sexta-feira, dezembro 01, 2006

A fala na palma da mão

Sua boca não pára um só instante, mesmo que calada. Fala, sorri, boceja, se contrai, descontrai, atrai, canta e encanta.

Ele conversa com minha respiração, com meus batimentos cardíacos, com os fios do meu cabelo e os sinais do meu rosto. Logo ele que me ensinou a não constranger o silêncio com palavras... Que me fez entender a linguagem das mãos que se buscam, calmas.

Ele segura minha mão na sua própria para que elas possam ter conversas sussurradas. O amor é um murmúrio constante, não um grito. O amor não tenta se transfigurar em desejo. O desejo é que tenta se transfigurar em amor, a medida que o grito se extingue. O amor é um espasmo. Um beijo mirado na ponta do nariz ao invés da boca. Um gesto simples como andar de mãos dadas.

Nossas mãos são eternas apaixonadas. Se atraem com uma facilidade surpreendente - a minha direita com a sua esquerda e vice e versa. Se amam entrelaçadas, transpiram, respiram seus próprios odores. Se casam todo dia na mais sagrada união. Brincam com as linhas que estavam em sua companheira antes mesmo de chegarem, porque o amor não apaga o passado, não é desmemoriado. O amor respeita a história das mãos. Não tem a intenção de curar os calos, mas de conversar com eles. Intenta fazer a mão vestir-se de luva para desnudá-la e beijar todos os antigos sinais. O amor não atira o passado pela janela, mas preserva-o sempre na palma da mão.

O amor não se apaixona. É, desde que nasce, um eterno apaixonado. O amor toca as mãos antes de tocar a coxa. Toca a alma antes de tocar o sexo. Toca a intimidade, mas não se intimida. Não gosta de jogos de conquista, porque já foi conquistado. O amor se entrega de bandeja.

O amor dele é a mão que se cola na minha para conversar sobre nada. Que pede permissão à cintura para acariciá-la. Que sussurra palavras bonitas para meus cabelos. Que se admira com um sorriso. Que escreve sua história nas linhas das minhas próprias mãos. É o que muda minha escrita quando, inevitavelmente, escrevo com mãos apaixonadas.

2 comentários:

Anônimo disse...

Lindo, Melina!
Adorei!

Como é bom escrever com mãos apaixonadas... :)

Beijos

Vinicius disse...

Realmente o texto é lindo. Sinto falta de uma mão entrelaçando a minha, apaixonada e sincera...

Inclusive o texto lembra uma música que compus, chamada ? Blues do Ansioso", onde eu falo coisas do tipo "minhas mãos falam pelo cotovelo..."

Parabéns pelo texto!