quinta-feira, dezembro 29, 2005

Esbórnia.

O relógio se aproximava de dez da noite e nada do Cláudio.

- Porra, Marcão! Vamo sem ele! Cê não disse que dez horas era o limite pra gente chegar pro almoço na ilha?
- Sem o Cláudio não dá!
- Como não dá, rapaz? Faz a contagem aí! Tem oito mulheres na lancha, e quatro homens! Pra que é que a gente precisa do Cláudio mais, aqui? Duas pra um já tá numa proporção boa...

Lôro e Valmir conversavam e fumavam um cigarro a estibordo, apoiados no casco, olhando pro cais.

- Que nêga, rapaz...
- Sensacional!
- Gostosíssima!
- Vamo lá, Lôro?
- Bora!

Pularam para o cais, no que Valmir se deteve.

- Marcão! Qual é o nome dessa nega que trabalha no barquinho de transporte, aqui?
- Por quê?
- Diz logo aí, rapá! A gente tá querendo bater um papo com ela!
- Rapaz, o nome é Lene. Mas nem adianta, que eu já convidei pra passear de lancha várias vezes e nada.
- Mas dessa vez quem vai falar com ela é o Valmir, aqui, porra!
- Há!

O Léo continuava brigando com o celular, e nada do Cláudio atender. As meninas, na popa, começavam a reclamar.

- Êê!! Essa banheira sai ou não sai!?
- Marcão! Você é marcha lenta em tudo assim?
- Lia! Deixe disso que você conhece minha marcha de tempos, já...

E o Léo também não se conformava.

- Pô bicho! Porquê diabos a gente não pode sair sem o Cláudio?
- O Cláudio tá trazendo uns bagulhos?
- Bagulhos?
- Importantes...

Lôro e Valmir se aproximam das meninas e apresentam Lene. Largam ela conversando e se aproximam de Léo e Marcão.

- Te falei, rapá? A negona tá ali no bolo, já?
- Trouxeram, bicho? Porra! Como é que foi isso?
- Moleza, porra! O Lôro me atrapalhou um p...
- Atrapalhei o quê? Cê é viado, é? A mulher já olhou pra mim e sorriu!
- Sorriu não, Lôro! Deu risada! Que porra é aquele biquinho que você faz quando vai falar com mulher, porra!
- É charme. Você quase não disse nada, porra! Como é que quer dizer que foi você que convenceu ela?
- Nada... foi seu biquinho.
- Foi o biquinho!
- Porra, Lôro! Biquinho??

Léo chama Valmir no canto.

- Valmir! Sabe pilotar essa porra?
- Mais ou menos.
- Então faz o seguinte: vou dar um jeito de distrair o Marcão, cê dá partida no barco e a gente vai indo, que Cláudio não vem mais, a essa hora.
- Beleza.

Arregimenta Luana, uma morena com traços de índia, vinte aninhos, e Vivi, uma paulista com o sorriso mais sacana que ele já conheceu. Dá a missão - "é só levar pro quarto e manter ele lá."
Viviana sorri.

- Fácil...

Marcão, inocente, conversa com Lôro na cabine.

- E aí, Marcão? Como era o nome mesmo da menina lésbica? Conseguiu combinar? Ela tá aí?
- Ô, rapaz. Era a Paulinha. Mas não deu certo - o abestalhado do Valmir estragou tudo.
- Como?
- Dei o telefone para ele, para ele convidar. Aí ele já largou de cara: "Paula, tudo bom? Valmir! Lembra de mim? A gente tá marcando UMA SURUBINHA na lancha do Marcos..."
- Háhá! Aí foi!

As duas chegam e buscam Marcão. Pedem para ver uma coisa no quarto, que elas não estão entendendo como funciona.
Lôro se anima, busca duas amigas, e vai para outro quarto. Léo ainda ajuda Valmir a dar partida na lancha, e busca duas para si. Ocupa o terceiro quarto.
Sobram, lá fora, Lene, Janaína e Léa. Léa, meio desenturmada, toma uma atitude.

- Vou ficar ali com o Valmir.

Lene e Janaína, que se deram bem de princípio, estão empolgadas em se conhecer.

- Ah... e noite de ano novo eu gosto de fazer loucuras!
- Então essa não vai ser diferente!
- É? E qual a loucura que a gente vai fazer?

Uns minutos depois, Cláudio chega no cais e vê o barco à deriva, a uns vinte ou trinta metros. Em cima dele, Lene e Janaína, seminuas, se beijam. Nem pensa.
Alguns minutos depois está subindo a escadinha do barco, todo molhado, tremendo de frio. Entra na cabine e vê, no chão, o Valmir e a Léa.

- Caralho, Valmir! Não pedi pra vocês esperarem? Cadê o Marcão?

Dá uma olhada melhor e lembra.

- Ah, sim. E boa noite, moça.

Vira o barco de volta ao cais, e sai batendo nas portas dos quartos.

- Todo mundo vestido de novo, aí! Eu consegui trazer a Paulinha, mas tive que convencer que não ia ser suruba não!
- Ô, Cláudio! Mas vai ser suruba pô!
- É! Eu sei! Mas deixa pelo menos a menina tomar um espumantezinho antes, para relaxar...
- Trouxe os bagulhos?
- Tão lá no cais...

No cais, Paulinha, morena, que o que tinha de baixinha tinha de estonteante, sobe no barco com seu jeito meio tímido, e com aquelas bochechinhas carnudas num sorriso mal contido.

- Boa noooite genteee!
- Oi! Você deve ser a Paula! Encantado! Sou seu xará! Meu nome é Paulo, mas o pessoal me chama de Lôro!

Valmir não agüenta:

- Ô Lôro!
- Oi?
- Sem biquinho, porra! Esse biquinho não!

De longe, na televisão do quarto principal, o Faustão começa a contagem regressiva.

[]´s

(Feliz ano novo, galera! E se alguma leitora ainda não souber o que vai fazer, eu devo passar num barco de um amigo meu, e tá sobrando espaço. Esquema família, naturalmente... :)

5 comentários:

Leonardo Caldas disse...

rapaz... levo uma garrafa de 51, um saco de limões e uma menina de olhos bonitos...
em troca, quero um cantinho do barco e um bagulho... tem negócio? :)

Anônimo disse...

Esbórnia não era o nome do bar que você queria abrir? :P. Feliz ano-novo pra você, velho! Abração.

Vinicius disse...

Muito bom cara. Adoro suas narrativas, seus textos, tudo mesmo.

Ótimo ano novo!

Anônimo disse...

Feliz 2006,
Muita paz, carinho, curtição, dinheiro, tempo, aventuras, e tudo mais o que vc tiver direito.

Mas só o q vc tiver direito!!!
hehehe

Beijo,

Anônimo disse...

That's a great story. Waiting for more. » »