quinta-feira, agosto 04, 2005

Vitória da Conquista.














Férias em Conquista - Praça Tancredo Neves.

Neste momento, o termômetro na placa da Coca-Cola marca doze graus. Uma brisa suave, fina, contínua, cortante, faz com que eu evite ao máximo tirar as mãos do bolso do casaco.
De dia faziam dezessete graus e chovia fino, e depois do almoço fomos fazer umas compras no centro.
Sempre que ando por aqui me sinto em outra sincronia. Tudo se move de uma forma diferente. Os carros andam devagar. O equilíbrio das pessoas com as mãos nos bolsos é mais sóbrio, e elas ocupam menos espaço. Os passeios são largos e as ruas estreitas, os pedintes educados, o sol, tímido. As mulheres têm uma beleza elegante, tradicional, resolvida, como se retiradas de quadros de mil anos. Os tons de cores das construções são simples e discretos.
E aquele mundaréu de gente na rua, indo, vindo, boa tarde, freguês – quer dar uma olhada na promoção de inverno? Ê, moço! Você por aqui? Chegou que dia? Passa lá em casa para visitar!
Eu ando devagar acompanhando o passo da minha avó. Ela já não vê tão bem, desvia um pouco a rota entre dois pontos, e eu tomo cuidado para não esbarrar. Algumas vezes, um pequeno esbarrão, opaa! Segue um gesto de aparar, até hoje sempre desnecessário, ainda bem. Desculpe o que, filho? Sou eu que tô barbeirando!
De minuto em minuto, um conhecido, fulana, tudo bem? Lembra de Dido? É meu neto, filho de Luciano. Ô, Maria, mas é a cara de Luciano mesmo. Olha, eu te vi desse tamanho assim... Como é que vai beltrana?
Fígado, galinha, feijão com farinha, mandioca, batata doce, arroz, macarrão, doce de leite e suco de laranja. Cada pessoa com o seu lugar certo na mesa da sala de jantar, desde que eu me lembro, mais de vinte anos. Filho! Trouxe um guaraná para você, que você não pode suco de laranja, não é? Come mais um pouquinho, para acabar a galinha. Quer mais um pouquinho de arroz?
O avô Chefe aproveita o noticiário, olha aí no que é que deu! Tudo uma descaração, esse povo aí. Dirceu, Genoíno, eu não falei? No tempo de Antônio Carlos não tinha essas coisas de mensalão lá! O povo aqui penando pra ganhar qualquer dinheirinho e o PT lá roubando milhões! Milhões! Não deixa o carro lá fora que roubam quinze carros por dia em Conquista, sabia? Meu carro é na garagem, coberto por um cobertor!
Tem um cobertor desde que eu me lembro. Roda quarenta quilômetros em um ano.
No quarto de Vôinho ele está deitado dormiscando, como é que vai no trabalho, lá? Tá trabalhando perto de casa agora, né? Essa chuva que ta dando é boa, pra terra! Deus que manda para a gente, chegando até agosto. Aqui nunca chove desse jeito que choveu em julho.
Noventa e seis anos e sabe de tudo.
De novo pro quarto, dois edredons, controle remoto e meia hora de televisão antes de viajar. (Pro mundo dos sonhos, como fala dona Maria.) O friozinho imobiliza, a barriga cheia, cada parte do meu corpo embalada por uma tranqüilidade que eu só encontro aqui, e o sono vem logo.
[]´s

12 comentários:

Marina disse...

Humm, bom demais quando vou pra casa da minha avó... Parece que meu mundo se perde, com todos os problemas... E eu sou fã dela... Lúcida aos seus 92 anos... :P

Texto gostoso de ler. :)

Aproveite suas férias, menino baiano!

Beijos! ;)

Anônimo disse...

"cada parte do meu corpo embalada por uma tranqüilidade que eu só encontro aqui, e o sono vem logo."


É a tranquilidade do amor recebido sem cobranças, da saudade verdadeira satisfeita em um abraço apertado, no cuidado através das comidinhas simples...

Muito bom nos sentirmos no meio dos nossos...

Beijo, Dido!

Anônimo disse...

e agora chegou eu para aumentar sua felicidade!!!

Anônimo disse...

É uma cidadezinha encantadora...E fria!!
Mas encantadores mesmo são sua avó e avô...:)
Manda um bju p eles

Anônimo disse...

como sou obediente...vim aki pq o soteropolitano mandou heheh
bjoks

Diógenes Pacheco disse...

Vôinho é o bisavô, gente. Ficou meio vago. Meu avô não tem tanta idade.

[]´s

Anônimo disse...

Conquista é uma cidade que aprendi a gostar. Em épocas diferentes meus dois melhores amigos viveram lá. Passear na Tancredo Neves nas tardes de domingo é uma das melhores coisas da vida (pelo menos ficou registrado assim na minha memória). Lindo texto, Baiano. Que boas lembranças...

Gabi disse...

diliça!

Anônimo disse...

Velho, como tudo isso é fascinante!
Eu adoro ir à terra dos meus avós, em Serrinha, mas sinto que eu deixo a desejar quanto ao tempo em que fico com eles.
Minha avó faz uma questão enorme de que eu almoce com ela. E sempre prepara uma galinha cozida para mim. E, como ela sabe que eu sou fã de fígado de galinha, ela compra uma boa quantidade à parte, e prepara com um tempero delicioso! Sem falar no doce de leite ou pudim como sobremesa... Ah... que saudade! Acho que tenho que pegar um buzu... rsrs.
Abração! Adorei o texto!

Anônimo disse...

ê saudade...

Anônimo disse...

É baianíssimo... estou me preparando para curtir essa cidade. E, qdo vc estiver de férias, vamos dar uma volta pra conversar por lá. Beijos

Anônimo disse...

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