quarta-feira, abril 05, 2006

Pontes para o futuro

Tenho medo de avião. Antes eu também tinha medo de escada de avião. É. Digo antes porque atualmente o aeroporto Zumbi dos Palmares já se encontra equipado com aquele túnel que nos leva direto para dentro da aeronave. Minha tortura no passado era subir aqueles degraus temerosos, ajudado pelo pessoal mal treinado – e não menos cheio de boa vontade – das companhias aéreas. Descer também era um suplício, e houve ocasiões em que cheguei ao solo praticamente deitado. A decolagem é tensa, e lá em cima, a turbulência é desagradável. A única vantagem é mesmo o ganho de tempo, já que se chega a Salvador dentro 45 minutos, isso, saindo de Maceió.


Aviões me fascinam. Engraçado que não me lembro de ter enumerado “ser piloto” naquela listinha da infância que damos por resposta à pergunta clássica. Mas não me canso de admirar aquela geringonça dotada de asas rasgando os céus. De uns tempos para cá, passei a ter sonhos terríveis, esporádicos sonhos com aviões caindo. Sempre estou fora deles, e eles sempre caem perto de mim. Angustiante. O fato é que ficou impossível não lembrar dos sonhos assim que sei que vou voar.
Esse mesmo medo me tomou por esses dias, como se fosse eu o indicado a subir num foguete rumo ao nada. Foi assim que parei para observar o feito do nosso astronauta Marcos Pontes. Antes de tudo, o que mais me fascina é a coragem dele. Não tenho capacidade técnica para avaliar se o resultado surtirá algum efeito aqui embaixo, ou não. Surgiram críticas antes do lançamento, um cidadão falava sobre o desperdício de dinheiro numa mera “carona”. Fato é que o camarada entrou no foguete para nunca mais sair da história. Pontes mostra bem ser um sujeito consciente, que se importa com o caminho que a juventude tem a seguir, e está claramente voltado para isso, como o faz nas suas entrevistas. Independente do valor real dessa experiência, cabe a nós mesmo é ter orgulho, ou, no mínimo respeito por esse coronel sorridente cujo semblante nem combina com o clima de caserna. Com suas competência e inteligência mais que comprovadas, e apontando com o passar dos dias, que a viagem será um sucesso.

Bom será se os meninos sem asas que vêem esse fato hoje, os nossos falcões de chão que alimentam a fome da maldade; ou mesmo aqueles que estão de certa forma bem encaminhados, enfim, todos os nossos meninos; bom será se estes se fascinem mais do que eu, e busquem alternativas, encontrem apoio, sejam resgatados, e iluminados pelo rabo do foguete, possam vir a ser outros Marcos, senão como astronautas, ou pelo menos como cidadãos brasileiros, dignos de nossos aplausos.



5 comentários:

Marina disse...

E eu fico torcendo por nossos meninos também...

Lindo texto, Mu! :)

:*

Crica B disse...

Pois é, Múcio, tão bom seria se os nossos meninos usassem o Pontes como exemplo. Não sei o valor científico ou tecnológico disso mas fiquei feliz de ver o nosso astronauta sorridente segurando a bandeira no espaço. Carona ou não, era um sonho, e ele conseguiu.

Ver pessoas realizando sonhos sempre me inspira a ir atrás dos meus, espero que o mesmo ocorra com os nossos meninos, que eles pelo menos voltem a ter a capacidade de sonhar.

Bjo

Vinicius disse...

É triste quando você ouve uma crítica claramente baseada na inveja. Eu sei que a vida não é feita só de sonhos, especialmente quando um deles custa algo como dez mil dólares. De qualquer forma, se a viagem não trouxer tecnologia, tratá esperança para muitos corações, o que sempre vale a pena, especialmente num país com tanto desalento e desencanto.

Mas eu também tenho medo de avião. Não fosse pela necessidade, utilizaria bem menos ele...

Leonardo Caldas disse...

engraçado... precisou eu ler de você pra perceber que tampouco estava entre meus sonhos de criança ser piloto de avião! e em geral guris sempre querem, né?

gosto do nosso astronauta... boa-gente... simpaticíssimo... mas bem que, dentro do espírito patriótico que a situação desperta, poderíamos fazer por aqui mesmo testes de lançamento de foguetes... na verdade, a sugestão é que fossem lançados lá do planalto central. a tripulação - já que em caso de testes existe sempre o risco de acidentes fatais - teria de ser de material descartável. sugiro enchermos os foguetes de deputados, portanto...

o combustível, em se tratando de vôos de testes, também não precisaria ser muito... qualquer coisa que permitisse uma explosão logo na decolagem ou uma ida pra qualquer canto de onde não houvesse a mínima possibilidade de volta. seria a oportunidade perfeita para nossa classe de honrados congressitas mostrasse seu desprendimento e patriotismo!

bom, mucio... precisa dizer de novo de teus textos não, precisa? :)

Anônimo disse...

Keep up the good work » »