Esbórnia.
O relógio se aproximava de dez da noite e nada do Cláudio.
- Porra, Marcão! Vamo sem ele! Cê não disse que dez horas era o limite pra gente chegar pro almoço na ilha?
- Sem o Cláudio não dá!
- Como não dá, rapaz? Faz a contagem aí! Tem oito mulheres na lancha, e quatro homens! Pra que é que a gente precisa do Cláudio mais, aqui? Duas pra um já tá numa proporção boa...
Lôro e Valmir conversavam e fumavam um cigarro a estibordo, apoiados no casco, olhando pro cais.
- Que nêga, rapaz...
- Sensacional!
- Gostosíssima!
- Vamo lá, Lôro?
- Bora!
Pularam para o cais, no que Valmir se deteve.
- Marcão! Qual é o nome dessa nega que trabalha no barquinho de transporte, aqui?
- Por quê?
- Diz logo aí, rapá! A gente tá querendo bater um papo com ela!
- Rapaz, o nome é Lene. Mas nem adianta, que eu já convidei pra passear de lancha várias vezes e nada.
- Mas dessa vez quem vai falar com ela é o Valmir, aqui, porra!
- Há!
O Léo continuava brigando com o celular, e nada do Cláudio atender. As meninas, na popa, começavam a reclamar.
- Êê!! Essa banheira sai ou não sai!?
- Marcão! Você é marcha lenta em tudo assim?
- Lia! Deixe disso que você conhece minha marcha de tempos, já...
E o Léo também não se conformava.
- Pô bicho! Porquê diabos a gente não pode sair sem o Cláudio?
- O Cláudio tá trazendo uns bagulhos?
- Bagulhos?
- Importantes...
Lôro e Valmir se aproximam das meninas e apresentam Lene. Largam ela conversando e se aproximam de Léo e Marcão.
- Te falei, rapá? A negona tá ali no bolo, já?
- Trouxeram, bicho? Porra! Como é que foi isso?
- Moleza, porra! O Lôro me atrapalhou um p...
- Atrapalhei o quê? Cê é viado, é? A mulher já olhou pra mim e sorriu!
- Sorriu não, Lôro! Deu risada! Que porra é aquele biquinho que você faz quando vai falar com mulher, porra!
- É charme. Você quase não disse nada, porra! Como é que quer dizer que foi você que convenceu ela?
- Nada... foi seu biquinho.
- Foi o biquinho!
- Porra, Lôro! Biquinho??
Léo chama Valmir no canto.
- Valmir! Sabe pilotar essa porra?
- Mais ou menos.
- Então faz o seguinte: vou dar um jeito de distrair o Marcão, cê dá partida no barco e a gente vai indo, que Cláudio não vem mais, a essa hora.
- Beleza.
Arregimenta Luana, uma morena com traços de índia, vinte aninhos, e Vivi, uma paulista com o sorriso mais sacana que ele já conheceu. Dá a missão - "é só levar pro quarto e manter ele lá."
Viviana sorri.
- Fácil...
Marcão, inocente, conversa com Lôro na cabine.
- E aí, Marcão? Como era o nome mesmo da menina lésbica? Conseguiu combinar? Ela tá aí?
- Ô, rapaz. Era a Paulinha. Mas não deu certo - o abestalhado do Valmir estragou tudo.
- Como?
- Dei o telefone para ele, para ele convidar. Aí ele já largou de cara: "Paula, tudo bom? Valmir! Lembra de mim? A gente tá marcando UMA SURUBINHA na lancha do Marcos..."
- Háhá! Aí foi!
As duas chegam e buscam Marcão. Pedem para ver uma coisa no quarto, que elas não estão entendendo como funciona.
Lôro se anima, busca duas amigas, e vai para outro quarto. Léo ainda ajuda Valmir a dar partida na lancha, e busca duas para si. Ocupa o terceiro quarto.
Sobram, lá fora, Lene, Janaína e Léa. Léa, meio desenturmada, toma uma atitude.
- Vou ficar ali com o Valmir.
Lene e Janaína, que se deram bem de princípio, estão empolgadas em se conhecer.
- Ah... e noite de ano novo eu gosto de fazer loucuras!
- Então essa não vai ser diferente!
- É? E qual a loucura que a gente vai fazer?
Uns minutos depois, Cláudio chega no cais e vê o barco à deriva, a uns vinte ou trinta metros. Em cima dele, Lene e Janaína, seminuas, se beijam. Nem pensa.
Alguns minutos depois está subindo a escadinha do barco, todo molhado, tremendo de frio. Entra na cabine e vê, no chão, o Valmir e a Léa.
- Caralho, Valmir! Não pedi pra vocês esperarem? Cadê o Marcão?
Dá uma olhada melhor e lembra.
- Ah, sim. E boa noite, moça.
Vira o barco de volta ao cais, e sai batendo nas portas dos quartos.
- Todo mundo vestido de novo, aí! Eu consegui trazer a Paulinha, mas tive que convencer que não ia ser suruba não!
- Ô, Cláudio! Mas vai ser suruba pô!
- É! Eu sei! Mas deixa pelo menos a menina tomar um espumantezinho antes, para relaxar...
- Trouxe os bagulhos?
- Tão lá no cais...
No cais, Paulinha, morena, que o que tinha de baixinha tinha de estonteante, sobe no barco com seu jeito meio tímido, e com aquelas bochechinhas carnudas num sorriso mal contido.
- Boa noooite genteee!
- Oi! Você deve ser a Paula! Encantado! Sou seu xará! Meu nome é Paulo, mas o pessoal me chama de Lôro!
Valmir não agüenta:
- Ô Lôro!
- Oi?
- Sem biquinho, porra! Esse biquinho não!
De longe, na televisão do quarto principal, o Faustão começa a contagem regressiva.
[]´s
(Feliz ano novo, galera! E se alguma leitora ainda não souber o que vai fazer, eu devo passar num barco de um amigo meu, e tá sobrando espaço. Esquema família, naturalmente... :)
5 comentários:
rapaz... levo uma garrafa de 51, um saco de limões e uma menina de olhos bonitos...
em troca, quero um cantinho do barco e um bagulho... tem negócio? :)
Esbórnia não era o nome do bar que você queria abrir? :P. Feliz ano-novo pra você, velho! Abração.
Muito bom cara. Adoro suas narrativas, seus textos, tudo mesmo.
Ótimo ano novo!
Feliz 2006,
Muita paz, carinho, curtição, dinheiro, tempo, aventuras, e tudo mais o que vc tiver direito.
Mas só o q vc tiver direito!!!
hehehe
Beijo,
That's a great story. Waiting for more. » »
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