também, seus ideais socialistas, comunistas e outros istas da vida.

Meu caro, mais ou menos na sua linha, eu não acredito nas pessoas. Mas não falo de boa vontade, o nosso problema é genético. O homem, primata por classificação, não foi criado pela natureza para viver em sociedade.

Qualquer tentativa humana de ser social falhará, não importa o regime, os heróis ou qualquer outro fator. Estamos fadados ao fim, que chegará sem avisar.

Mas que o texto é bom, não preciso comentar.

Anônimo disse...

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