Joana não ligava se ele não sabia brincar. Ia ter que contar do mesmo jeito! Ela salvou todos, todo mundo sabia a regra, só ele que não sabia!
- Não vou contar! Eu achei Cecília, Paulinho e Renata!
- Vai contar sim! Senão ninguém mais vai brincar com você! Nunca mais!
- Ah é? Eu que não quero mais brincar com vocês!
Depois de um pouco mais de discussão, o Henrique cedeu.
- Você sabe muito bem como é o jogo!
- Tá bom, eu conto! Mas é sacanagem!
- Não é não! E é até cem, viu?
Henrique encostou na parede da velha vendinha e a meninada correu depressa pro mato. Menos Cecília, que foi pro outro lado, atravessou a rua, e se escondeu do lado da casa do Seu Luís.
Joana, que sempre ia um pouco mais longe que todo mundo, viu uma árvore troncuda na margem do rio, e se abaixou atrás dela. Virada para o rio, de costas com a árvore, rapidamente imaginou por onde Henrique devia vir, e por onde ela ia correr. Ia mais longe para ser a última a ser encontrada, salvar todos, e ser a heroína no final. Era esperta, a mais ágil da turma, e sabia muito bem disso.
Virando o rostinho, via as investidas de Henrique. Procurou pelo fundo da casa, deixando bastante espaço para que a tática de Cecília desse certo.
- Um, dois, três, salve eu!
Ele nem correu, que não dava tempo mesmo.
Depois foi o Paulinho, que ele achou praticamente em cima do esconderijo. Paulinho ganhou na corrida mesmo.
- Um, dois, três, salve eu!
Paulinho saiu se gabando, batendo no peito.
- Lerdo! Lerdo!
Henrique estava vermelho que nem uma maçã. Prestes a explodir.
Com o pescoço cansado de ficar tanto tempo virado, e Henrique longe, Joana voltou seu olhar novamente pro rio. Uma coisa boiando chamou a sua atenção – um objeto pequeno, meio verde e meio amarelado, que não ia com a correnteza, e ela não conseguia entender bem o que era.
Ouviu um barulho distante. Era Henrique correndo, com Renata longe atrás. Renata deu mole, com certeza. Henrique não tinha como perder aquela. Ouviu outro barulho, vindo do rio, do lugar onde tinha visto o objeto. De repente tomou um susto!
- Aaaaaahhhhhhhh!!!!
O grito foi daqueles, e a meninada toda veio para ver o que tinha acontecido. Menos Henrique, que antes terminou de se garantir.
- Acusada Renata atrás da pedra!! Acusada Joana atrás da árvore!!
O pessoal chegou perto e Joana gritou de novo, apontando com o dedo:
- É um jacaré! É um jacaré!
Todos olharam e não restava dúvida. Tratava-se de um jacaré.
Cecília saiu correndo e gritando:
- Fujam! Fujam! Ele vai comer a gente!
- Para! Vem cá! Eu sei o que tem que fazer!
Cecília voltou devagarinho. Henrique perguntou:
- Como assim “o que tem que fazer”?
- Pra prender ele!
- Prender ele?
- É! A gente prende com uma corda! Eu vi na televisão! Paulinho, corre na sua casa que é mais perto, e arranja uma corda!
- Acho que lá em casa não tem corda!
- Vê lá! Vê lá!
O jacaré se aproximou um pouco, parando em um lugar mais seco e com sol. A distância da turma estava ainda razoável, ou ao menos era isso que eles pensavam.
- Vocês são malucos! Eu vou é contar pro meu pai!
- Cecília, se você sair daqui, eu conto aquele segredo!
- Que segredo? Eu não tenho segredo!
- Ah é? Deixa o Paulinho voltar que eu conto para ele e o Henrique de uma vez só!
- Tá bom, eu fico.
Paulinho voltou com uma corda grande.
- Tá boa?
- Tá ótima! Henrique, segura a ponta de lá! Você segura a outra, eu vou no meio!
- E a gente?
- Vem do lado da gente, para ajudar, se precisar!
Quarenta minutos depois, a polícia e duas equipes de reportagem estavam no local. A repórter, estarrecida com o acontecido, perguntava:
- E você não achou que era perigoso?
- Não! Eu vi na televisão! Mas tem que amarrar a boca dele enquanto tá fechada, né? Que ele não tem muita força para abrir! Só pra fechar!
Henrique e Paulinho, com outro repórter, discutiam:
- Mas se não fosse a minha força, a gente não tinha conseguido!
- Quem botou mais força fui eu!
Os
policiais,
depois de
injetar sedativos, retiravam o
animal do
freezer horizontal onde as
crianças o tinham colocado.
Cecília ouvia uma bronca do pai, Renata chupava um picolé de limão, perto dos policiais:
- Cuidado, viu? Ele mexe um bocado na hora de carregar!
* Inspirado
nisso aqui.
5 comentários:
Quando cheguei na parte dos policiais eu pensei que o jacaré tinha comigo alguém.
Mas antes disso eu achei que alguém ia comer a Joana.
Estou com a cabeça muito libidinosa... Ou trágica.
Assim como o Vinicius, eu também pensei que o jacaré tinha atacado alguém.
Você me fez lembrar as brincadeiras de criança... Eu sempre me escondia em lugares estratégicos pra salvar a mulecada! hehehe.
Bons tempos aqueles...
Abraços!
A idéia era dar esse susto mesmo... :)
[]´s
É, o susto foi dado, mas, jamais ia imaginar que isso fosse lá nos states, tava com cara de Brasil hehehe!
Por fim, ninguem comeu ninguém.
Vlw a adaptação!
[]´s
What a great site »
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