quarta-feira, novembro 30, 2005

O Papa não poupa ninguém


A Igreja Católica é chantagista. Seus dogmas são retrógrados. Ela parou no tempo. Excetuando-se a inquisição, nada mudou em séculos; e diga-se inquisição plena, porque a caça às bruxas seguiu velada em atos paridos nos concílios fechados. A chantagem-mor é a idéia do pecado, é a imposição do castigo a quem comete seus erros. A Igreja não peca! Impoluta, imaculada, seus quadros são puros pastores, e raramente o joio vai junto ao trigo, num lapso do separador. O católico não deve se separar, pois se casou e não deu certo, deve seguir no seu lar infeliz, criando seus filhos infelizes, com sua esposa infeliz. O Vaticano já classificou a AIDS como uma “patologia do espírito”, e segue orientando o seu rebanho a não usar camisinha, com o intuito de preservar a vida acima de tudo. O aborto é terminantemente proibido, e se, uma mãe tiver a infelicidade de gerar uma criança acéfala, esta deve esperar até o “nascimento”, ou, sofrer nove meses à espera de um filho semi-morto. Para o mundo cientifico as células-tronco podem salvar milhares de vidas, mas, para a Igreja isso não pode ser permitido, posto que a origem da vida está no próprio esperma. E enumeraria aqui outros fatores que demonstram o não acompanhamento dos dogmas à evolução do mundo, mas ficaria cansativo.

Atualmente o celibato tem sido duramente criticado por quem tem uma visão sensata sobre a origem dos escândalos sexuais. Cristo deu a outra face, mas, seu representante aqui na terra não cede. A proibição de qualquer tipo de relação afetiva para um padre é uma porta aberta à transgressão. O proibido excita, incita ao desobedecer. A nova discussão é sobre outra regra, a de os homossexuais serem banidos de seus quadros, ou, melhor dizendo, serem banidos antes de entrar para os seus quadros. Quando na verdade, se a própria Igreja seguisse o mandamento que diz para se amar ao próximo como a si mesmo, e respeitasse as diferenças, toda crítica seria castigada, e com razão.


Cresci católico e ia à missa de domingo por pura obrigação, esperando ansiosamente pelo grand finale “Vamos todos em paz, e que o Senhor vos acompanhe...” entre bocejos e cochilos, e breves espiadas no missal. À noite, mecanicamente repetia um Pai-nosso e uma Ave Maria às pressas, tudo para não ser um pecador, e nem ir para o inferno. Um dia, a minha vida virou de ponta à cabeça. Envolvido num grave acidente, tive uma experiência insólita, a de sair do próprio corpo, e por uns instantes visualizei tudo em minha volta, mergulhado num branco indizível, e num silêncio sem par que deve ser o da morte. A partir daí eu conheci a Doutrina Espírita, e logo me vi devorando O Evangelho e O Livro dos Espíritos de Kardec, onde encontrei respostas e contradições que não tardaram a se dissipar. Foi aí que passei a rever o sinal da cruz, pois como Jesus ressuscitou, devo lembrar dele vivo, e não preso à cruz, portanto faz-se desnecessário outro ato mecânico que tenho pra mim foi criado pela igreja para deixar claro que o sofrimento existiu, e que por isso devemos ter pena de Jesus, e ódio dos seus algozes. Como na Ordem dos Templários, como na Inquisição, a Igreja fomenta o medo, e pune o “pecado” com a dor. E assim, de católico não-praticante passei a crítico por sensatez.

A vida normal segue aqui, fora dos muros do Vaticano, com seus atropelos diários. Lá dentro, num mundo de ostentação e mordomia, o intocável Papa com seu status de semi-deus dita as regras a serem seguidas pelo seu rebanho. Ele ama ao próximo como a si mesmo, contando que este seja contra o aborto, não use camisinha, e faça sexo com a única e exclusiva finalidade de procriar, e por isso, jamais com parceiros do mesmo sexo. Enquanto isso, na casa ao lado, seminaristas se masturbam ou comem uns aos outros, padres quebram o celibato, violentando adolescentes e afins. Até quando esse falso moralismo?




6 comentários:

Marina disse...

Eu não acredito na Igreja Católica.

=|

Belo texto, Mu!

=P

=***

Fábio Farias disse...

Interessante sua visão crítica da Igreja Católica. Tenho uma história bem semelhante a sua com um agravante: o grande sofrimento da minha vida foi gerado graças aos dogmas cristãos, falos moralistas. Mas, como espiritualista convicto, sou obrigado a ver o lado filosófico(que infelizmente nao é "posto em prática" oficialmente) do cristianismo e de muitos padres e até mesmo pastores. Creio que esse retrocesso filosófico cristão(porque, se pararmos pra pensar, a igreja católica é mais branda do que outras igrejas que se dizem cristãs) vai acabar por engolir a propria igreja. Porque não há pai católico nesse mundo que fala para o filho(a) não usar camisinha.

Vinicius disse...

Mucio,

faz tempo que eu separei fé, religião, amor e casamento. Desde que li uma certa frase que dizia o seguinte:

Deus criou a fé e o amor. O diabo, invejoso, fez o homem confundir a fé com religião e o amor com casamento. Acho que é do Bandeira, não estou certo, portanto não vou atribuir...

De qualquer forma eu não acredito em prédios, imagens, livros e o que seja. Acredito em minha fé, que pode ser demonstrada como eu quiser, porque tenho livre-arbítrio.

Abraços cara!

Anônimo disse...

Sabe o bispo de Barra do Garças que está envolvido em uma denúncia de assedio a um seminarista? O cara queria porque queria realizar meu casamento. Diante da minha negativa, chegou ao cúmulo de me dizer que eu ia viver no pecado. O que de pronto respondi: que bom to querendo é pecar muiiiito rsrsrs
(cara de pau... a dele claro)

MARILEY

Anônimo disse...

Lembranças a parte, tem toda razão ao se indignar com a postura totalmente fora de lógica da igreja. É inaceitável a forma antiquada em que ela se põe. O pior é que ainda tem força...até quando não sei, mas queria muito que uma instituição com tamnho poder pudesse agir em prol do ser humano.

Beijo
MARILEY

PS. Sobrevivi

Anônimo disse...

That's a great story. Waiting for more. Montgomery gentry life is a dance