segunda-feira, julho 18, 2005

tem um passarinho morando no meu banheiro

É isso... estou dividindo meu banheiro com um passarinho. Não um daqueles cuja vivacidade vai se esvaindo aos pouquinhos dentro duma gaiola, pra saciar o prazer egoísta de alguém. Não... o meu pequeno amigo – voluntarioso que é – vem e vai quando bem entende. Nosso primeiro encontro foi bem casual. Numa dessas madrugadas insones, venho meio que tateando ao banheiro, quando na penumbra, ouço um “piu” agudo por detrás da porta. Abro. Outro “piu”, desta vez de indignação, e lá se vai o pequeno janela afora.

Ora... um passarinho na janela do meu banheiro!

Dias depois, bem no meio da manhã, porta do banheiro entreaberta, já vou sendo recebido por mais “pius” alegres. Dessa vez cheguei devagarinho e resolvi observar. E vi o pequenino logo ali, em sua corrida frenética dos afazeres diários. Uma pigarreada leve, para avisá-lo de que eu estava por ali e precisaria também usar o banheiro, e fui entrando. Com um último “piu” de consentimento, foi-se embora. Era evidente a situação... tínhamos em casa um novo inquilino. Não sei bem se trazido pelas dificuldades de moradia que provavelmente todo passarinho urbano enfrenta, o fato é que o pequeno escolheu o teto de gesso de meu banheiro (por onde passa através de um furo) para morar, e criar sua prole.

Até aqui a coisa vem funcionando bastante bem. De início, pensei em puxar papo... fazer uma piadinha... citar o Quintana... oferecer uns biscoitos, sei lá... Mas mudei logo de idéia, depois que percebi alguns “pius” meio arredios, e resolvi não forçar a barra. Pois é, o pequeno é mal-humorado. Ainda assim, já temos um tipo de acordo não-escrito de cavalheiros. Temos horários pré-definidos, e tentamos respeitá-los. Já notei os horários em que ele quer a preferência, e quando me aproximo do banheiro, faço-o com cuidado, percebendo antes os “pius”, para não invadir sua privacidade. Aos domingos tenho percebido que o processo não funciona tão bem... ele provavelmente dorme até um pouco mais tarde... acordamos ambos já com o sol alto, e já aconteceu de eu entrar e encontrá-lo por lá, fazendo o que quer que façam os passarinhos nos banheiros das pessoas, num horário que não era o dele...

Mas estamos avançando. Já noto da parte dele um certo relaxamento nas atitudes, antes tão arredias. Já são um pouco mais demoradas suas visitas, e já não sai tão rapidamente quando me vê. E quer saber? A vovó comentou que dá muita sorte ter pássaros em casa... Partindo deste pressuposto, é mais do que lógico imaginar que se já dá sorte ter um pássaro preso (fico pensando onde que está a sorte pro pássaro), imagina o que pode acontecer quando ele mesmo se convida? Acho que está na hora de começar a tentar a loteria...

Pois que venha, pequeno amigo... que venha e seja muito bem vindo!