Cliques de paixão
Em tempos de internet, seis meses é uma eternidade. Pessoas se apaixonam e desapaixonam em algumas horas. Seis meses era uma vida inteira. Tinha chegado a hora de se encontrarem. Ela cheia de sonhos. Ele cheio de planos. Encontraram-se em um café no shopping. Ele maravilhado. Ela surpresa. Ela não o tinha idealizado daquele jeito. Parecia muito mais velho do que a idade que dizia ter. Era também muito mais baixo.
O encontro era para uma torta, um café e um bom papo. Mas ela custou a se sentir a vontade. Definitivamente não era o que ela esperava. Enquanto comia, lembrava de ter respondido a ele no auge da paixão virtual: claro que se rolar química entre nós eu vou com você para um lugar mais reservado.
Terminaram a torta e ele levantando-se a chamou para ir com ele. Sem jeito para dizer não, lembrando das inúmeras vezes que anunciou aos quatro cantos que a aparência não importava, ela foi. Então aconteceu. Sexo por sexo, a paixão que achou sentir tinha acabado repentinamente. Mas o sexo foi muito bom. Ela sentiu um prazer extasiante. Não estava, afinal, completamente errada sobre ele.
Chegou em casa e teve a impressão que todos sabiam que ela transou no primeiro encontro real. Ninguém levaria em conta os seis meses de romance virtual, tinha certeza disso. Foi para o seu quarto com um sorriso imperceptível no rosto. Não atendeu no dia seguinte o telefonema do seu, agora, amante real. Nem no dia seguinte e seguinte e seguinte. Continuava a mesma, apenas mais safada e menos hipócrita: não fingia mais acreditar que o amor era cego.