De ti
Desse torto cerebelo, extraio sílabas dos dedos e componho inversos versos dispersados, entre as pautas acabadas e dos textos carcomidos pela falta de talento. Mas não calo a minha boca, pois minha muda fala cega é ouvida a léguas de distância – ainda que vazia – arrombando os ouvidos de quem não sabe ler. Mesmo quem não quer saber de nada, sabe que eu verto sentimentos, conspurcando como posso o entendimento de quem quer compreender.
Pois na medida da palavra, há distância entre verdade literária e pulsos miocárdios, postulados mentirosos de minha imaginação. E como posso tudo o que pretendo – pretenso pseudo-eu mesmo – inteiro com malícia cada ausência de espaço, medindo na metade o dobro complemento da tua forma, entornando, em cada esquina onde passas, o meu jeito inacabado, projetado na infâmia onde profiro axiomas, mas que não passam de falácias e sofismas de você.
Mas como quer que seja eu mesmo, é em você q’eu me vejo, tentativa frustrada de querer saber o que fazer para torná-la resultado da minha equação, binômio de dois mundos diferentes, integrados por matrizes verticais, vértice, ângulo obtuso do cateto adjacente, minha musa inspiradora, catarse intersecta, matemática complexa de amantes duvidosos e disformes. Côncavo e convexo, música complexa de apenas dois acordes dissonantes. Bemol e sustenido.
E seguindo meu caminho, cato pela estrada suas partes retalhadas, montando em minha vida sua alma de menina, revivendo em meu presente um passado indistante, crendo que só hoje suporto meu lamento, sorrindo abestalhado na esperança de seus dentes se abrirem para mim.
E fim!