Monotonia.
O Homem de Senso de Humor Peculiar, cabisbaixo, andava arrastando os sapatos no chão da Cidade Cinzenta e Sem Graça. Como sempre, chovia - pouco.
As calçadas meio sujas, mas nem tanto, deslizavam sob os sapatos com uma resistência média, fazendo um ruído rouco, nem alto, nem baixo.
Ele olhava para o chão, olhava para o céu... Evitava olhar a qualquer altura ou direção em que fosse arriscado um cruzar de olhos com qualquer pessoa insossa, destas tantas que haviam na cidade.
Quando olhava para o céu cinzento, esperava no íntimo que tropeçasse em alguma coisa, ou pisasse num buraco. Quando olhava para o chão, talvez pudesse esbarrar em algo ou alguém vindo rápido, ou bater o topo em alguma coisa. Mas ele sabia que a Cidade Cinzenta e Sem Graça não tinha buracos e nem paralelepípedos soltos, nem gente correndo, nem nada tão fora do lugar para acertar-lhe o alto.
Entrou no seu carro, de cor fosca acinzentada, ligou o motor fraco e silencioso, e saiu pelo trânsito livre das ruas lentas de pista única. Olhava com um fundo de desejo para todos os cruzamentos, junções e curvas, acreditando que alguém pudesse se atrapalhar, ou vir um pouco rápido, e bater o carro nele. Já tinha praticamente um script, involuntariamente criado em seus momentos de tédio ao volante: sairia do carro e diria com olhar conclusivo: "O carro bateu?", numa expressão de inteligência. Por dentro estaria rindo sozinho, mais que o necessário, de tanta saudade que tinha de uma tirada burlesca.
Mas naquela cidade as ruas tinham radares de velocidade, as coisas não eram perto nem longe, as pessoas saíam num horário razoável, e a sinalização de trânsito era suficiente, em suas placas desbotadas.
O Homem de Senso de Humor Peculiar buscou sua namorada, que ele não amava mas estava acostumado, a Mulher de Saias no Joelho e Coque. Se adaptara à sua rotina.
Foram para seu apartamento no terceiro andar.
As calçadas meio sujas, mas nem tanto, deslizavam sob os sapatos com uma resistência média, fazendo um ruído rouco, nem alto, nem baixo.
Ele olhava para o chão, olhava para o céu... Evitava olhar a qualquer altura ou direção em que fosse arriscado um cruzar de olhos com qualquer pessoa insossa, destas tantas que haviam na cidade.
Quando olhava para o céu cinzento, esperava no íntimo que tropeçasse em alguma coisa, ou pisasse num buraco. Quando olhava para o chão, talvez pudesse esbarrar em algo ou alguém vindo rápido, ou bater o topo em alguma coisa. Mas ele sabia que a Cidade Cinzenta e Sem Graça não tinha buracos e nem paralelepípedos soltos, nem gente correndo, nem nada tão fora do lugar para acertar-lhe o alto.
Entrou no seu carro, de cor fosca acinzentada, ligou o motor fraco e silencioso, e saiu pelo trânsito livre das ruas lentas de pista única. Olhava com um fundo de desejo para todos os cruzamentos, junções e curvas, acreditando que alguém pudesse se atrapalhar, ou vir um pouco rápido, e bater o carro nele. Já tinha praticamente um script, involuntariamente criado em seus momentos de tédio ao volante: sairia do carro e diria com olhar conclusivo: "O carro bateu?", numa expressão de inteligência. Por dentro estaria rindo sozinho, mais que o necessário, de tanta saudade que tinha de uma tirada burlesca.
Mas naquela cidade as ruas tinham radares de velocidade, as coisas não eram perto nem longe, as pessoas saíam num horário razoável, e a sinalização de trânsito era suficiente, em suas placas desbotadas.
O Homem de Senso de Humor Peculiar buscou sua namorada, que ele não amava mas estava acostumado, a Mulher de Saias no Joelho e Coque. Se adaptara à sua rotina.
Foram para seu apartamento no terceiro andar.
Jantaram feijão com arroz, fizeram sexo na posição papai-e-mamãe, uma vez. Ele gozou pouco, ela não gozou, mas disse que foi bom mesmo assim. Dormiram de pijama e meias, depois de passar Vick Vaporub.
O Homem de Senso de Humor Peculiar sonhou com quadros de natureza morta, acordou ao ouvir ao longe uma gaita de foles, olhou para o céu nublado e, num impulso de desespero, gritou pela janela: "VIDA!", e baixinho, arrematou "que caralho...". Mas não riu.
E ninguém pareceu ouvir, e a Mulher de Saias no Joelho e Coque o chamou para tomar seu café com leite e pão, enquanto ligava a tevê no jornal.
[]´s
O Homem de Senso de Humor Peculiar sonhou com quadros de natureza morta, acordou ao ouvir ao longe uma gaita de foles, olhou para o céu nublado e, num impulso de desespero, gritou pela janela: "VIDA!", e baixinho, arrematou "que caralho...". Mas não riu.
E ninguém pareceu ouvir, e a Mulher de Saias no Joelho e Coque o chamou para tomar seu café com leite e pão, enquanto ligava a tevê no jornal.
[]´s
6 comentários:
Um: eu adoro céu nublado e quadros de natureza morta.
Pq as pessoas sempre associam isso à melancolia e sentimentos/comportamentos afins?
Mas o texto é muito bom!
... principalmente a parte do vick vaporub, he he he
Que coisa morna, dá vontade de chutar esse cara e essa mulher e dizer "acordem!"...que agonia!
Mas é o tipo de texto que eu gosto, porque causa alguma emoção.
que tédio...
que caralho!
(e não estou rindo)
=|
=P
=*
Simplesmente, do caralho!
[]´s
Dido, incrível como vc podde ter pena de um cara que mora numa cidade tão arrumadinha quanto essa! O caos de SSA te agrada tanto assim?
PS. hoje é sexta portanto vc está atrasado com o post desta semana.
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