segunda-feira, abril 10, 2006

Requiem for an animal (ou "Go vegan! Go!")

Meu irmão é um desses ingênuos que se renovam a cada geração, e pra quem o mundo é - e vai ser sempre - nada mais que o palco em que lutam suas batalhas inglórias e perdidas. Pessoas que apreendem o mundo à volta de uma maneira bem própria, e levam suas vidas segundo os próprios princípios e valores morais. O que em geral nós, os totalmente inseridos socialmente, fazemos em relação a meu irmão e seus assemelhados é ignorá-los placidamente, ou no máximo dar um daqueles sorrisinhos de superioridade condescendente quando passam por nós. São aqueles tipinhos que, quando não dão a sorte de baterem de frente com o momento histórico adequado, incendiando-se nas Primaveras de Praga da vida, ou de isolar-se em recantos onde podem viver segundo os próprios ditames, levam a vida provavelmente com a sensação inquietante de estarem vivendo deslocados numa época que não é a deles, cercados de gente que não os compreende ou valoriza.

Há vários anos meu irmão não ingere nenhum tipo de alimento de origem animal. Inclua-se aí ovos e laticínios em geral. Também tem o cuidado de procurar a origem dos produtos que usa. É por isso que também não come todos os tipos de biscoitos, nem usa todos os shampoos e sabonetes, nem tampouco veste qualquer tipo de roupa. Ele invariavelmente leva em consideração o fato de animais terem sido utilizados em qualquer das etapas do processo de fabricação das produtos que usa. Obviamente não é uma escolha de vida fácil... viver como meu irmão vive significa dar as costas a todo um estilo de vida socialmente aceitável, em que mesmo o que é dito como "contra-cultural" é tecnicamente aceito (ainda que não bem visto ou desejado) e partir pra fazer escolhas próprias, que na mais das vezes chocam a quem está próximo. É também ser vítima de um escárnio velado que é irritante na maior parte das vezes...

Todo este preâmbulo teve o intuito de falar sobre uma coisa que vi hoje cedo. No meio do monte de bobagens que recebo diariamente em minha caixa de email - cuja maioria deleto sem nem me dar ao trabalho de ler - chegou um link pra um vídeo. Fui ver do que se tratava, e o que vi me entristeceu profundamente... Uns animais bípedes matavam outros (estes últimos pequenos quadrúpedes indefesos e aprisionados em pequenas gaiolas) com as próprias mãos, para lhes tirar as peles. O olhar de medo daqueles bichinhos... Não dá pra descrever aquilo com palavras... Depois, com os pequeninos ainda vivo, eles lhes arrancavam as patas e penduravam-nos num tipo de varal. As peles? Elas vão ser usadas nos desfiles de moda cujos casacos e roupas - em geral de gosto extremamente duvidoso, diga-se de passagem - vão ser desenhadas por um desses viadinhos estilistas que estão na mídia pra vestir modelos esquálidas e com aparência de doentes. Evidente que senhoras ricas, gordas e disformes vão ver esses desfiles, e vão comentá-los com suas amigas (também gordas e disformes), e todas elas vão comprar os tais casacos, que aliás são caríssimos. Vão vestir-se com eles, feias e desengonçadas como possam ficar. É um mercado que parece render bastante, este que usa bestas bípedes para chacinar pequenos quadrúpedes com o intuito de tirar suas peles.

O que fico aqui imaginando é se alguma das partes envolvidas no processo tem consciência do que realmente acontece. Não vou comentar das bestas que caçam e espancam até a morte os pequeninos. Na qualidade de bestas estúpidas que são, estão além de qualquer análise. Mas e os indivíduos que compram as peles e as revendem? Os costureiros que, usando-as como matéria pra suas roupas, acabam valorizando-as, mesmo sabendo de onde vem e da forma desumana como são conseguidas? E os estilistas, que quando imaginam suas peças o fazem pensando no efeito que terão com as peles? E que dizer do consumidor final... as senhoras gordas desse mundo, que independente de qualquer outro argumento lógico, pagam caro e ainda ficam feias usando as roupas? Eu realmente queria saber onde que está escrito que nós temos direito de vida e morte sobre esses animais. Ou que eles estão por aqui pra nos satisfazer as vontades (inclusive as idiotas, como vestir madames com muito dinheiro e pouco discernimento). É muito triste que seja assim...

