quarta-feira, outubro 19, 2005

Outubro ou nada!

Já fiz muita bobagem nessa vida, e muitas delas, apesar de ditas “bobagens”, foram muito além de ler Paulo Coelho. Já participei de rachas, pratiquei cavalo de pau, pilotei moto sem capacete, e sempre fui amante da velocidade. E já tive arma. Isso lá trás, na minha adolescência no interior. Andava na casa dos dezesseis anos, e, por pura auto-afirmação, comprei um revólver calibre 22. Era comum no meu grupo de amigos - alguns fazendeiros – ter uma arma e sair com a mesma nas ruas. Esse eu acabei perdendo em circunstâncias misteriosas numa saída com os mesmos amigos. Mais adiante, quando aos dezenove, cometi a mesma bobagem. Dessa vez uma arma maior e com porte, e, “endossado” pelo fato de saber atirar, devido a prática no período do serviço militar. À época trabalhava com grandes valores e usei esse subterfúgio para legalizá-la. Nunca dei um tiro com outra direção que não o céu, ou, latinhas de fundo de quintal. Hoje deposito essas atitudes à casa da inconseqüência juvenil, e não vejo graça em ter uma arma, seja qual for a desculpa.

Aí vem o refedendo, ops, referendo. Não dei muita atenção ao mesmo, isso logo no início, o das vinhetas da justiça eleitoral. A princípio meu voto seria “não”, mesmo sem ler quaisquer argumentos. Baseei-me apenas na subtração do direito à legítima defesa, esse inegável, e fato. A campanha tomou a proporção querida pelo governo, num tom de desvio das atenções do lamaçal federal. O próprio referendo em si já se faz desnecessário, e hoje, já decidi não participar dessa patuscada. O país se dividiu entre “sim” e “não”, quem vota para preservar o direito à defesa virou simpatizante do banditismo, um amigo já anda me chamando de “poeta da bala”. Quem vota no “sim” virou santo, e todo artista global sempre foi santo. Santa Fernanda Montenegro mora num palacete cercado de seguranças, jamais fez ou fará uso de uma arma, exceto na ficção. Enfim, a Globo virou uma igreja, um tanto paradoxal, pois acaba de pôr no ar uma novela de nome Bang Bang.

Um tiroteio de estatísticas se trava na mídia, umas manipuladas e outras maquiadas. O sensato é até óbvio, pois basta um cálculo matemático: 70% das armas fabricadas no país são exportadas, 20% vão para as forças militares, o restante fica para empresas de segurança, e menos de 2% desse resto chegam ao cidadão. O “sim” insiste em dizer que a criminalidade prolifera por culpa das armas dos cidadãos, ou que, grande parte das mortes se dá por crimes caseiros. Essa semana chegaram a divulgar que um revólver 38 custa 3 mil reais nas lojas. Achei um exagero, mas, por mim, deveria custar 10 mil. O governo criou o estatuto do desarmamento, e, basta uma olhadela nos artigos principais para ver o quão difícil ficou para se comprar uma arma legal. Afinal, em matéria de burocratizar, todo governo é craque.

O “sim” passa a imagem mágica de que se ganhar, no outro dia, mortes por arma de fogo serão coisa do passado. Acho que quem quer/pode ter uma arma, antes de tudo, tem de ser responsável pelo uso que vai fazer da mesma. Um automóvel é uma arma, e se mal utilizado pode matar, e mata diariamente, mas, nem por isso se fez referendo algum pedindo que se deixe de fabricar automóveis. O homem é seu próprio referendo, cabe a ele, dentro do seu papel, cuidar de si e de sua família, com ou sem armas. O governo é o provedor maior, cabe a ele nos dar segurança decente, e não agir nessa de “toma que o filho é teu”, jogando suas responsabilidades no colo do cidadão tão sofrido. Domingo, quem for votar, que o faça com sensatez, posto que é um tiro dado, depois que vota é tudo ou nada!

Luz e Paz!
[]´s

6 comentários:

Vinicius disse...

Grande Múcio!

Eu voto com o SIM, exclusivamente porque não acredito que arma de fogo defenda o cidadão. Essa história que falam que quem tem arma em casa está protegido para mim é falsa. O bandido, quando entra em sua casa, está preparado psicologicamente para tal. Quem é invadido está com sono e com medo. Se o bandido sabe que você pode ter uma arma em casa ele vai logo atirando. Se ele tem certeza que você não tem arma, ele invade com mais segurança, mas pode não atirar, pois sabe que não vai morrer. Além disso, você acorda com medo e assustado, portanto não tem reflexo para atirar com perfeição, podendo inclusive matar alguém da familia ou morrer e perder sua arma.

Mas é seguro afirmar que o problema não está na venda ou não de armas e munição. Nosso problema é estrutural. A violência é entidade. Tem corpo, com cabeça, tronco e membros. É preciso ação pública. E começar desarmando o cidadão não soluciona nada.

Mas meu voto é SIM.

Anônimo disse...

tu eh muito inteligente mucio!!! não me canso te te falar isso!!! Eu voto não...eu acho que essa história de referendo não vai mudar a situação em nada!!! Estão gastanho dinheiro á toa com essa história!!!!

Anônimo disse...

Múcio,

No início desta campanha para o referendo eu tinha uma certeza: votaria no SIM. Sempre fui e continuo a ser contra armas de fogo. Acho que a arma representa poder demais na mão de um ser imperfeito como o ser humano,a arma representa um poder de escolher entre a vida e a morte, um poder que a sociedade não concedeu nem ao Estado e portanto, não acredito que um cidadão possa ter a prerrogativa de decidir isto num momento de emoção, num segundo...

Com o desenrolar da campanha, vi uma total manipulação de dados dos dois lados e consegui perceber a ingenuidade do meu entusiasmo pelo referendo. Tudo foi milimetricamente pensado para transformar este referendo numa balbúrdia, deste a pergunta mal feita à ordem das respostas Não é o 1 e o Sim é o 2(alguém já te perguntou algo e te deixou a chance de escolher entre Não e Sim ou entre Sim e Não?)

Mais uma vez nossos representantes tentam transferir a responsabilidade de sua imcompetência para os cidadãos, querem nos fazer acreditar que um Sim ou um Não vão resolver o problema da "guerra civil" em que vivemos, acham que conseguem ludibriar a todos os pais dos 36 mil mortos com armas de fogo a cada ano, acreditam que aplaudiremos de pé esta palhaçada.

O referendo serviu apenas para desviar o foco das CPMI's e da pizza que se arma no planalto.

Votarei no SIM por convicção pessoal, mas minha vontade é anular meu voto e registrar minha indignação com toda esta palhaçada!

Abração!Ótimo texto!

Diógenes Pacheco disse...

Eu voto não, também. Por razões bem semelhantes às que foram aqui colocadas.
Principalmente porque não aceito que, diante do meio ao qual estou exposto, não tenha a possibilidade de me defender.

[]´s

Fábio Farias disse...

Como foi comentado, se não fosse por convicções pessoais, votaria nulo. Mas voto SIM.
Não acho que o "ter uma arma" é um direito.
Me baseio no fato em que com uma arma eu estou criando um risco potencial para outras pessoas. Ou seja, to tirando, de certa forma, o direito delas.

Mas isso é "besteira" Triste mesmo é essa politica brasileira ;/

Marina disse...

Ótimo texto, Mu! :)

:**