quinta-feira, junho 14, 2007

Teatro

Mais um domingo adiamantado pelo sol no firmamento, com uma generosa brisa alisando minha tez, enquanto quedo-me isolado dos acontecimentos, curando feridas que causei ao meu coração, que segue comigo meus delírios de amores que modelo com meu lápis impreciso, como aquela música que ouvi num outro domingo igual a este.

Domingo é meu dia de verdade, onde vivo a realidade que criei através da fantasia de outros dias e outros tempos, personagem que interpreto a todo instante. Mas a solidão até que me cai bem, pois não sei como seria ter alguém sempre comigo, suportando minha inquieta quietude, meu silêncio desconfortante e minha frieza calculada.

Sou como um personagem de teatro e faço da minha vida este drama que versejo em minhas linhas em reticências reprisadas. Crio personagens que suportam minhas ações, alter egos que me ocultam de mim mesmo, este desconhecido eu que busco conhecer todos os dias.

Assisto de camarote meus personagens, minhas tragédias inventadas e meu sorriso de mentira, acreditando que algum dia serei eu ali no palco, interpretando com minha máscara a verdade que evito por medo de sofrer. Mas não aceito outro ato enquanto você for o contrapeso em meu sorriso: eterna coadjuvante em meu enredo.

E em cada passo, ensaio num tablado os novos rumos que levam numa ventura ainda ausente de ciência e me aventuro a todo instante em falas nunca decoradas, mas ensaiadas em minha boca enquanto murmuro pensamentos acabados no instante em que imagino uma nova cena desta minha estranha estória.

Meu monólogo é exaustivo, na medida em que busco seu diálogo em minha história, quebrando o silêncio desta casa, que divido com o vazio e alguns livros que lhe agradam. Mas não deixo de passar meu texto no espelho, esperando o tempo exato de contigo dividir este tablado e minha peça, no anfiteatro do meu quarto.

E aqui, parado no tempo e no espaço, vou buscando novos textos que definam nossa história, que será contada como quer você que seja, num diálogo preciso ou num monólogo sofrido. Seja como for, sigo eu vivendo personagens, disfarçado, me escondendo enquanto posso desta sombra ululante – eterna solidão.

Mas nunca deixo de ser eu o diretor protagonista deste conto temerário, onde credito meu presente insaciável de você. Sempre você.

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