quarta-feira, abril 19, 2006

Sobre foices e martelos

Com o fim da União Soviética, o ideal socialista foi morar no campo das ilusões, caiu no ostracismo. A Rússia atual é um grande elefante branco, um país capenga que tenta se reerguer. A poderosa China se rendeu ao capitalismo, senão por inteiro, mas acabou inventando uma espécie de “socialismo capitalista”, e do vermelho restou apenas um mero romantismo, pra não falar da parte crua. Houve um tempo em que a revolução era o ideal de uma geração, uma espécie de utopia possível, algo palpável. O grande ícone desse tempo, Ernesto Guevara de la Serna, virou mito, e hoje estampa bandeiras, camisetas; povoa o imaginário da nossa linda juventude. Acredito que Guevara seja o único argentino capaz de anular a eterna rivalidade com os brasileiros, por uns instantes. Apesar dos pesares intrínsecos na cartilha que seguia, o guerrilheiro morreu acreditando piamente no socialismo como cura de todas as chagas da sociedade. Porém, a “Cuba Libre” tornou-se uma utopia, e ironicamente a liberdade hoje mora em Miami. Fidel eternizou-se e segue sua saga à mão-de-ferro, sem fugir uma linha da cartilha de Stalin e companhia. O povo pobre, oprimido por uma ditadura que tem a pena capital como cartão de visitas em pleno século XXI, vive num país sucateado, onde a felicidade vem à noite, nos sonhos de quem consegue dormir...

Do lado de cá, cada vez mais forte e não menos radical, temos o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra). Movimento de esquerda que também acredita no socialismo como cura das chagas, mas nem tanto. As chagas existem, são evidentes, mas a cura não pode sair à força. Invasões de propriedades, bloqueio de estradas, cobrança de pedágio, saques a caminhões, destruição de produtos de pesquisas, são apenas aperitivos da cartilha particular do movimento, que a igreja católica insiste em apadrinhar. São milhares de trabalhadores rurais, em sua maioria, analfabetos que sequer ouviram falar de Stalin, nem Guevara, e não passam de inocentes úteis manobrados por anarquistas aspirantes ao poder. Não se pode ignorar a legitimidade de um movimento organizado, contando que este tenha propósitos e respeite a liberdade de quem não participa dele e tem seus compromissos a cumprir. Com propósitos explicitamente políticos, o MST teria mais empatia transformando-se num partido, e concorrendo às eleições legitimamente.

Um movimento onde seu líder incita à violência seus comandados, principalmente num ambiente como é o meio rural no Brasil, onde os ruralistas já se armaram e estão prontos para a guerra, não pode exigir respeito. Na outra ponta da corda, o governo de esquerda se surpreende com a reação de seus “companheiros”, pois era de se esperar uma relação pacífica a caminho de uma reforma agrária abrangente e satisfatória, e o que se vê é uma verdadeira anarquia urbana. O que antes se chamava de êxodo rural transformou-se num verdadeiro caos social, e a luta pelo lugar no campo não se refere ao retorno do homem que de lá saiu, e sim a um verdadeiro êxodo urbano, onde cidadãos que se julgam espertos, saem de suas casas para tentar um pedacinho de terra sob a sombra da bandeira vermelha.

O que se espera agora, o mais rápido possível, é uma ação efetiva do governo na direção da tão sonhada reforma agrária que não passou de retórica em sucessivos governos. É necessário consenso e equilíbrio dos dois lados, trabalhadores e fazendeiros, cada um fazendo sua parte para que todos voltem ao convívio pacífico, caso contrário, veremos em breve o confronto das foices rurais com os martelos urbanos.

7 comentários:

Diógenes Pacheco disse...

Sei que estou sendo chato, mas Alckmin não é o cara certo para isso.
Ademais, a idéia do socialismo ter fracassado é injusta. E muito alardeada pelos interessados, também.
Não fracassou como modo de produção - foi até muito eficiente - e tampouco no sentido de promover a justiça social (mesmo sem a tão sonhada igualdade de oportunidades, mas com algo bem melhor do que vivemos).
Fracassou numa disputa imbecil que nunca devia ter existido - a guerra fria - e tomou um banho na propaganda, também.
Mas ainda tem quem acredite.

Blue Woman disse...

belas palavras, múcio!

Leonardo Caldas disse...

eu já notei por algumas colocações que faz, que o velho baiano tem um certo "sangue kamarada" correndo nessas veias... :)

penso parecido contigo em relação às conquistas do socialismo não utópico. ele conseguiu, indiscutivelmente, provar sua viabilidade como solução pra discrepâncias sociais (e econômicas em menor grau). eu costumava acreditar piamente nos princípios teóricos socialistas... hoje já não ligo mais... acho que depois de um tempo vendo o mundo rodar, a gente vai se acostumando às engrenagens (ainda que muitos de nós nunca cheguem a completamente se adequar a elas).

e não... você não está sendo chato... alckmin, como todos os outros que comungam dos princípios que ele representa, não é o cara certo... se não por ter aquela cara insossa de chuchu que tem os do partido dele, por não representar a mim (e imagino que também não a vocês). o pior é que hoje eu não sei quem mais é... eu, talvez? ou o múcio?? taí... proponho de público aqui a campanha: "múcio pra presidente!" vamos encher aquela merda corrupta com um pouco de poesia, pra variar!

bom múcio... o texto, só pra não fugir ao comum, perfeito...

mg6es disse...

Hehehe, grande Léo!

Alckmin, o chuchu!

O rio nasce lá longe, puro e cristalino, e desce rumo ao mar. No caminho é poluído, assoriado, e desviado pelo homem. Que bom se da fonte à foz fosse o mesmo... Com o rio do socialismo foi assim, perdeu a essência... Não comungo com a direita, estou triste com a esquerda. E, como protesto, vou votar em mim!

é isso...

[]´s

Anônimo disse...

Po, depois disso q mais posso dizer.
Apenas que meu voto eh seu sempre!
Bj

Anônimo disse...

Best regards from NY! best way to wash and wax a car Porsche 911 cabriolet 2001

Anônimo disse...

Excellent, love it! » »