Hoje pela manhã a admiração que eu tenho por meu irmão aumentou muito. É que, ao contrário de mim e da grande maioria, ele há muito tempo já foi além da indignação muda, e vem vivendo seu dia-a-dia segundo as coisas em que acredita. E o interessante é que não anda alardeando a torto e a direito ou fazendo confete sobre o que faz. É seu modo de vida... e é tão comum pra mim encher a cara no final de semana e comer a carne tenra do churrasquinho quanto é pra ele e os amigos fazerem sua verdurada regada a muito suco e música. Eu, abalado e indignado que estou, mando emails a todos que conheço e escrevo crônicas num blog.

P.S. A propósito de meu irmão... Ele é já há anos vegan (vegano) straight-edge. Um vegano é um tipo extremista de vegetariano. Já o movimento straight-edge - não consigo imaginar uma tradução fácil pra isso - é um estilo de vida que não segue crença filosófico-religiosa alguma, mas que se centra na não ingestão de álcool, fumo e/ou drogas, além de estar fortemente ligado ao estilo musical hardcore.

P.S. A propósito do vídeo... eu não consegui assistí-lo todo... Mas eis o link, pra quem quiser se decepcionar um pouquinho com os bípedes pensantes dotados de inteligência:
http://www.strasbourgcurieux.com/fourrure


http://www.sxe.com
http://www.vegan.org

7 comentários:

Vinicius disse...

Poxa, você já tinha me falado sobre seu irmão. Eu tenho uma amiga que vive da mesma maneira e acho fascinante.

Mas devo dizer do meu embrulho ao ver parte do filme. Depois que percebi que os animais ainda estavam vivos enquanto perdiam a pele e as patas, desisti de assitir.

Tudo que eu queria era fazer o mesmo com aquele imbecil, na frente de vários imbecis como ele, além das suas familias todas vendo também. Sei que é grosseiro da minha parte, mas não tem como não odiar um bípede que faz sem motivo algum isso com outro ser vivo.

Fábio Farias disse...

Já vi vários videos como esse e realmente são bem tristes e chocantes as imagens.

O movimento vegan eu conheci a pouco tempo e conheco um punhado de gente que participa. É um movimento do qual simpatizo bastante, tanto pelo modo de vida, quanto pela ideologia dos seus participantes. Confesso que já tentei ser vegetariano para depois ser vegan, mas não consegui. Exige uma força de vontade tremenda para negar aquela carninha de vez em quando e para parar pra ficar sempre olhando o rótulo dos alimentos.

Sobre o movimento straight-edge, que eu já conheco e tenho contato com participantes já ha uns três anos, tenho a dizer que não simpatizo muito. Ele é um movimento que visa acabar com as corporações capitalistas, boicotando-as e fazendo movimentos em prol disso. A idéia é de bom coração mas acho de uma ingenuidade imensa. Não é porque meia-duzia de jovens rockeiros boicotam a mc donald's que ela vai deixar de existir. Essa mudança exige uma tranformação intensa no contexto social e politico dos paises, na minha opinião. Mas o lado de não beber e não usar drogas é bastnate louvável :]

Diógenes Pacheco disse...

Eu prefiro nem entrar nessa discussão. Fico me sentindo bobo.
Quase que começo isso aqui com "as distorções estúpidas do capitalismo".
E para que eu fizesse esse discurso, mesmo que com sinceridade, eu teria que me sentir um hipócrita em muitos aspectos - reconheço.

[]´s

Anônimo disse...

Tentei assistir o vídeo... repugnante... Abraços

Marina disse...

Esse vídeo me deu náuseas...

Uma tristeza imensa que me falta até as palavras...

Eu admiro quem consegue ter esse estilo de vida como o seu irmão... :)

mg6es disse...

Desprendimento total do seu irmão, Léo... Um banho de conscientização, e pena que sao minoria os que se preocupam com o próximo, seja este racional, ou nao.

Ps. nao tive coragem de ver o video.

[]´s

Anônimo disse...

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