segunda-feira, julho 25, 2005

gosto de vilões...

Assisti alguns filmes no final de semana, e bem no meio da letargia básica do Domingo, percebi uma coisa. Gosto de vilões... em filmes... em quadrinhos... (na vida dita “real”?). Não creio que seja o tipo de conclusão à qual se chega assim, de estalo... acho que fica germinando no subconsciente, e lá uma hora alguma coisa chama à atenção, e voila! Cá estou, escrevendo sobre caras maus!

Tem um tipo que merece particular atenção, que é o gângster. Gosto particularmente do Al Pacino, atuando como Scarface. Me agrada a forma como ele encara a tela de frente. Gosto dos olhos contidos e da raiva mal disfarçada. E gosto da boca cínica, que ri desdém e maldade. E tem até cicatriz no rosto, como um bom cara mau – principalmente se macho bravio vindo direto de la isla de Fidel – deve ter. É engraçado assistir a um filme com um cara ruim tão ruim, e que no entanto não tem mocinho... ora, todo mundo sabe que o cara mau é tão mais maldoso quão mais cheio de virtudes é o bom sujeito ao qual ele se contrapõe. Só que em Scarface o que se poderia dizer é que o tal bonzinho é a própria sociedade norte-americana em geral. E, bom... todo mundo também sabe que nem há tanta virtude assim no norte-americano médio... O que Tony Montana persegue é o tal do “American Dream” (ou uma forma deturpada dele, e pelas vias do “Cuban Way”), e a muito pó e bala, acaba chegando onde quer. Já havia sido feito assim antes... e certamente o foi depois... mas um Vitto Corleone tem toda uma classe pra matar pessoas. Há beleza estética naquela violência. Não é o caso do Pacino. As cores são fortes, a luxúria é enorme, e a violência é desnecessária. Um detalhe nesse tipo de vilão é que sua punição no final do filme é vista por nós, passivos expectadores, com bons olhos... até mesmo Al Pacino é punido. Mas não sem antes casar com a Michelle Pfeiffer, matar o melhor amigo e descobrir-se apaixonado pela própria irmã.

Tem outro tipo que eu realmente curto, que é o vilão high-tech. O terceiro andróide do Blade Runner, o Roy, vivido pelo Rutger Hauer, representa este estilo como nenhum outro. O interessante neste filme é perceber o despertar da consciência do andróide (que vi sempre como uma metáfora relacionada ao despertar da própria vida), e que o torna bastante original. É que, até onde lembro, os caras maus dos filmes, quadrinhos, etc, estão sempre atrás de poder e/ou dinheiro. E daí me aparece esse andróide, cujo motor é simplesmente a conquista do direito de viver em sua plenitude a complexidade das emoções humanas, e não ter de morrer por fazê-lo. E me fez gostar dele... Suas razões são nobres, e vê-lo morrer me deixa meio perplexo... Ah, e gosto daquele futuro... todo ele amplo e em belos tons pastéis. E ainda tem a beleza plácida e etérea dos olhos da Rachael. Alguém poderia se perder naqueles olhos. E é como se o mocinho Deckard fosse pequeno diante da nobreza do vilão andróide.

E tem o vilão “maluco”. Sendo ou não violento (e geralmente o é), ele é um tipo interessante, ainda mais se o processo de enlouquecimento se dá durante o desenrolar do filme, e nós vamos acompanhando tudo. Quem viu Jack Nicholson em Shinning sabe bem a sensação a que me refiro. A forma meio diabólica como ele sorrí, o silêncio daqueles longos corredores... o isolamento no meio de toda aquela neve, e o toc-toc-toc da máquina de escrever, tudo ajuda a formar o clima denso... pesado... a maldade fica quase palpável, formando a ambientação perfeita pro vilão agir. É outro filme onde não há um mocinho facilmente identificável.

Ah... quer saber? Vilões demais... espaço de menos... acho que esse texto vai ter parte II um dia...