quinta-feira, julho 13, 2006

Do sonho

Eu estava, como muitas vezes estou (o cenário dos meus sonhos se repetem e alternam), num lugar semelhante à uma casa de lembrancinhas no Chile, mas que evidentemente não era uma loja de suvenires, uma vez que tinha sofás e pessoas sentadas neles, bebendo e conversando, mas não conhecia todas elas.

Das que eu conhecia, faria sentido se fossem o Jota, a Carola, a Zettler e o Pirilampo, que tinham estado bebendo na minha sala algumas horas antes, mas não posso dizer que eram, veja bem, eu já não me lembro muito bem, mas creio que a Karen talvez estivesse.

Havia um rapaz, e ele me mostrava truques com cartas, não sei se de baralho ou tarô ou de outro tipo qualquer, mas quando ele as pôs sobre a mesa eu derrubei vinho tinto sobre elas e elas ficaram manchadas e o garoto ficou bravo só que ficou por isso mesmo.

Depois estávamos sentados, ele no sofá e eu no chão, e ele me espezinhava, mas de um jeito amoroso, como o fazem os namoradinhos de terceira série, e roubou a presilha do meu cabelo, coisas assim, até que a pessoa do meu lado disse “pára de ser chato, as cartas nem mancharam, era sangue do diabo” (para quem não teve um kit de química quando era criança: sangue do diabo é uma substância vermelha e que vai perdendo a cor até sumir) daí me levantei para ver, mas era mentira, as cartas estavam manchadas de verdade e eu fiquei um pouco mal por causa disso e quis lavá-las, assim o sujeito parava de me espezinhar ou me espezinhava do jeito correto, pelo menos.

Daí levei as cartas para a cozinha, que era toda branca e sobre o tanque haviam duas bacias. Uma delas estava cheia de imãs brutos e brilhantes flutuando na água (tinha uns dentro da pia, mas pus esses na bacia também) e quando eu mexia em um, todos se rearranjavam num balé aquático magnético e eu me distraí olhando para eles por um tempo. Na outra bacia, um monte de pedras coloridas e polidas, daquelas que se vendem muito em lojas de suvenir, o que faz bastante sentido, pensando agora.

Depois disso tudo me lembrei que realmente queria lavar aquelas cartas e lavei mas elas ficaram encharcadas, as 2 primeiras, então fui até a parede que estava cheia de cartazes e colei elas lá pra secar. Eu ia voltar ao tanque para lavar o resto, mas apareceu uma menina de casaco bege e ela tirou um cigarro da minha mão, que apareceu quando eu não estava olhando, só que ele não estava aceso e ela perguntou por que eu não tinha isqueiro.

Eu acordei no quartinho pensando “ora puxa vida, que sonho mais louco”, e queria dormir mais só que havia um computador do lado da cama e minha mãe digitava nele enquanto minha avó e minha tia reviravam o armário em busca de um casaco.

E então eu estava na garagem do prédio, que estava cheia de carros – podia não estar, as pessoas tiram às vezes os carros das garagens. A garagem em certo ponto virava a cozinha e eu lembrei que queria muito mesmo lavar aquelas cartas, assim sendo lavei mais duas no tanque, mas elas não eram mais de baralho nem de tarô ou do que quer que tinham sido a princípio, agora eram cartas “supertrunfo” com atores de um seriado que eu costumava assistir e já não filmam mais, e eu achei aquilo esquisitíssimo, como era de se esperar, enquanto ia até a parede dos cartazes para colar essas novas duas cartas, se é que não eram as mesmas, pois as velhas já não estavam lá e torci para que a garota do casaco não viesse de novo, porque eu precisava lavar aquelas cartas de verdade, mas – batata – lá estava ela outra vez e tirou outro cigarro da minha mão e este também não estava aceso, por isso ela perguntou novamente pelo isqueiro, mas como ela ainda estava fumando o outro cigarro eu lhe disse que acendesse com a bituca, e foi o que ela fez.

Acordei, e estava aquela algazarra no quarto e de onde diabos tinha vindo aquele computador, nunca teve computador na casa da minha avó, e acho melhor levantar porque estou com a boca meio seca e o sol já vai alto. Daí acordei de verdade, puta merda, que coisa estranha, sonhar que acorda no lugar em que se está dormindo, um sonho cebola e é claro que ainda era noite e não havia computador algum, muito menos minha mãe, que a esta altura está em algum lugar de minas gerais se afogando em queijo e doce de leite ou ao menos dormindo sobre uma pilha deles, mas a única diferença aparente é que fora do sonho as coisas estavam como é obvio que elas deviam estar, se bem que no sonho era perfeitamente natural então – pois bem- só falta acordar de novo.

Mas só levantei e fui até o banheiro, acendendo a luz dei de cara com o relógio de pulso do meu avô, que ele deixou sobre a pia e é claro que eram exatos 5:55 da manhã, porque toda vez que eu olho no relógio é um horário de números repetidos. Não que haja qualquer relação entre eu e o tempo, cada relógio conta seu próprio tempo. Isso é só entre eu e eles.

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90% sonho de verdade
10% poliéster.

5 comentários:

Elaine Lemos disse...

Às vezes é bom acordar de verdade no meio da noite e achar de verdade estas coisas bacanas de se ler. Ainda bem que não acordei de novo!

Bjs

Crica B disse...

Meus sonhos são sempre surreais... uma vez sonhei com o meu pequinês fumando maconha. Já sonhei com o King kong me batendo :-0 ehheheheheh

Sonhos são sempre legais e adorei o relato do seu.

Melina França disse...

O que é um homem sem sonhos?
Precisamos urgentemente sonhar, mesmo quando os sonhos são preenchidos com poliéster.
Belo texto!

Anônimo disse...

acordar para dar cor, ao que, de verdade, é sonho.

Belo.

[]´s

Anônimo disse...

huaha muito bom. principalmente as partes de poliester.
=P