quinta-feira, fevereiro 02, 2006

En Passant?

- Pra você ver, cara... pra você ver!

- E qual é o problema?
- Essa sociedade do consumo, da imagem, sabe? Os valores bem aceitos, a normalidade social estabelecida, estão muito alterados!
- Estão...
- Esses dias, eu tava lendo um blogue...
- Blogue?
- É, é. É um tipo de página da internet que qualquer pessoa escreve o que quer. Nada demais, assim.
- Sei.
- Pois é. Então. Eu tava lendo esse blogue e o cara tava escrevendo sobre a avó dele.
- Sobre a avó?
- É. O camarada escreve bem... contando as coisas engraçadas da avó, e tal. Uma figura. A avó, digo. Mas não é sobre a avó do cara que eu ia falar. A gente está conversando sobre valores, aqui, afinal, não?
- Tá.
- Enche o copo aí... Pois é. Mas não é a avó. É a Valéria Valenssa!
- A Valéria Valenssa?
- É. A Valéria, cara.
- O que tem ela?
- É uma questão de respeito, sabe?
- À Valéria?
- É, rapaz. Respeito à Valéria. Ela merece respeito.
- Sim, claro, mas o que tem a ver...
- É o que eu tô tentando falar, bicho. O cara falava na substituição da Valéria.
- É. É outra, agora...
- Eu sei! Eu sei! Tá vendo aí? Mas não precisa ser assim! Esse desapego, sabe? As pessoas andam muito superficiais! Era um texto sobre a avó dele, e ela se chateava com as mulheres dançando na TV...
- Ah, é natural!
- Pois é. E se falou desse jeito na substituição da Valéria. Não tinha nada a ver. E até você, cara, tá vendo aí?
- Eu?
- Você! "É. É outra agora..."
- Que é que tem?
- A Valéria, cara! A Valéria! Os peitos da Valéria!
- É... Eram belos seios. E tinha as pernas, a bunda também...
- Pois é! Falei os peitos porque eram nus, mas o conjunto, claro! Naquele tempo não tinha internet!
- E aí?
- E aí que a gente não tinha acesso a essas coisas! Lembra? Peitos, eu digo. A locadora lá da rua tinha um armário fechado, e nem as capas dos pornôs, na idade da gente, nós podíamos ver. A televisão da minha casa era na sala, e eu não podia assistir a Sexta Sexy na Bandeirantes. Lembra da Sexta Sexy? Hoje é Cine Privê, mas é sábado.
- Se eu lembro? Minha televisão era no quarto!
- Pois é. A minha era na sala. Passava gente o tempo todo. Mas quando chegava época de carnaval... aí, sim! Tinha a Valéria, porra!
- Entendi.
- Então? En passant assim, a Valéria não! "É. É outra agora..." a Valéria não!
- Cê tem razão, velho.
- Tenho! Tenho, porra! Quer saber? A gente deve algo à Valéria!
- Deve.
- Enche o copo aí. Um brinde!
- Tim-tim!
- À Valéria Valenssa! Aos peitos da Valéria!
- E à Sexta Sexy!
- É. Vá lá... Engraçado que quando eu ia passar as férias, justo na casa da minha avó, falando nisso, aí tinha televisão no quarto...

[]´s
(Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com a realidade será mera coincidência. Pfff...)

2 comentários:

Fábio Farias disse...

hahahaha :D Cineprivê é da minha geração.
Adorei o texto.

Anônimo disse...

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